As sociedades na órbita da Altice moram todas juntas
Em 2012, quando foi constituída, a Altice Portugal tinha a sede no número 26-E da rua do Alecrim, em Lisboa, no mesmo endereço do escritório de advogados Macedo Vitorino e Associados. Já a morada dos seus três administradores (Armando Pereira, o sócio português de Patrick Drahi e ex-presidente da PT, Dexter Goei, um dos homens fortes de Drahi e responsável pela Altice USA, e Jérémie Bonnin, que é identificado como secretário-geral da Altice e é o único que ainda hoje se mantém no cargo) era outra: o número 37 da rua d’Anvers, no Luxemburgo.
Aquele que o Google Maps mostra ser um vulgar prédio de quatro andares, numa ainda mais vulgar rua residencial, serviu, ao longo dos anos, de morada a diversas sociedades que formam a complexa malha de relações do grupo Altice. Foi também neste endereço que em tempos declararam as suas sedes as sociedades luxemburguesas ERT Holding (casa mãe da Sudtel e da Tnord, as construtoras criadas em 2015 por Armando Pereira para trabalharem para a Meo) e a Reseaux Tel Lux, que tem como administrador José Manuel Monteiro (o português que surge à frente da JMO, a sociedade que é dona da Fibroglobal).
Estas duas empresas são as donas da ERT Luxemburgo (onde José Manuel Monteiro é igualmente administrador), que também teve a sua sede na rua d’Anvers. Segundo os registos disponíveis e consultados pelo PÚBLICO, em 2013 todas mudaram as sedes sociais para o número 3, do boulevard Royal, onde durante bastante tempo esteve localizada a sede da antiga Altice SA, antes de Patrick Drahi ter trocado o Luxemburgo por Amesterdão (criando uma nova holding, a Altice NV).
Ao lado de José Manuel Monteiro na ERT Luxemburgo está o francês Alain Vauthier, amigo de corridas de rally de Armando Pereira. Foi Vauthier (que também é administrador da ERT Holding) que criou, em Dezembro de 2015, a PV International Partners – cujo capital social de 12.500 euros aparece no acto de registo como tendo sido realizado por transferências da ERT Holding. A PV (que é então detida pela ERT Holding) é a accionista única da Parilis (a dona da Tnord e da Sudtel), cujo controlo exclusivo a Altice adquiriu em 2016 (apesar de as ligações entre as empresas aparentarem ser muito anteriores).
Esta operação foi analisada e autorizada pela Autoridade da Concorrência em Portugal e, numa operação semelhante em França, pela Autorité da la Concurrence. Segundo o regulador francês, nesse mercado a Parilis controla a ERT Technologies e esta, de acordo com uma decisão de um tribunal francês sobre fraude fiscal que o PÚBLICO encontrou disponível online, é detida a 100% pela ERT Holding France, que por sua vez é controlada pela ERT Luxemburgo (onde José Manuel Monteiro, o presidente da Fibroglobal, e Alain Vauthier, o amigo de Armando Pereira, são administradores).
A PV Investment, a Parilis e a JMO (estas duas criadas com dois dias de diferença, em Março de 2016) partilham todas a mesma morada: o número 7 da rua Robert Stumper, no Luxemburgo.
Nesta história cabe ainda uma sociedade defunta: a Arcitaura Redetelecomfib, que na sua decisão de 2016 a AdC identificou como outra das subsidiárias portuguesas da Parilis. Com sede em Vila Franca de Xira, foi criada em 2011 e dissolvida em 2015, mas enquanto existiu teve como sócio-gerente José Manuel Monteiro e, como empresa-mãe, a ERT Holding France.
Resta ainda dizer que, em Maio do ano passado a Fibroglobal transferiu a sua sede para um edifício em Entrecampos onde, ao longo dos anos funcionaram diversas empresas da antiga PT, e que, além de José Manuel Monteiro, tem na sua administração o gestor da Altice Portugal, João Zúquete da Silva.