Estudantes decidem: garraiada na Queima das Fitas de Coimbra vai a votos
Contestação dos últimos anos leva comissão organizadora da festividade a convocar referendo para dia 13 de Março.
Os estudantes da Universidade de Coimbra vão decidir se querem ou não que a garraiada continue a fazer parte do programa de festas académicas. Perante a contestação ao evento nas últimas edições da Queima das Fitas, a comunidade estudantil é chamada a pronunciar-se em referendo no próximo dia 13 de Março.
A Comissão Central da Queima das Fitas começou por propor a abolição da garraiada, informa a organização em comunicado enviado às redacções. No entanto, o Conselho de Veteranos “ achou que não deviam ser só algumas pessoas a decidir”, explicou ao PÚBLICO o dux veteranorum, João Luís Jesus. Assim, o Conselho de Veteranos e a Associação Académica de Coimbra, como entidades que tutelam a queima, chegaram a acordo para a realização de um referendo no próximo mês.
O convocação da consulta é uma “medida muito positiva”, começa por dizer o presidente da direcção-geral da AAC, Alexandre Amado. “É essencial que se discuta”, entende o dirigente, uma vez que este “é um evento bastante contestado”. Sem querer para já tomar uma posição, o estudante lembra que o evento que tem lugar anualmente no Coliseu da Figueira da Foz já teve “algumas alterações” nos últimos anos.
“Em 2016 acabou-se com a lida propriamente dita”, completa João Luís Jesus. “No entanto”, concede, “não deixa de ser um espectáculo tauromáquico”. Há dois anos a garraiada deixou de envolver a “novilhada popular”. Ou seja, as farpas, bandarilhas e o toureio a pé e a cavalo desaparecerem da equação, mas aspectos como a pega do touro por forcados e pelos estudantes mantiveram-se. Alterações essas que, segundo os estudantes que estão contra a garraiada, não são suficientes.
O dux de Coimbra reconhece que esta é uma questão polémica entre os estudantes uma vez que, se há quem se bata pela abolição, há quem esteja no outro extremo. “A própria academia tem forcados, grupos de estudantes que se organizam e fazem pegas mesmo fora da Queima das Fitas”, ilustra.
Ana Cláudia Bordalo, do movimento Queima das Farpas, é clara: “a nossa posição é e sempre foi a abolição”. A estudante entende que os direitos dos animais não devem ser matéria de referendo. Feita a ressalva, concede que “é preciso encontrar um ponto de consenso”, pelo que a consulta dos estudantes “é compreensível”.
A activista do movimento que surgiu em 2015 para contestar a realização da garraiada afirma que este passo mostra que a Queima das Fitas “está atenta àquilo que tem acontecido nos últimos anos, tanto a nível nacional como ao protesto anual” da Queima das Farpas à entrada do recinto, na Figueira da Foz. Este ano a Queima das Fitas realiza-se entre 4 e 11 de Maio e, pelo menos até ao referendo, a Queima das Farpas vai fazer campanha pelo não.
Os estudantes de Coimbra dão este passo dois anos depois de os do Porto terem acabado com a garraiada nas suas festas académicas.