Em 25 casos de sarampo, 22 são profissionais de saúde. Vacina deve ser obrigatória?

No hospital de Santo António, onde o surto eclodiu, todos andam com máscara de protecção e foram dadas já quase 900 doses de vacina. Dos 22 profissionais de saúde com sarampo, quase metade não estava vacinado ou só tinha tomado uma dose

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Já são 25 os casos confirmados de sarampo no surto que eclodiu esta semana no hospital de Santo António (Porto) e ainda há 32 casos suspeitos em investigação. A maior parte dos casos confirmados (22) são profissionais de saúde e, destes, cinco não estavam vacinados, quatro tinham um esquema vacinal incompleto (uma dose em vez das duas recomendadas) e um desconhecia se estava ou não imunizado.

No hospital de Santo António, onde na sexta-feira permaneciam internados três doentes por mera precaução, todas as pessoas que entram na unidade são aconselhadas a colocar máscaras de protecção. E houve uma operação de vacinação massiva: nos últimos dias, já tinham sido dadas 865 doses a profissionais da unidade, segundo o último balanço da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Este surto e o impacto que está a ter nos profissionais de saúde veio relançar o debate sobre se deve ou não ser obrigatória a vacinação neste grupo específico que está em contacto com os doentes. As opiniões dividem-se. Apesar de sexta-feira a DGS ter actualizado uma norma em que recomenda aos profissionais de saúde que façam sempre duas doses da vacina, a directora-geral Graça Freitas não acredita que faça sentido tornar obrigatória esta imunização, tal como a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE).

Mas o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) defendem que é neste sentido que se deve caminhar, tendo em conta o risco em que os profissionais se colocam e colocam igualmente os doentes.

O bastonário da OM, Miguel Guimarães, estabelece mesmo um paralelo com as escolas – onde é obrigatório mostrar o boletim de vacinas no momento da matrícula  – para considerar que seria  “importante” uma medida do mesmo género para os funcionários nas unidades de saúde, ainda que uma eventual obrigatoriedade, frise, tenha que ser "discutida na Assembleia da República".

Também o presidente da APAH, Alexandre Lourenço, defendeu na TSF que, se as campanhas de sensibilização não foram suficientes, “poderá ser equacionada a necessidade de se garantir que a própria contratação e o recrutamento de profissionais passe pelo cumprimento dos planos de vacinação”. Ou seja, poderá ser preciso restringir o acesso à profissão a quem não se vacinar.

"Tentar pôr a culpa" nos profissionais de saúde “é ignóbil”, retorque a bastonária da OE, Ana Rita Cavaco. As campanhas de vacinação "devem ser contínuas" e as vacinas devem estar sempre acessíveis quando necessário, o que muitas vezes não acontece, frisa a bastonária, que não concorda com “esta espécie de punição” que querem decretar só para os profissionais de saúde. Já a  directora-geral da Saúde considera que tudo deve ser feito de “forma pedagógica, consensual e informada”.

A DGS acredita que o surto estará controlado, apesar de ainda poderem surgir mais casos nos próximos dias. Até ao final da tarde de sexta-feira, tinham sido comunicados  "72 casos suspeitos", dos quais 25 foram confirmados e 15 deram negativo, aguardando os restantes os resultados das análises. Todos os casos são de adultos até aos 45 anos e três pessoas permaneciam internadas mas estavam em situação clínica estável.

Este surto terá tido origem num doente vindo no estrangeiro e que foi tratado noutro hospital do Norte, onde trabalham funcionários que também prestam serviço no Santo António.

Recordando que o sarampo é uma das doenças infecciosas mais contagiosas, que pode provocar doença grave sobretudo em pessoas não vacinadas, a DGS recomenda que as pessoas verifiquem o seu boletim de vacinas e que, se tiverem sintomas, evitem o contacto com outras pessoas e liguem para o SNS 24 (808 24 24 24).

No ano passado, Portugal registou dois surtos de sarampo e uma adolescente de de 17 anos, que não estava vacinada e tinha passado pelo hospital de Cascais, acabou por morrer com uma pneumonia bilateral.

Os casos de sarampo notificados ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) mais do que triplicaram no ano passado, tendo passado de 4643 em 2016 para 14.451 em 2017. Na sequência destes contágios, 30 pessoas morreram. Em Portugal, entre Dezembro de 2016 e Novembro de 2017, foram registados 34 casos em Portugal.

O sarampo é uma doença muito contagiosa, que habitualmente é benigna, mas pode ter consequências graves.

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