“Só temos uma via, construir a República catalã, dentro ou fora”

Representantes de todos os partidos independentistas estiveram em Lisboa numa sessão de solidariedade com os políticos da Catalunha na cadeia.

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Puigdemont, sábado em Berlim, com deputados e outros apoiantes Hannibal Hanschke/Reuters

O historiador Agustí Colomines não precisa de deixar passar mais tempo. Já sabe que "o referendo de 1 de Outubro foi a manifestação democrática mais importante na Catalunha”. Aconteça o que acontecer. “Para a nossa geração, para quem viveu o 1 de Outubro, é o equivalente ao que foi a chegada da democracia para os nossos pais e a guerra de 1936 para os nossos avós”.

Colomines também é político, deputado eleito em Dezembro na Coligação Juntos pela Catalunha (JxC), liderada a partir de Bruxelas por Carles Puigdemont, o líder destituído por Madrid depois de declarar a independência e organizar o referendo de 1 de Outubro.

Como Colomines, todos os independentistas catalães que na sexta-feira à noite passaram por Lisboa para uma sessão de solidariedade “com os presos políticos” continuam a referir-se a Puigdemont como president.

A sessão decorreu no Auditório Almeida Santos da Assembleia da República, uma sala com 200 lugares que não foram suficientes para a audiência que quis ouvir representantes dos três partidos independentistas e da Associação Nacional Catalã, a maior organização civil pró-independência.

A iniciativa, aberta pelo politólogo André Freire e encerrada pelo historiador Fernando Rosas, segue-se ao abaixo-assinado que ambos (e Manuel Loff) promoveram a exigir a liberdade dos políticos catalães, um manifesto assinado por deputados do Bloco de Esquerda, do Partido Socialista, do Partido Comunista, pelo deputado do PSD Ulisses Pereira e pelo deputado do PAN, André Silva, entre muitos outros. Na sessão de sexta-feira, os catalães tiveram na mesa a seu lado o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro e a bloquista Isabel Pires.

Colomines, protagonista de uma das intervenções mais aplaudidas, quis sublinhar que “a luta da Catalunha é a luta dos direitos cívicos e políticos de todos”.

“Só temos uma via, construir a República. É isso ou a morte. Seja dentro ou fora do país”, afirmou. Para Colomines, é urgente que os deputados do parlamento autonómico consigam investir um presidente, mas diz que “esse será apenas instrumental” e “servirá para recuperar a autonomia” – referindo-se assim ao artigo 155 da Constituição, que permitiu a Madrid assumir a governação da Catalunha e que ficará em vigor até à formação de um governo.

Não é preciso Puigdemont

“Não precisamos de Carles Puigdemont na Catalunha. Se for o caso, começamos a construir a República lá fora”, disse Colomines. Em declarações ao PÚBLICO, o deputado afirmou acreditar que vai ser possível formar um novo executivo “em duas semanas”, admitindo que isso possa acontecer sem o apoio da CUP (Candidatura de Unidade Popular).

Depois de terem tentado e falhado investir Puigdemont (que não apareceu em Barcelona), Jordi Sànchez (ex-líder da ANC e “número dois” da JxC, que o juiz não deixou sair da cadeia para ir ao Parlamento), os dois grandes grupos parlamentares independentistas, JxC e ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), viram os quatro deputados da CUP chumbar a investidura de Jordi Turull, entretanto preso.

Da prisão de Sànchez, a 16 de Outubro, falou Adrià Alsina, da ANC, que recordou que só pôde abraçá-lo e desejar-lhe “boa sorte” antes de o ver entrar na Audiência Nacional de Madrid. Sànchez, acusado de “sedição” por causa de uma manifestação a 20 de Setembro, prestara declarações de manhã; no regresso à sala do tribunal, à tarde, a juiz Carme Lamela ordenou a sua prisão preventiva sem possibilidade de fiança.

Agradecendo a “normalidade destes dias” a um representante da embaixada de Espanha que viu entre a assistência, o deputado da ERC Ferran Civit disse ter começado a semana “com membros da Generalitat no exílio” e que a terminaria sábado, na cadeia de Estremera, a visitar “o vice-presidente da Generalitat” destituído (e presidente do seu partido), Oriol Junqueras. “É esta a normalidade que me permite o Estado espanhol”, afirmou.

Mireia Cantenys, da CUP, celebrou a decisão dos juízes alemães, que não admitiram a acusação de rebelião na petição de entrega de Puigdemont emitida pela Justiça espanhola. “Esta semana, o Estado espanhol foi um pouco mais desmascarado”.

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