Viagens duplamente pagas precipitaram saída de deputado da AR que já estava decidida

Antes de ter renunciado ao mandato, Paulino Ascenção já havia prometido que sairia do Parlamento a "breve trecho", o que poderia acontecer entre o Verão e Novembro. Ex-deputado mantém-se como coordenador do BE na Madeira.

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GREGÓRIO CUNHA

A promessa foi deixada há cerca de dois meses: se fosse eleito coordenador do Bloco de Esquerda na Madeira, renunciaria ao cargo de deputado "a breve trecho". Quem o disse e prometeu foi Paulino Ascenção, o deputado do BE que se demitiu esta segunda-feira por ter sido um dos eleitos das ilhas que recebeu subsídios por viagens pagas pela Assembleia da República. 

Ao PÚBLICO, o deputado diz que é uma "decisão independente" do restante, mas que é mais fácil agora gerir a saída e o regresso à Madeira "uma vez que já havia essa pré-disposição". "Não estava ainda decidido o momento para isso acontecer. Seria sempre uma questão de tempo, mas apenas seria pelo Verão ou depois do Orçamento do Estado", confirma.

A decisão de sair da Assembleia da República seguia a ordem natural das coisas: eleito coordenador do BE em Março, Paulino Ascenção será o candidato do partido às regionais do início do ano e, como tal, logo aquando da sua candidatura comunicou, num debate entre os candidatos ao mesmo cargo, que renunciaria ao mandato no Parlamento nacional.

"A breve trecho vou ter de renunciar ao lugar na Assembleia da República para me dedicar mais de perto à tarefa que é fundamental do BE na Madeira, para mudar esta realidade de submissão do governo aos interesses privados. Terei de estar aí presente. A breve trecho essa decisão será colocada junto da direcção regional e da bancada parlamentar de Lisboa", disse Paulino Ascenção a 23 de Fevereiro.

Dias mais tarde, a 7 de Março, já depois de ter sido eleito para o cargo, Paulino Ascenção disse ao Diário de Notícias da Madeira que não seria uma saída do Parlamento no "imediato" e que deveria acontecer entre "o Verão ou após a aprovação do Orçamento do Estado", o que levaria a sua saída para os meses entre Junho e final de Outubro.

Ora, a polémica com o duplo pagamento das viagens precipitou uma decisão que, na verdade, já estava tomada, acelerando o seu calendário. Mas não o levará à saída de cargos partidários. Paulino Ascenção vai continuar a ser o coordenador do BE na Madeira. Questionado pelo PÚBLICO se considera ter condições para continuar, responde: "Sim, considero", uma vez que a questão das viagens decorre do cargo de deputado.

Seria, aliás, esse o mote para sair de Lisboa. Para ser candidato na Madeira precisava de estar mais presente e as idas a Lisboa retiravam-lhe o tempo necessário para montar a campanha na região autónoma. A saída do Parlamento depois da polémica das viagens acaba por servir ao bloquista que garante que vai tentar corrigir a situação junto da Inspecção Geral das Finanças. Paulino Ascenção não tem ainda o valor total do que lhe foi pago em Subsídio Social de Mobilidade, mas quer devolvê-lo, só ainda não sabe se o pode fazer. 

Depois da notícia do Expresso, que dava conta de que os deputados das ilhas viam as suas viagens duplamente pagas, Paulino Ascenção foi o único parlamentar a decidir sair da Assembleia da República. O BE recusa comentar mais o assunto e remete para o comunicado do agora ex-deputado. Nesse comunicado, divulgado esta segunda-feira de manhã, o ex-deputado pede desculpas pela "prática incorrecta".

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