“Brunistas” dão benefício da dúvida a Bruno de Carvalho

Depois de ouvir assobios em Alvalade, presidente do Sporting deixou o Facebook, mas, numa das suas últimas mensagens, disse que será ele próprio a pedir uma AG para que os sócios “leoninos” digam o que pensam. Há quem continue a seu lado e há quem diga que já não tem condições para continuar.

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Bruno de Carvalho Nuno Ferreira Santos

Da aclamação aos assobios em menos de dois meses. Bruno de Carvalho saiu da assembleia geral de Fevereiro passado com uma aprovação quase unânime por parte dos sócios do Sporting, mas neste domingo o que se ouviu em Alvalade foram assobios, e muitas vozes que antes o defendiam passaram a considerar que não tem condições para se manter como presidente dos “leões”. Uma assembleia geral (AG) extraordinária parece ser uma inevitabilidade e nela voltará a referendar-se a liderança do actual presidente, que, numa das suas últimas mensagens no Facebook antes de cancelar a sua conta, disse que será ele próprio a pedir uma AG, como reacção ao últimato de Jaime Marta Soares, presidente da mesa da AG, durante a manhã: ou ele se demite, ou irá convocar uma AG para destituir a direcção.

Foram quatro dias explosivos na vida do Sporting, desde a derrota em Madrid até esta segunda-feira, em que se percebeu que o clube está dividido entre os que apoiam o actual presidente e os que estão contra ele. Mais difícil de avaliar é a medida dessa divisão e muitos sportinguistas que têm estado do lado de Bruno de Carvalho contactados pelo PÚBLICO preferiram responder com um “sem comentários” sobre a actual situação do Sporting. Outros, como Marta Soares, ou Jorge Gaspar (que se demitiu do conselho fiscal e disciplinar), passaram da situação à oposição. Outros mantêm-se “brunistas”, mas fazendo um apelo ao presidente para que apresente uma solução.

O deputado Hélder Amaral, eleito para o conselho leonino na lista de Bruno de Carvalho, diz que ainda há margem de manobra para que o actual presidente contribua para ajudar a solucionar um problema que ele próprio criou. “É sobre o presidente que recai a maior responsabilidade, mesmo não concordando com a acção do presidente da mesa da AG e dos jogadores. A solução tem de partir de Bruno de Carvalho, porque também foi ele que inventou problemas”, disse ao PÚBLICO o deputado. “Vou dar-lhe o benefício da dúvida, porque considero que os problemas são mais graves e mais profundos do que o que é visível. Espero que ele tenha capacidade de recuar. Neste momento, o modelo de exercício de poder de Bruno de Carvalho é contra ele próprio.”

Quem também saiu em defesa de Bruno de Carvalho foi Eduardo Barroso, igualmente um apoiante de longa data do líder sportinguista e antigo presidente da mesa da AG. O médico diz que Bruno de Carvalho está em “burnout, em stress brutal” e que o clube está imerso num “problema criado” por Bruno de Carvalho. “Um presidente não devia ter feito aquilo. Fez mal. Como já tinham feito mal os jogadores, que tinham combinado uma reunião para domingo para esclarecer aquilo e fizeram antes o comunicado. Eu adoro os nossos jogadores. Adoro o Coentrão, adoro o Gelson, adoro o Patrício. Adoro também o Jesus. Mas o Bruno de Carvalho está legitimado”, reforçou Eduardo Barroso em entrevista à SIC.

Foi ao início da tarde que Bruno de Carvalho anunciou a sua saída do Facebook depois de vários dias de publicações que o colocaram em choque frontal com a equipa profissional de futebol e que conduziram aos assobios em Alvalade no jogo com o Paços de Ferreira. “Para mim terminou de vez esta guerra surda de vos querer informados pelo meu único canal de informação próprio, o meu Facebook. […] Que este meu afastamento do Facebook seja a vossa felicidade”, escreveu Bruno de Carvalho.

Esta já não é a primeira que o líder “leonino” abandona a rede social. Antes, fez o mesmo durante alguns meses depois de duras críticas na sequência de uma derrota do futsal “leonino” e que motivaram, na altura, a demissão de Vicente de Moura, à época vice-presidente do Sporting para as modalidades. Desta vez, garantiu Eduardo Barroso, será a valer: “Disse-me que era definitivo e essa é condição fundamental para continuar a ser presidente do Sporting. Já não há mais Facebook.”

O que pode acontecer

Durante a manhã desta segunda-feira, Jaime Marta Soares disse que estavam “esgotadas as hipóteses da manutenção” de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting e que iria pedir a convocação de uma AG para destituir a direcção do clube – e uma das últimas mensagens de Bruno de Carvalho no Facebook foi a falar da “traição” do antigo autarca de Vila Nova de Poiares e a referir a sua intenção de convocar uma AG para os sócios se pronunciarem sobre os órgãos sociais separadamente.

O artigo 40.º dos estatutos do clube prevê que “o mandato dos órgãos sociais é revogável individual ou colectivamente” e “depende da justa causa e é deliberada em AG comum”. Ao final da noite desta segunda-feira a Holdimo, que detém 29,8 por cento da SAD do Sporting (segundo maior accionista, depois do clube), anunciou que deseja uma AG urgente da sociedade.

Se (e quando) houver uma AG extraordinária, saber-se-á nos próximos dias. E saber-se-á se Bruno de Carvalho mantém os níveis de aprovação entre os sportinguistas de perto dos 90 por cento, como teve nas últimas eleições e na última AG, e se a oposição deixa de ter uma expressão quase marginal. O que já está agendado até ao fim da época são os muitos compromissos da equipa de futebol, que, com toda a turbulência associada, ainda está na luta por muita coisa esta época. Está a seis pontos da liderança, com cinco jornadas do campeonato (e 15 pontos) por disputar, tem uma meia-final da Taça de Portugal em Alvalade para recuperar, depois da derrota por 1-0 no Dragão.

No imediato, tem já nesta quinta-feira a missão de dar a volta a uma derrota em Madrid que, como se percebeu pelos dias seguintes, foi bem mais do que uma derrota desportiva, com os jogadores a enfrentarem processos disciplinares depois de terem respondido de forma unânime em defesa do seu profissionalismo e contra a exposição pública de um conflito. Essa união ficou, aliás, bem patente, na celebração dos golos e da vitória frente ao Paços de Ferreira, e com Jorge Jesus a ficar do lado dos jogadores sem afrontar Bruno de Carvalho de forma declarada.

Não se sabe se Bruno de Carvalho vai voltar a estar no banco de suplentes, como tem feito desde que chegou à liderança do Sporting, e sujeitar-se a nova onda de contestação por parte dos adeptos que o assobiaram e aplaudiram a equipa. As claques organizadas já fizeram saber que não vão assumir nenhuma posição de apoio ou contestação ao presidente, apenas de apoio à equipa.

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