A cela "especial" que prepararam para Lula em Curitiba

Caso se entregue em Curitiba, Lula vai ter um quarto individual, com casa-de-banho privativa e sem grades. Também vai estar separado dos outros reclusos e vai ter um horário diferente para os momentos de lazer.

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Lula da Silva acena aos apoiantes que se juntaram em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos LUSA/MARCELO CHELLO

Um quarto com 15 metros quadrados, casa de banho privativa, armário embutido, cama de solteiro e uma mesa, em Curitiba. Esta é a descrição do quarto onde as autoridades brasileiras querem colocar Lula da Silva para cumprir a pena de 12 anos e um mês a que foi condenado. A sala não tem grades na porta nem nas janelas e está isolada da zona onde estão os outros reclusos. O “tratamento especial” do ex-Presidente foi decretado pelo juiz Sergio Moro, mas as condições só serão garantidas de Lula se entregar até às 17h locais (21h em Lisboa) em Curitiba, a 7h de carro de São Bernardo do Campo – o que, segundo o ex-Presidente, não vai acontecer

O ex-Presidente brasileiro teria direito a ficar numa sala do Núcleo de Inteligência Policial, um antigo dormitório para os polícias federais que se deslocavam de outras localidades para Curitiba, no edifício da Superintendência da Polícia Federal. A sala foi alterada por ordem do juiz Sérgio Moro. No despacho, Moro escreveu que “em razão da dignidade do cargo ocupado” se reservou “uma espécie de Sala de Estado Maior” para separar Lula dos outros reclusos, reduzindo os riscos para a integridade moral ou física do ex-Presidente.

A chamada "Sala de Estado Maior" é prevista por lei para situações de prisão preventiva de alguns profissionais do Direito ou figuras de Estado. O caso de Lula foge ao que consagra a lei por não se tratar de uma prisão provisória, mas do cumprimento de pena, escreve o jornal Globo.

De acordo com o Folha de S. Paulo, o director-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, quis dar “alguma dignidade” à sala onde vai ficar Lula durante o seu tempo de prisão, por ser a primeira vez que um ex-chefe de Estado está preso. As condições da cela de Lula foram negociadas entre a Polícia Federal e três pessoas próximas do ex-Presidente, relata o mesmo jornal.

A sala, alterada para ser um quarto, fica no quarto piso do edifício da Superintendência da Polícia Federal. A Custódia, onde estão os outros reclusos, fica no segundo andar – é lá que estão Antônio Palocci, ex-ministro; Léo Pinheiro, sócio da OAS (também ele condenado no processo Lava-Jato) e Renato Duque, director da Petrobrás. O ex-Presidente vai ser vigiado 24 horas por dia, por agentes da Polícia Federal que se vão revezar para garantir a sua segurança.

Apesar das excepções, as regras vão ser as mesmas para o ex-chefe de Estado: as visitas são às quartas-feiras e as horas de sol são limitadas a apenas duas por dia. Só os horários serão diferentes das dos outros reclusos. 

Lula da Silva tem até às 17h desta sexta-feira para se entregar à Polícia Federal em Curitiba, mas já avisou que não o vai fazer. Sérgio Moro ordenou que não fosse algemado e que se entregasse de livre vontade.

"Tudo vai dar certo"

O ex-Presidente foi surpreendido pelo mandado de prisão enquanto estava numa reunião no Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em S. Paulo. Pouco tempo depois dirigiu-se para a Sede dos Metalúrgicos, o seu “berço político”, de onde não saiu mais. Os seus apoiantes começaram a reunir-se aí, às dezenas, onde permaneceram durante a noite em vigia.

À saída do local, o Partido Trabalhista instalou um carro com colunas de som. Durante a noite, várias figuras da elite do Partido dos Trabalhadores, como a ex-Presidente Dilma Rousseff ou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, discursaram em defesa de Lula – mas não o ex-Presidente, que manteve o silêncio e não falou com os jornalistas. Escreve o Estadão que Lula saiu à rua pelas 2h da madrugada, mas para cumprimentar alguns apoiantes, como comprovam os vídeos que começaram a circular nas redes sociais.

"Fique tranquila. Tudo vai dar certo. Os justos vencerão", disse Lula da Silva, abraçado a uma apoiante, que chorava. Ao fundo, ouviram-se palavras de coragem: “Força, Lula” e “Você é o nosso paizão”.

Várias outras manifestações de apoio foram convocadas pelo Partido dos Trabalhadores e por outros movimentos de esquerda, especialmente nos meios rurais. Da mesma forma, vários grupos de direita estão a aproveitar o sentimento anti-Lula para marcar manifestações de apoio à prisão do ex-Presidente, nomeadamente em Brasília e nos bairros nobres de São Paulo, onde durante a noite se festejou o mandado de prisão.

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