Risco calculado ou risco desnecessário?
Bruno de Carvalho coloca neste sábado a sua presidência nas mãos dos sócios do Sporting numa Assembleia Geral que pode, ou não, ser de aclamação.
A fasquia está alta. Para a alteração de estatutos e do regulamento disciplinar, o sim nos 75%. Para a continuidade da direcção os mesmos 75%, apesar de Bruno de Carvalho ter dito que queria a mesma votação obtida nas últimas eleições (86%). Foi este nível de aprovação que o actual líder "leonino" pediu na Assembleia Geral do Sporting deste sábado para continuar a ser o presidente dos “leões”. Menos que isto e demite-se, o clube vai para eleições, Bruno de Carvalho não irá a votos e abrem-se as portas a uma nova liderança. Mas haverá alguma hipótese de isto acontecer? Terá o Astana-Sporting da última quinta-feira sido, como disse Bruno de Carvalho, o seu último jogo como presidente do clube de Alvalade? Será este sábado o fim de uma era e o início de outra?
Tudo indica que a AG “leonina” deste sábado no pavilhão do Sporting será de aclamação para o seu actual presidente. Muito dependerá, claro, da capacidade de mobilização dos seus opositores. Eles existem nas redes sociais e vocalizam a sua opinião na comunicação social, mas serão uma minoria suficientemente robusta para derrubar a actual direcção em AG? Não foi o que se viu, por exemplo, nas últimas eleições do clube, há um ano, em que a direcção liderada por Bruno de Carvalho teve 86% dos votos, contra menos de 10% da lista encabeçada por Pedro Madeira Rodrigues.
Basicamente, Bruno de Carvalho colocou a sua liderança nas mãos dos sócios nesta tripla votação, depois de se terem apresentado vários requerimentos para se adiar a votação dos pontos mais polémicos na anterior AG. Os requerimentos foram sendo rejeitados pela Mesa da AG, mas a confusão instalou-se entre os proponentes desse requerimento e Bruno de Carvalho e a votação desses pontos acabou mesmo por não acontecer. Dois dias depois, e após uma longa comunicação ao universo sportinguista, o presidente “leonino” não anunciou a demissão, mas uma continuidade à condição.
E, como o próprio reforçou depois do jogo em Astana, esta não é apenas uma questão de reforma estatutária. “Está em causa uma questão de gratidão, reconhecimento e confiança. Em vez de estar aqui eufórico [com a vitória por 3-1], é uma tristeza se no dia 17 não houver o reconhecimento do trabalho que temos feito”, disse o líder “leonino” na capital do Cazaquistão. “Temos de ter reconhecimento e gratidão por parte das pessoas. Que a maioria silenciosa se torne a maioria ruidosa. Estou satisfeito e orgulhoso pelo trabalho que fiz até hoje”, acrescentou.
Depois de ter sido protagonista na anterior AG, Madeira Rodrigues não vai estar na deste sábado por estar “fora do país” e não conseguir “voltar a tempo de estar presente”, mas o antigo candidato apelou à mobilização dos opositores a Bruno de Carvalho para o que entende ser “uma derradeira oportunidade de evitar a descaracterização formal” do Sporting e “mostrar a todos que os sportinguistas são leões e não carneiros”. O que está em causa, reforça Madeira Rodrigues, é a “implementação duma ‘lei da rolha’ ao pior estilo ditatorial e a concretização de uma centralização e perpetuação do poder numa só pessoa”.
As acusações disparadas na direcção do actual presidente têm menos a ver com a actuação global à frente do Sporting no que diz respeito à gestão desportiva, financeira e patrimonial, e mais com uma questão de estilo de liderança. José Roquette, antigo presidente do Sporting, dizia em entrevista ao PÚBLICO há poucos dias que considerava Bruno de Carvalho “populista” e que estava a transformar o Sporting num “clube presidencialista”. Tal como Madeira Rodrigues, Roquette também não vai à AG, mas, se fosse, não estando o adiamento em cima da mesa, “votaria contra”. A altura em que estas propostas foram colocadas à discussão também foi algo que mereceu críticas por parte dos sportinguistas não-alinhados com Bruno de Carvalho por entenderem que retira foco de outros assuntos de outros clubes e centra as atenções em Alvalade.
No entender dos críticos, as alterações aos estatutos do clube e a criação de um regulamento disciplinar reforçam os poderes da direcção e diminuem a pluralidade dentro clube, um argumento que Bruno de Carvalho contesta. Foi o motivo invocado pelo coronel Vasco Lourenço para abdicar do seu lugar no Conselho Leonino, para o qual tinha sido eleito na lista de Bruno de Carvalho. “Os clubes têm uma forma pouco democrática de se organizarem, mas o Sporting sempre foi diferente”, justificou o capitão de Abril em declarações ao jornal Record.
Nenhuma destas críticas demoveu Bruno de Carvalho de sufragar a sua presidência em AG. Se a minoria se resume a pouca gente a dizer muito mal, ou se corresponde a, pelo menos, um quarto dos sportinguistas, neste sábado teremos a resposta.