Xavier Viegas diz que não houve nenhuma entidade a fazer busca e salvamento

Partidos ouviram o perito em incêndios à porta fechada e reconhecem a necessidade de repensar o sistema para criar uma parte da estrutura de comando dedicada ao socorro, à parte do combate e da prestação de cuidados médicos.

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18 de Junho de 2017: Pedrogão Grande paulo pimenta

Por um lado, os bombeiros estavam assoberbados no combate ao incêndio, do outro lado, o Instituto Nacional de Emergência Médica não conseguia chegar aos pedidos de socorro para prestar cuidados médicos. Entre um e outro, não houve nenhuma entidade que estivesse coordenada e organizada na busca e salvamento na noite de 17 de Junho, quando aconteceu o incêndio de Pedrógão Grande.

Este foi um dos principais pontos que o professor Domingos Xavier Viegas focou numa conversa com os deputados no Parlamento, que acabou por acontecer à porta fechada. “Faltou um trabalho de busca e salvamento. A prestação de socorro médico falhou porque falhou a busca e salvamento. Não foi feito de forma coordenada”, disse aos jornalistas à saída da audição que aconteceu a pedido do CDS. “Numa situação destas é importante que se crie uma parte destinada a coordenar a busca e salvamento”, defendeu.

Este foi um dos principais resultados do relatório, mas sobretudo do capítulo sexto do documento, onde eram relatadas as circunstâncias da morte de algumas das vítimas. Para o professor do Centro de Estudos de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, esta falha fez com que pudessem ter ocorrido algumas mortes, que de outra forma poderiam ter sido evitadas.

Neste capítulo, que começou por ser secreto e depois foi disponibilizado às famílias e acabou por ser publicado em parte em alguma comunicação social, Xavier Viegas identificou situações em que falhou socorro. Contudo, numa primeira fase atribuía essas falhas à actuação do INEM. Neste momento, o professor acredita que as dificuldades na prestação de cuidados médicos decorreram sobretudo do facto de não ter havido uma entidade que se responsabilizasse pelo salvamento, para que essas vítimas pudessem depois receber cuidados médicos.

Telmo Correia, deputado do CDS, confirmou que uma das conclusões da audição foi que “houve uma falha generalidade de operação de busca e salvamento”. “Ninguém tinha a responsabilidade de ir buscar pessoas que estavam caídas no terreno”, disse.

Pela parte do PSD, o deputado Duarte Marques distinguiu as duas questões: “Uma coisa é a prestação de socorro, outra o combate. Não há entidade que o faça, porque o comando está concentrado no combate. Falta uma parte que vá buscar as pessoas” para o INEM prestar socorro médico, assegurou. “É preciso criar uma especificidade no comando para que os bombeiros não se desviem do combate e os médicos não se desviem de tratar os doentes.”

Nas declarações aos jornalistas, o socialista Rocha Andrade lembrou que há um “consenso” de que há “um conjunto grande de fragilidades” e confirmou que a busca e salvamento acabou por ser a principal questão: “Veio destacar que a estrutura que está organizada pode ter dificuldades quando o comando está absorvido no combate e não pode assegurar a busca e salvamento. E o INEM não pode avançar para um teatro de operações em risco sob pena de pôr em risco os seus profissionais”, disse.

Esta é uma das questões que está a ser discutida pela estrutura de missão que o Governo criou para alterar o sistema de protecção civil. A solução da equipa de Tiago Martins Oliveira passa por dividir os bombeiros. Por um lado, os Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS da GNR) focarem-se mais no combate aos incêndios e os bombeiros voluntários ficarem mais disponíveis para as operações de resgate e evacuação de populações.

Aos deputados, o perito contou que já está no terreno para fazer um relatório semelhante ao de Pedrógão Grande para os incêndios de 15 de Outubro, mas que faltam “questões burocráticas” para resolver com o Governo e assim ter “um mandato” e poder questionar as entidades sobre o que se passou. Xavier Viegas diz que este será um processo que demora cerca de oito meses, e deverá terminar em Agosto.

Relatório a 20 de Março

A comissão técnica independente para analisar os incêndios de Outubro de 2017 vai entregar o seu relatório ao Parlamento em 20 de Março, foi entretanto anunciado pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, na conferência de líderes parlamentares.

A comissão independente, liderada pelo professor universitário João Guerreiro, já tinha apresentado um relatório quanto aos incêndios de Junho do ano passado em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, que se propagou depois a vários concelhos limítrofes.

Os fogos de Outubro atingiram 27 concelhos da região Centro, provocando 46 mortos e cerca de 70 feridos. Estes incêndios destruíram total ou parcialmente cerca de 800 habitações permanentes, quase 500 empresas e extensas áreas de floresta nos distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu.

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