Em tempos, as vidas de Fátima Meireles e Joana Rocha corriam paralelas. As duas resgatavam gatos abandonados nas suas zonas de residência, Esposende e Valongo, oferecendo-lhes cuidados de saúde como vacinação e esterilização. Depois, integravam-nos no circuito de adopção de cada um dos seus projectos, Miau Maria e Pelos Bigodes. Uma adoptante reconheceu uma paixão em comum e a partilha de uma causa e serviu de ponte entre Fátima e Joana. Foi desse encontro que nasceu O Porto dos Gatos, o restaurante vegetariano que é também o primeiro cat café do Porto. “Este é um espaço de restauração onde não há nada de origem animal”, começa por contar Fátima Meireles. “Queremos sensibilizar as pessoas tanto para a defesa dos direitos dos animais como para a alimentação com produtos de base vegetal.”
Sem experiência na área da restauração (Fátima era auxiliar veterinária e Joana arquitecta), as duas sócias serviram-se da sua bagagem enquanto vegetarianas para construir a ementa onde cada item corresponde ao nome de determinada raça de gato. Além do menu do dia, que fica entre 5,50€ e 8,50€ com opção de entrada, sopa, prato e bebida, há hambúrgueres feitos em bolo do caco como o Bombaim (base de feijão preto), Colorprint (grão-de-bico) e o Foldex (lentilhas vermelhas), com o preço único de 7€. Para o almoço, há também tostas entre 3,50€ e 4€ como a Ragdoll (pão saloio, cogumelos frescos, pimento assado, rúcula e queijo feta vegetal) e Pixie-bob (pão saloio, tomate, manjericão fresco, queijo fumado vegetal e orégãos). Outros petiscos ou, melhor dizendo, “gatiscos”, incluem gatinhos da horta (versão vegan de peixinhos da horta), espinafres salteados, beringela laminada ou trouxinhas de alheira vegetal.
Joana Rocha destaca a sexta-feira como “a noite da francesinha”, pois é o único dia da semana em que o restaurante está aberto para jantar (funciona entre 14h30 e as 23h30, ao contrário dos restantes dias, em que está aberto entre as 10h e as 20h). Os adeptos da iguaria portuense podem optar pela Europeu Comum (9€), uma francesinha “mais consistente que tem mais ‘enchidos’” e que leva seitan, salsicha vegetal, chouriço picante vegetal e queijo fumado vegetal e molho, ou pela Sphynx (8€), que, tal como o gato franzino e sem pêlo que lhe dá nome, é mais leve e “é baseada em legumes” como a beringela, pimento assado e cogumelos. A carta inclui ainda o CAT’chorro e o CAT’chorro especial, com molho de francesinha, a 6€ e 7€.
Para beber, há chás e sumos naturais, vinhos, cerveja e bebidas espirituosas. Dentro da cafetaria habitual, há café, leite vegetal de amêndoa ou de soja com chocolate e meia de leite, que podem ser pedidos para acompanhar torradas ou scones barrados com manteiga vegetal, xarope de agave ou compotas. A montra de bolos deverá ser rotativa, mas o bolo de frutos secos e cenoura, o brownie e o pastel de nata — sem ovos ou leite — já são gulodices residentes do cat café. Além da componente vegan, alguns doces não levam sequer açúcar, como os scones de cenoura e tâmaras. “Tentamos ir ao encontro do que as pessoas procuram e elas cada vez mais procuram opções saudáveis”, justifica Fátima.
Fausto e Cuca procuram um final feliz
Fátima e Joana afirmam sem hesitar que “este é, em primeiro lugar, um espaço de restauração” e que o convívio com os gatos é deixado ao critério de cada um. Por esse motivo, os felinos encontram-se separados da sala principal por uma parede de vidro, podendo circular livremente no pátio exterior e, quem sabe, saltar para o colo de um possível dono. “Todos os gatos estão aqui para adopção”, esclarece Joana Rocha. “Não seria justo para eles ficar eternamente, porque tê-los aqui não é um negócio.”
Ao contrário de espaços como o Aqui Há Gato, o primeiro cat café português, que abriu em 2016 e encerrou alguns meses depois, ou o Pet & Tea, que abriu em 2017, em Coimbra, o Porto dos Gatos não fixa um preço para entrada na área dos gatos, mas limita-o ao consumo feito no espaço de restauração (que não tem um valor mínimo). Para não-vegetarianos, o cartão-de-visita da casa será certamente a companhia de gatos residentes como Fausto, Cuca, Jaime ou Pires, animais provenientes da associação Vida de Gato (projecto conjunto de Fátima e Joana), de canis municipais ou da rua. “A nossa grande preocupação é proporcionar-lhes qualidade de vida, porque todos eles têm histórias de vida infelizes”, reconhece Fátima. É para assegurar a tranquilidade dos gatos da casa que pretendem evitar-se as enchentes.
O Porto dos Gatos é um verdadeiro porto de abrigo para os animais, que ali têm a oportunidade de encontrar um lar permanente, mas é também uma casa construída de cima a baixo pelas quatro mãos que a pensaram. Todos os móveis, cadeiras e mesas fazem lembrar peças que encontraríamos numa loja de antiguidades e não é por acaso — todos foram obtidos em segunda mão. “Nós restaurámos, montámos e envernizámos tudo, porque acreditamos em dar uma nova vida ao que já pode ser considerado lixo por outras pessoas.” Do forro colorido com padrão de gatos das cadeiras às almofadas e aos aventais, tudo tem mão de Fátima e Joana.
Ainda agora abriu portas, mas o cat café já tem os olhos postos no futuro. O objectivo é promover acções de sensibilização, realizar exposições, vender postais e organizar eventos como ioga com gatos. As receitas reverterão a favor da Vida de Gato para que Fátima e Joana possam seguir com a missão que as juntou: tirar mais animais da rua e dar-lhes um final feliz.