Cidadãos está pronto a deixar cair Rajoy e liderar oposição

Crise catalã marcou um ponto de viragem na relação com o PP e contribuiu para fragilizar o pacto de investidura do presidente do Governo. A crescer nas sondagens, partido de Rivera está agora com vontade de se assumir com principal opositor ao executivo.

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Albert Rivera (à direita) quer que o Cidadãos seja alternativa ao PP EPA

Artífices do compromisso que pôs fim ao interregno governativo espanhol, que durou praticamente dez meses (2015-2016) e que culminou na investidura de um executivo minoritário liderado por Mariano Rajoy, Cidadãos e Partido Popular (PP) estão hoje em pé de guerra, ainda que nenhum deles o queira assumir abertamente. O partido de Albert Rivera considera ter razões suficientes para concluir que os populares defraudaram o pacto bipartidário e, empolgado pelos bons resultados das últimas sondagens – e pela queda a pique do PP –, está inclinado a assumir-se como líder da oposição ao Governo.

Na origem da mudança de paradigma nas relações entre os dois partidos de direita espanhola estão os resultados das eleições do final de Dezembro, na Catalunha. Ultrapassados pelos liberais nas urnas, os populares iniciaram uma estratégia de pressão junto da líder catalã dos Cidadãos, Inés Arrimadas, exigindo-lhe mais iniciativa e maior capacidade de luta face às movimentações da ala independentista para investir o próximo presidente da Generalitat

Face ao que considerou ser uma postura de inércia de Arrimadas, o PP respondeu com silêncio, não revelando ao Cidadãos que estava a planear apresentar um recurso ao Tribunal Constitucional para impedir que Carles Puigdemont tomasse posse à distância. Riveras não gostou de saber dos planos de Rajoy pelos jornais e reuniu os membros do partido para lhes dizer que o pacto de investidura está agora “em xeque”.

As posições extremaram-se ainda mais com as suspeitas de uma situação de financiamento ilegal no Cidadãos, legitimadas pelo PP, e pela exigência de esclarecimentos sobre o envolvimento do popular Francisco Granados no escândalo de corrupção, conhecido por “Operação Púnica”. 

Em Espanha, escreve o El País, fazem-se por isso apostas sobre qual dos dois partidos irá ceder primeiro, oficializando o fim do romance e sujeitando-se às sua consequências – o cenário de queda de Rajoy e eleições antecipadas faz parte do cardápio –, sendo que tanto o PP como o Cidadãos estão determinados em empurrar para cima do outro as responsabilidades de uma eventual ruptura. 

Os liberais entendem ter cumprido inteiramente com o que lhes foi exigido no acordo de investidura e, por isso, colocam toda a pressão sobre os ombros do presidente do Governo, ao passo que os populares vêem na recente postura provocadora do Cidadãos um sinal de deslealdade para com o executivo, típico de quem “olha muito para as sondagens e pouco para o interesse público” – nas palavras do coordenador-geral do PP, Fernando Martínez Maillo, numa entrevista à rádio RNE.

Com os olhos postos em 2019 – ano de eleições municipais, autonómicas e europeias – ambos os partidos afinam planos para lá chegar em condições de disputar a preferência do eleitorado da direita e do centro. Uma sondagem do instituto Metroscopia, divulgada em meados de Janeiro, colocava o Cidadãos na liderança, somando 27,1% de intenções de voto, contra 23,2% dos populares.

Face à impopularidade do PP, à retracção do PSOE e à indefinição do Podemos, o Cidadãos quer apresentar-se como alternativa credível a Rajoy e aposta numa estratégia de enaltecimento do seu papel de paladino da estabilidade, essencial no desbloqueio da indefinição governativa e na aprovação de matérias variadas. “Com o acordo de investidura, influenciámos toda a legislatura. Somos o único partido que desenvolveu o seu programa”, refere Miguel Gutiérrez, secretário-geral do grupo parlamentar, citado pelo El País. “Se não fizemos mais, foi porque Rajoy não deixou”.

Já o PP está determinado em recuperar terreno e independência face ao Cidadãos. O plano de Rajoy passa por assumir a iniciativa legislativa nos próximos meses e com isso impedir que o partido de Riveras possa recolher os louros políticos das próximas reformas.

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