Zuckerberg admite que Facebook errou e promete auditoria a milhares de aplicações
O fundador da maior rede social do planeta quebrou o silêncio sobre o escândalo que envolve a empresa Cambridge Analytica para reconhecer que a empresa cometeu erros e que tem de fazer mais para garantir a segurança dos dados de utilizadores.
Depois de cinco dias em silêncio desde que rebentou o escândalo, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg abordou pela primeira vez em público o caso que envolve a sua rede social e a empresa Cambridge Analytica na recolha de dados de milhões de utilizadores do Facebook para efeitos de propaganda política.
Numa mensagem publicada no seu próprio perfil, Mark Zuckerberg reconhece "erros" que levaram à recolha de informações pessoais de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook, em 2014 e 2015. Diz também que o caso demonstra uma "quebra de confiança entre a Cambridge Analytica e o Facebook" e, mais grave, uma "quebra de confiança entre o Facebook e os utilizadores que partilham os dados pessoais connosco e que esperam de nós que os protejamos. Temos de corrigir isto”, sublinha, após cinco dias sem se pronunciar sobre o escândalo, que foi desvendado no fim-de-semana passado.
"Temos a responsabilidade de proteger os dados e se não o conseguimos fazer então não merecemos servir-vos", começa por escrever Zuckerberg, dirigindo-se aos utilizadores, apresentando depois o historial do caso, com uma cronologia de como o Facebook começou a trabalhar com a Cambridge Analytica. Antes de desenrolar o fio dos acontecimentos, sublinha que tem estado “a trabalhar para perceber exactamente o que aconteceu e como garantir que isto não se repita. Depois, acrescenta que “a boa notícia é que as acções mais importantes para prevenir que isto volte a acontecer já foram tomadas há anos”. Porém, reconhece que "também foram cometidos erros, há mais a fazer e temos de meter mãos à obra e fazê-lo.”
Zuckerberg conta que em 2013 foram abordados por um investigador de Cambridge, Aleksandr Kogan, que propôs a criação de um teste de personalidade que foi descarregado por cerca de 300 mil pessoas que partilharam os seus dados “bem como os de alguns amigos”. “Dada a forma como a nossa plataforma funcionava, Kogan podia aceder a dados de dezenas de milhões de amigos”, reconhece. Dois anos depois, em 2015, a rede social foi alertada pelo jornal Guardian de que esses dados tinham sido partilhados com a empresa Cambridge Analytica, cujo presidente foi afastado esta semana. A tal aplicação de Kogan foi banida e o Facebook exigiu que fosse formalmente certificado que os dados “obtidos de forma irregular foram apagados”, recorda o fundador do Facebook. “Esses certificados foram apresentados.”
Só que, “na semana passada, descobrimos através do Guardian, New York Times e do Channel 4 que a Cambridge Anaytica poderá não ter apagado os dados como haviam garantido. Expulsámos imediatamente a empresa de todos os nossos serviços”, garante Zuckerberg. O fundador do Facebook diz ainda ter recebido a garantia por parte da consultora de que os dados já foram apagados e que a Cambridge Analytica aceitou sujeitar-se a uma auditoria conduzida por uma empresa contratada pelo Facebook.
“Isto foi uma quebra de confiança entre Kogan, Cambridge Analytica e o Facebook. Mas também foi uma quebra de confiança entre o Facebook e as pessoas que partilham os seus dados”, sublinha.
Entre as medidas anunciadas, Zuckerberg afirma que irá “investigar todas as aplicações que tiveram acesso a largas quantidades de informações antes das alterações feitas à plataforma em 2014”. Além disso, será feita uma auditoria a todas as aplicações com actividades suspeitas”. Todas as aplicações que não concordarem com a auditoria serão banidas.
Outra mudança será a restrição no acesso à informação conseguida por registo, “para prever outro tipo de abusos” e a eliminação do acesso aos dados pessoais por parte de empresas terceiras quando alguém não usa uma aplicação em três meses.
Por fim, Zuckerberg pretende encorajar os utilizadores a gerirem as aplicações e disponibilizará uma nova ferramenta em Abril para que seja mais fácil para se revogar as permissões de acesso à informação dadas no passado. “Já temos uma ferramenta para o fazer, mas vamos garantir que todos a irão ver”, esclarece.
As declarações de Zuckerberg surgem após um silêncio de cinco dias, assinalado até pela primeira-ministra britânica. "Alguém tem de tomar responsabilidade por isto. É altura de Mark Zuckerberg deixar de se esconder atrás da sua página de Facebook", notou Theresa May, num comunicado emitido na segunda-feira, horas depois de ter sido conhecido o escândalo.