Lobo d’Ávila despede-se do Parlamento: o futuro no CDS “só Deus sabe”
Deputado que é crítico da líder do partido deixa o Parlamento, mas não a "vida política". Assunção Cristas aplaudiu o discurso de despedida.
Assunção Cristas levantou-se do seu lugar na frente da bancada e foi cumprimentar com um abraço Filipe Lobo d’ Ávila que estava sentado na terceira fila, momentos depois de o deputado e seu opositor interno ter anunciado ao plenário que deixaria o Parlamento. Renuncia ao mandato parlamentar, mas não deixa a vida política, declarou o democrata-cristão. Quanto ao futuro no CDS, Filipe Lobo d’Ávila deixa uma porta aberta: “Só Deus sabe”.
Depois de ter anunciado que sairia do Parlamento, durante o congresso do CDS de 10 e 11 de Março, o deputado fez nesta quarta-feira uma espécie de despedida no plenário. “Saio do Parlamento, mas não deixo a vida política, não abandono o meu partido”, disse na intervenção em que lembrou os cargos políticos que ocupou. Foi alto quadro do Ministério da Justiça – passando por três governos sucessivos –, onde disse ter sido “possível fazer diferente”, em áreas como os julgados de paz, e foi secretário de Estado da Administração Interna do então ministro Miguel Macedo. Fez parte de uma equipa que disse não esquecer nem querer “esquecer”. Sem se referir à actual liderança de Assunção Cristas, Filipe Lobo d’Ávila recordou que foi porta-voz “num partido liderado por Paulo Portas”, o que foi “uma escola de vida”, de uma “exigência única”.
Nos últimos dois congressos, Filipe Lobo d´Ávila liderou listas ao Conselho Nacional alternativas à da direcção de Cristas. Ao fim de 16 de vida pública, o ainda deputado declarou que continua “livre” e que continua a ter “espírito crítico”, mas não detalhou os motivos da sua saída, que se concretiza esta sexta-feira. O nome que se segue na lista é Raul Almeida, que é um dos críticos de Assunção Cristas, e que está a ponderar se tem “condições políticas” para exercer o mandato de deputado.
Depois de se ter criticado pontualmente Cristas nos últimos dois anos, Filipe Lobo d’ Ávila fez um discurso algo crítico da actual liderança no último congresso, não só denunciando “práticas surrealistas internas”, mas visando também a moção da líder, ao exigir que o CDS se diferencie nas propostas dos outros partidos. Em entrevista ao PÚBLICO, o deputado defendeu que o CDS precisa de um projecto político que não esteja assente na imagem da líder do partido.
A intervenção de despedida em plenário foi recebida com palmas de toda a bancada do CDS, do PSD e até de alguns deputados da esquerda. Só Assunção Cristas e Telmo Correia não se levantaram. Em tom de graça e de simpatia para o deputado ouviram-se intervenções da bancada do PSD (Adão Silva), PS (Filipe Neto Brandão) e do próprio CDS,pela voz do líder parlamentar Nuno Magalhães.
Furto de Tancos por apurar
Ainda antes da despedida de Filipe Lobo d’Ávila, a bancada do CDS trouxe o tema de Tancos ao plenário. O deputado João Rebelo começou por assumir que não houve “nenhuma” consequência política “265 dias após o assalto” na sequência dos resultados das averiguações realizadas pelo ministério da Defesa. Lembrando as palavras recentes do Presidente da República, que disse não ter sido possível “identificar cabalmente quem e como agiu”, João Rebelo sustentou que as responsabilidades neste caso “permanecem por apurar”. O deputado avisou que o CDS não prescinde dos mecanismos regimentais de que dispõe para o “total apuramento da verdade”, ou seja, a proposta de uma comissão de inquérito. O debate com as bancadas da esquerda andou à volta dos cortes feitos pelo anterior Governo nos efectivos e nos investimentos na área militar.