Mercadona pode ganhar 52 domingos com expansão em Portugal

Grupo espanhol de retalho alimentar abre de segunda a sábado no território espanhol. Se optar por abrir ao domingo em Portugal, ganha mais 52 dias em 2019, naquele que é segundo melhor dia na semana para o comércio no país.

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A cadeia de supermercados Mercadona, que se prepara para abrir, "durante o primeiro semestre" do próximo ano, a primeira de quatro lojas de retalho alimentar com que terminará 2019 em território português, ainda não tem como definitivo que estará aberta aos domingos em Portugal. Em Espanha, onde lidera o segmento de distribuição em que se posiciona, a Mercadona abre as suas 1.627 lojas das 9h às 21h30 de segunda a sábado. O domingo é visto tradicionalmente, dentro do grupo familiar, como "dia de descanso". E em Portugal - onde a maior parte do comércio pode estar aberto sete dias por semana - também será assim? "Ainda estamos a ver como será", respondeu esta segunda-feira Elena Aldana, directora de relações externas em Portugal, aos jornalistas, acrescentando que o assunto está a ser visto com os municípios.

A Mercadona vai abrir, nesta fase, na Maia, em Gaia, Matosinhos e Gondomar, com lojas com área bruta de venda de cerca de 1800 metros quadrados. “O nosso objectivo são supermercados, não temos nem hipermercados, nem lojas de conveniência”, disse.

Desde a publicação, em final de 2015, do Regime Jurídico de Acesso e exercício de Actividades de Comércio, Serviços e Restauração (RJACS), que em Portugal há liberdade de horário de funcionamento da generalidade dos estabelecimentos, cabendo às autarquias a decisão final. Difere da legislação de 2010 - aquela que pôs fim à interdição de 1996 que havia de abertura aos domingos dos espaços acima de 2.000 metros quadrados -, porque com o diploma de 2015 cabe desde então aos municípios a fundamentação para recusar que um estabelecimento possa ter um horário alargado, quer em termos de horas num só dia, como de dias numa semana.

No caso da Mercadona, a decisão está ainda a ser analisada, pesando, por um lado, uma tradição enraizada na empresa em Espanha (onde a decisão é autonómica) e, por outro, o facto de o domingo, em Portugal, ser o segundo dia mais forte para o retalho alimentar, a seguir ao sábado.

Lisboa no mapa

Numa apresentação aos jornalistas na véspera da apresentação de resultados que esta terça-feira será feita por Juan Roig, presidente executivo e maior acionista da não cotada Mercadona, Elena Aldana explicou que a empresa analisou Porto e Lisboa para expandir fora de Espanha pela "concentração populacional" existente nas duas maiores cidades do país. Porto acabou por ser escolhida também pela proximidade com a plataforma logística de Leão.

O grupo adquiriu, entretanto, uma base logística na Póvoa de Varzim, que está a reformular. Mas não esquece Lisboa. “Quando se abre uma loja, o que se procura são clientes. Dentro dessa concentração populacional, o Porto era interessante, como Lisboa também, mas Lisboa chegará no futuro”.

Para já, o grupo está a começar pouco a pouco", reconhecendo que está a lidar com "um mercado muito próximo" e também "muito diferente" do espanhol, onde "há grande concorrência", que o grupo “respeita imenso” e onde tem a ambição de "ser totalmente português" .

E há um limite já estabelecido para o parque de lojas na última fatia de Península Ibérica que a Mercadona ainda não tem presença? "Sinceramente, não poderia dizer qual é o limite - temos que ver como evolui o mercado. A nossa aposta em Portugal é de longo prazo, temos que ver como corre o crescimento e a aceitação no mercado português. Para já começamos no Norte", para depois ficará uma visão sobre a "expansão em todo o país".

Com um plano de 25 milhões de euros para a fase inicial daquela que é a sua primeira internacionalização, além das quatro lojas - em fase de licenciamento ou já em construção - e do armazém logístico, a Mercadona criou desde logo uma sociedade no país. “O nosso objectivo foi pouco a pouco criar o projecto em Portugal: primeiro criámos a sociedade Irmãdona, com o objectivo de pagar os impostos da actividade portuguesa em Portugal, depois começámos com a criação dos escritórios no Porto [Matosinhos] e depois a contratação de pessoas”, afirmou a responsável. "Podemos vir a ultrapassar os 25 milhões de euros" de investimento, mas "para já, são os números com que estamos a trabalhar".

Entretanto, o grupo somou 63 milhões de euros de compras a 50 fornecedores portugueses em 2017, mais 11 milhões de euros do que em 2016. Na lista cabem, por exemplo, frescos, como peixe ou pêra rocha, vinho do Porto e guloseimas, mas também um fornecedor de equipamento para as padarias do grupo (fornos estão já em 800 lojas da Mercadona em Espanha). “Por enquanto são 50 fornecedores portugueses, mas o objectivo é crescer à medida da criação da gama de produtos em Portugal”. Em Espanha, um supermercado da Mercadona tem, em média, entre 8.000 a 9.000 referências, nas quais, sem contar com os perecíveis, as marcas próprias representam 50%. Somando frescos, a percentagem sobe, já que é prática em Espanha e ambição em Portugal manter um peso elevado de fornecedores locais de perecíveis.

Em termos de empregados - dos 350 postos de trabalho inicialmente previstos criar em Portugal - 120 quadros médios de gestão estão contratados, e começou já a selecção dos primeiros 200 operacionais (em média cada loja emprega 50 trabalhadores). 

*O PÚBLICO viajou a convite da Mercadona

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