Milhares protestam contra a passagem do Presidente para a chefia do Governo
Oposição acusa Serzh Sarkisian de querer continuar a controlar o poder, que ocupa desde 2008.
Pelo quinto dia consecutivo, milhares de pessoas concentraram-se no centro de Ierevan, capital da Arménia, em protestos contra a nomeação do ex-Presidente Serzh Sarkisian como primeiro-ministro. Sarkisian, no poder desde 2008, tornou-se muito impopular, e a oposição descreve este acto como uma "tomada do poder".
Os manifestantes conseguiram fazer um cerco aos edifícios do Ministério do Interior e da Procuradoria-Geral, mas a polícia impede-os de se aproximarem do Parlamento, diz a BBC. Na véspera, os confrontos entre a polícia e os manifestantes provocaram mais de 40 feridos, entre os quais seis agentes de segurança. A polícia de choque usou gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento para conter os manifestantes que tentavam passar por cima de uma vedação de arame farpado que protegia o Parlamento.
Várias estradas em Ierevan continuavam bloqueadas pelos manifestantes esta terça-feira e havia relatos de que os protestos se tinham estendido às cidades de Gyumri e Vanazdor, ambas a norte da capital.
Uma alteração constitucional aprovada em referendo em 2015 mudou o sistema de governo da Arménia, que passou de um modelo presidencial para um que atribui mais poderes ao chefe do Executivo. Um ano antes, Sarkisian tinha garantido não ambicionar ocupar o cargo de primeiro-ministro. A oposição diz agora que essa promessa foi quebrada e que esta mudança é semelhante ao que o Presidente turco, Recep Erdogan fez na Turquia, ao fazer o contrário: passou de primeiro-ministro para Presidente, mas aumentou exponencialmente os poderes do cargo presidencial, explica o Politico.
Um dos líderes da oposição, Nikol Pashinian, definiu o momento actual como “um ponto de viragem para o país”. “Peço à população de Ierevan e de outras cidades e vilas da Arménia que saiam às ruas, bloqueiem os eixos principais e comecem uma greve”, declarou durante um comício.
Os protestos começaram na sexta-feira e tinham o objectivo de impedir o Parlamento de votar a nomeação de Sarkisian, que até há duas semanas era Presidente, como primeiro-ministro.
“Algo sem precedentes está a acontecer na Arménia: a mesma pessoa quer continuar a liderar o país pela terceira vez. Não podemos deixar que isto aconteça”, disse Pashinian, que é deputado e líder do partido Contrato Civil. Porém, esta terça-feira, o Parlamento aprovou a nomeação de Sarkisian, que contou com o apoio unânime dos dois partidos mais representados, o Partido Republicano da Arménia e a Federação Revolucionária Arménia.
A primeira eleição de Sarkisian, em 2008, também gerou protestos por causa das suspeitas de fraude eleitoral e oito pessoas morreram durante os confrontos com as forças de segurança.