Vítimas não aceitam "inevitabilidade" dos incêndios, como dizem os peritos
Relatório da Comissão Técnica Independente é entregue esta terça-feira à tarde no Parlamento. Associação de vítimas preocupada com mensagem que documento conterá.
Ainda não é conhecido na sua totalidade o conteúdo do relatório da Comissão Técnica Independente sobre os incêndios de 15 de Outubro do ano passado, mas o documento já está a provocar a apreensão da Associação de Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal (AVMISP). Os peritos entregam o relatório final esta terça-feira à tarde ao presidente da Assembleia da República, mas do que já ouviu, Luís Lagos, da AVMISP, não tem dúvidas em dizer que "a primeira mensagem é preocupante".
O Jornal de Notícias contava na sua edição de segunda-feira que o relatório se concentra na ideia de que o que aconteceu a 15 de Outubro foi um fenómeno de gravidade extrema e que os incêndios se tornaram incontroláveis logo no início, ou seja, que houve uma evolução de tal modo rápida do fogo que a capacidade de combate foi reduzida a quase zero, independentemente dos meios que fossem disponibilizados. Ao que o PÚBLICO apurou, essa será uma das conclusões, mas não a única.
Contudo, esta ideia de que a falência da Protecção Civil não teve um papel central nestes incêndios é uma conclusão que a Associação de Vítimas não consegue aceitar. "A primeira mensagem, de que foi uma inevitabilidade, é uma mensagem preocupante. É a pior mensagem que podem passar. O que falhou foram sobretudo medidas de Protecção Civil", diz Luís Lagos ao PÚBLICO.
Para o representante das vítimas trata-se de uma ideia de "resignação". "É como se dissessem que não é preciso prevenir, não é preciso limpar, porque basta que venha um fenómeno idêntico" e acontece o mesmo, afirma Luís Lagos.
De acordo com o JN, sobre os incêndios de 15 de Outubro, que provocaram a morte a 49 pessoas, os peritos deverão apresentar algumas conclusões diferentes das que foram apresentadas sobre o incêndio de Pedrógão Grande. Nessa altura, os técnicos alertaram para o falhanço da acção da Protecção Civil a partir dos primeiros 90 minutos (quando o incêndio passou para a fase de ataque ampliado), sobretudo por não se ter verificado "incremento algum de meios, como seria expectável". Os técnicos apontaram o dedo às fragilidades da Protecção Civil e entregaram propostas para alterar o sistema de combate a incêndios, que inspiraram as medidas apresentadas pelo Governo no final de Outubro e que estão ainda a ser implementadas.
Além dos técnicos independentes, estes incêndios estão a ser investigados pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, da Universidade de Coimbra, dirigido pelo professor Xavier Viegas, que disse a semana passada no Parlamento que aguarda ainda pela formalização do contrato.