"Brexit" deixa Theresa May entalada entre vários fogos
De John Major aos unionistas da Irlanda do Norte, passando por Boris Johnson, a primeira-ministra britânica teve um dia horrível por causa do "Brexit".
A ideia de criar uma fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte ateou os ânimos no Parlamento de Londres. Muitos, indignados, falaram nos planos da UE para “anexar” Belfast. A líder do Partido Unionista Democrata (DUP), que com os seus dez deputados garante a maioria ao Governo de Theresa May, frisou que o documento da Comissão Europeia estabelece condições “economicamente catastróficas para a Irlanda do Norte”, gerando receios de que o dividido Executivo britânico possa cair, devido à condução do processo de saída da União Europeia.
Sexta-feira, Theresa May fará um discurso muito aguardado em que se espera que clarifique a estratégia do seu Governo nas negociações do “Brexit”, quando toda a gente lhe pede que defina o rumo. Esta quarta-feira, esforçou-se por esclarecer que nenhum primeiro-ministro britânico poderia permitir uma fronteira “dura” entre as duas Irlandas”.
Mas o dia político britânico foi dominado também por uma tempestade causada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, que admitiu o regresso a uma fronteira com controlos entre as duas Irlandas após o “Brexit”, numa carta enviada a May, que foi divulgada pela televisão SkyNews. E, com o escândalo causado com esta fuga de informação, Johnson recusou-se a ir ao Parlamento esclarecer o que queria dizer nesta carta – o que causou múltiplas acusações de falta de respeito pelos deputados.
Como um problema nunca vem só, Theresa May teve de lidar com mais uma rajada de fogo amigo, pelo menos vindo do seu próprio campo, o Partido Conservador. O ex-primeiro-ministro John Major, que fez campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia, e cujo mandato foi constantemente perturbado pelos eurocépticos, fez um discurso muito crítico sobre a condução do processo do “Brexit”.
Major afirmou que os deputados britânicos têm o dever de pensar no “bem-estar do povo”, e por isso deveriam votar sobre a realização de novo referendo sobre o "Brexit", sem disciplina partidária de voto.
O ex-primeiro-ministro, que ajudou a lançar as negociações dos Acordos de Sexta-Feira Santa que levaram à paz na Irlanda do Norte, criticou também os apelos a ignorar os perigos de restaurar os controlos fronteiriços entre as duas Irlandas. “Precisamos de proteger os Acordos. A responsabilidade de o fazer é nossa – e não da União Europeia”, sublinhou.