Desobedoc abre sala de cinema desactivada em Viseu

Mostra de cinema insubmisso arranca em Maio em Viseu e vai estender-se a outras cidades do país. O Desobedoc vai ocupar uma sala que está fechada ao público há mais de uma década

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“O Desobedoc é uma mostra de filmes e documentários que têm uma relação com as lutas sociais e memória de combates políticos", diz José Soeiro Manuel Roberto

O Desobedoc – mostra de cinema insubmisso – vai abrir uma antiga sala de cinema em Viseu. Promovido pelo BE, este ano o encontro realiza-se entre os dias 1 e 5 de Maio e conta com mais de 20 filmes, documentários, concertos e performances. À semelhança do que aconteceu no Porto com o Trindade e o Batalha, esta iniciativa quer reactivar, ainda que temporariamente, espaços que deixaram de ser usufruídos pela população.

A base deste encontro vai ser a Sala de Cinema Ícaro, que abriu em 1994 e encerrou em 2005, e que ainda se mantém intacta com a tela e as cadeiras montadas. Desde o encerramento que o espaço, que está dentro de um centro comercial no centro da cidade de Viseu, não voltou a abrir as portas. Houve várias associações interessadas em reactivar a sala mas nada se concretizou.

“O Desobedoc, por um lado, é uma mostra de filmes e documentários que têm uma relação com as lutas sociais e memória de combates políticos, mas é também um gesto concreto de desobediência e de resistência cultural por via da devolução, ainda que temporária, de salas encerradas para que as pessoas as possam utilizar, para que essas salas voltem a ter filmes, para que se possa mostrar a produção cinematográfica”, explica José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda.

O bloquista deu como exemplo os cinemas Trindade e Batalha, no Porto, que depois de receberem edições anteriores do Desobedoc são salas que voltaram a ser ocupadas.

“Este ano resolvemos fazer em Viseu, também com a mesma lógica”, disse, acrescentando que a escolha da “sede” desta mostra de cinema aparece também numa “lógica de descentralização e aposta nos territórios do Interior”.

Além de Viseu, o Desobedoc vai estar presente com sessões de cinema em Braga, Coimbra, Évora e Vila Real.

A programação passa por vários temas. “Há documentários que põem em debate a memória e o legado de Maio de 68 que faz 50 anos. Teremos No Intenso Agora de João Moreira Salles. Haverá filmes sobre a questão LGBT, sobre as temáticas do trabalho e haverá clássicos de cinema que vamos voltar a mostrar como o Zero em Comportamento de Jean Vigo e que é um hino à insubmissão. Teremos também um filme musicado por Chullage”, desvendou José Soeiro.

A abertura da mostra de cinema acontece com o documentário Geração Feliz de Leonor Areal e contará com uma performance sobre cadeiras, no ano em que se assinala o meio século da queda de Salazar da sua cadeira.

No centro comercial, os espaços livres serão ocupados por artistas e associações que ao longo dos dias do Desobedoc poderão dar a conhecer as suas actividades. Para o dia 2 de Maio está prevista uma conversa intitulada “Já Marchavas” com várias associações locais e organizadores das marchas LGBT de Bragança e Vila Real.

Todos os filmes vão ter um convidado a apresentar o que vai ser visto e vários realizadores vão estar presentes. O Cine Clube de Viseu e o espaço Carmo'81 associam-se também ao Desobedoc.

A iniciativa tem o apoio e parcerias do Cine Clube de Viseu, Shortcutz Viseu, Cinema 7ª Arte, DocLisboa, CAOS, Sala 5, Cacimbo, Olho Vivo Viseu, UMAR Viseu, LGBTI Viseu, Catarse, Movimento LGBT+ de Bragança.

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