Para além de ter sido o ano de maior crescimento económico desde o início do século, 2017 teve mais uma característica que o distingue dos 25 anos anteriores: foi possível pôr o investimento a crescer a um ritmo elevado, sem que se gerasse um desequilíbrio significativo nas contas externas. Um sinal positivo para a sustentabilidade da retoma da economia portuguesa, mas que é moderado pelo facto de o investimento estar ainda apenas ao nível que se registava em 1995.
Depois de, há duas semanas, ter anunciado que o PIB português tinha crescido 2,7% em 2017, o INE veio esta quarta-feira, não só confirmar este dado (o mais forte desde o ano 2000), como explicar pela primeira vez como é que esse crescimento foi conseguido.
E os números apresentados pelo INE mostram que, na aceleração dos 1,6% de 2016 para os 2,7% de 2017, o investimento e as exportações desempenharam os principais papéis.
Do lado do investimento, o resultado conseguido foi o melhor desde 1998, o ano em que se realizou a Expo 98 e que simboliza o auge da última grande fase de expansão económica baseada na procura interna. O investimento cresceu 8,4% em 2017, uma aceleração significativa face à quase estagnação do ano anterior (0,8%) e um resultado que supera os crescimentos na casa dos 5% registados em 2014 e 2015.
Este impulso do investimento ocorreu tanto ao nível da construção (que tinha caído 0,3% em 2016 e que em 2017 cresceu 9,2%) como ao nível dos equipamentos, e permitiu que a procura interna acelerasse também ela de uma variação de 1,6% em 2016 para 2,8% em 2017 (mesmo com o consumo privado a manter praticamente a mesma velocidade), elevando o contributo para a variação do PIB para 2,9 pontos percentuais.
Ao nível das exportações, o crescimento registado em 2017 foi de 7,9%, uma aceleração face aos 4,4% de 2016 e o melhor resultado desde 2010, com as empresas portuguesas a conseguirem aproveitar bem o bom momento do turismo e o crescimento de alguns dos principais parceiros comerciais de Portugal.
Não há economista que não coloque o investimento e as exportações no centro de qualquer plano para fazer o crescimento da economia regressar de forma sustentável a níveis mais elevados.
O investimento é considerado fulcral para aumentar crescimento potencial da economia, mas ao longo das últimas décadas, sempre que o investimento acelerou, as importações aceleraram também, superando as exportações e criando défices comerciais.
No final dos anos 90, isso foi muito evidente. Em 1998, por exemplo, a par do crescimento do investimento de 13,4%, as importações aumentaram mais de 14%, com as exportações a ficarem-se pelos 8%. No final dos anos 90, o défice externo tinha subido para valores acima dos 10% do PIB.
Mesmo em anos mais recentes, quando o investimento conseguiu ensaiar recuperações, foi evidente o efeito negativo nas contas externas. Em 2014 e 2015, cresceu 5,1% e 6,4%, respectivamente, e as importações aumentaram mais do que as exportações (7,8% contra 4,3% em 2014 e 8,5% contra 6,1% em 2015).
Em 2017, isso não aconteceu. Não só o aumento das importações foi menos forte do que em ocasiões anteriores (com a ajuda da moderação no consumo), como o efeito negativo nas contas com o exterior foi desta vez compensado por um crescimento das exportações de dimensão semelhante. As importações, que tinham crescido 4,2% em 2016, subiram agora 7,9%. Mas ao mesmo tempo, as exportações aceleraram de 4,4% para 7,9% também.
Este padrão de crescimento, em que o peso do consumo privado se reduz, sendo progressivamente compensado por um reforço da importância do investimento e das exportações, cria expectativas positivas em relação à sustentabilidade da recuperação registada em 2017 pela economia portuguesa.
No entanto, para além do período de tempo em que tal ocorreu ainda ser curto, há uma outra diferença importante no que diz respeito ao investimento: a base de que se está a partir é ainda preocupantemente baixa. O nível do investimento, em termos reais, está 30% abaixo do registado em 2001, quando atingiu o seu máximo e 25% do nível de 2008, antes da crise financeira internacional. Só este ano, o investimento em Portugal atingiu o mesmo nível que em 1995, altura em que representava 24,2% do PIB, contra os 16,3% actuais.
Também esta quarta-feira, o INE deu conta de uma das consequências positivas do crescimento mais forte da economia em 2017. A taxa de desemprego mensal, que tinha terminado o ano de 2016 nos 10,2%, foi em Dezembro do ano passado de 8% e poderá, de acordo com os primeiros dados ainda provisórios, voltar a cair em Janeiro deste ano para 7,9%.