"Muitos deviam sentir vergonha" pelo mundo que deixam, diz o Papa

Num ambiente de alta segurança, em alerta pelo risco de atentados terroristas, e no meio de uma polémica sobre o Inferno, Francisco volta a lançar alertas.

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Papa fala no início da procisão da Via Sacra Remo Casilli/REUTERS
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Papa na Basílica do Vaticano Max Rossi/REUTERS

O Papa Francisco conduziu as cerimónias da Sexta-Feira Santa no Vaticano sob apertada segurança, por causa de ameaças de atentados terroristas em Roma – houve quatro rusgas policiais esta semana em busca de terroristas islâmicos e sete pessoas foram presas, incluindo um suspeito de estar a preparar um ataque com camião.

As 20 mil pessoas que assistiram à tradicional procissão da Via Sacra, liderada pelo Papa, tiveram por isso de se submeter a mais controlos de segurança. O discurso de Francisco, feito no início da procissão, à luz das velas, que recorda o caminho de Jesus Cristo para o calvário, centrou-se nos temas da vergonha e do arrependimento, conjurando a imagem de um mundo moderno em que o orgulho, a arrogância e o egoísmo passam muitas vezes por cima da humildade e da generosidade.

O Papa confessou “vergonha porque tantas pessoas, até alguns dos nossos ministros [de Deus], deixam-se enganar pela ambição e pelas vãs glórias, perdendo o seu valor”.

Muitos no mundo deveriam hoje sentir “vergonha por terem perdido o sentido da vergonha”, disse Francisco, acrescentando que a vergonha devia ser vista como “uma graça de Deus”. Deveriam sentir vergonha porque “as nossas gerações estão a deixar aos jovens um mundo fracturado em divisões e guerras, um mundo devorado pelo egoísmo”, disse o líder dos 1200 milhões de católicos.

Num tom mais pessoal, Francisco, que tem 81 anos, revelou que tem cataratas, e que deverá ser operado no próximo ano.

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Foi erguida uma cruz gigante iluminada de velas junto ao Coliseu de Roma para a Via Sacra ALESSANDRO DI MEO/EPA

No domingo de Páscoa, o Papa divulgará ainda a sua mensagem Urbi et Orbi (para a cidade e para o mundo).

As comemorações solenes coincidem com uma nova controvérsia de comunicação no Vaticano sobre uma alegada afirmação do Papa de que o Inferno não existe.

"O Inferno não existe, o que existe é o desaparecimento de almas pecaminosas", terá dito em entrevista concedida a Eugenio Scalfari, fundador do jornal italiano La Repubblica. O Vaticano não negou a afirmação do Papa, mas disse que o jornalista, que fará 94 anos em Abril, reconstruiu uma conversa.

Scalfari é amigo do Papa desde 2013, declarou o Vaticano, observando que Francisco recebeu o jornalista, mas não para uma entrevista formal. "Nenhuma frase colocada entre aspas [na entrevista] deve ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre", 

Scalfari, que é conhecido por não tomar notas, perguntou ao Papa para onde vão as "más almas" quando morrem e relata a resposta de Francisco desta forma: "Não são punidas. As que se arrependem recebem o perdão de Deus e tomam o seu lugar entre as que o contemplam, mas que não se arrependem e não podem ser ser perdoadas desaparecem para sempre. O Inferno não existe, mas o desaparecimento das almas pecadoras existe", relata o Guardian.

O catecismo oficial da Igreja Católica diz que o Inferno existe - o Papa Bento XVI declarou-o em 2008, contradizendo o que disse o seu antecessor, João Paulo II, segundo a qual o Céu e o Inferno não são lugares físicos.

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