Associação de Vila Nova da Rainha continua fechada um mês após incêndio
O incêndio de 13 de Janeiro provocou 11 mortos.
Um mês após o trágico incêndio na Associação Cultural, Recreativa e Humanitária de Vila Nova da Rainha, em Tondela, esta encontra-se ainda fechada à espera dos resultados da investigação, mas a vontade dos seus responsáveis é reerguê-la.
Na sequência do incêndio de 13 de Janeiro, que provocou 11 mortos, o Ministério Público instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias em que o fogo ocorreu. "Ainda está tudo fechado à espera dos resultados da investigação da Polícia Judiciária", disse à agência Lusa o presidente da associação, Jorge Dias.
De momento, só Jorge Dias pode entrar dentro do edifício, depois de obter essa permissão. Apesar da vontade de reerguer a associação, para que volte a ser um espaço de convívio da aldeia, para já, nada está planeado. "Enquanto não estiver decidida a situação, não pensamos em obras. Neste momento, ainda estamos a receber os feridos que estão a sair do hospital. Já saíram quase todos, mas ainda há alguns internados", afirmou Jorge Dias.
O incêndio de 13 de Janeiro provocou nesse dia oito mortos e 38 feridos, entre graves e ligeiros, mas o número de mortos entretanto aumentou. A 29 de Janeiro, um homem morreu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, elevando para 11 o número de vítimas mortais. No dia 17, tinha já morrido um ferido que estava internado no Hospital de São João, no Porto, e, no dia 27, registou-se a morte de um doente internado no Hospital da Prelada, na mesma cidade.
Apesar de estar toda a gente a favor de que "a associação seja reerguida o mais rapidamente possível", Jorge Dias admitiu que situações como esta "demoram sempre muito tempo" até ficarem resolvidas.
Poucos dias após o incêndio, o presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus, explicou à Lusa que a associação "foi constituída em 1979, tendo desde então ocorrido diversas intervenções de construção/beneficiação". Segundo o autarca, o edifício teve "uma obra de adaptação para servir de sede da associação, em 1992, data em que existe licenciamento de obras", tendo o processo sido "instruído com a legislação em vigor à época, incluindo o projecto de arquitectura e demais projectos de engenharia, elaborados com termo de responsabilidade do autor".
José António Jesus referiu que "a obra foi desenvolvida ao longo de várias fases", sendo "o procedimento de licenciamento deste edifício igual ao dos edifícios particulares (licença, processo instruído e termo de responsabilidade dos projectistas)".
O autarca esclareceu ainda que "obras de conservação ou de alterações de interiores que porventura tenham sido introduzidas após o licenciamento são isentas de controlo prévio por parte do município". "Presume-se a existência de licença de utilização", afirmou, acrescentando que, "sempre que há conhecimento formal de que alguma obra não tenha requerido a autorização de utilização, o município procede à notificação dos proprietários para a sua regularização".
A situação do dia 13 terá acontecido em poucos segundos, de acordo com relatos de testemunhas. "A matéria que revestia a face interior da chapa de cobertura (poliuretano), face ao calor emanado do tubo proveniente da salamandra, terá entrado em combustão sem que tal fosse percepcionado, já que existia um tecto falso em placas de gesso cartonado e revestidas com lã de rocha", contou José António Jesus. Deu-se então "um brutal colapso de toda a estrutura do tecto falso consequente à combustão violenta" do revestimento da cobertura, tendo "a eventual abertura de um vão de janela alimentado e acelerado essa combustão", acrescentou.
Segundo o autarca, foi nesse cenário que se formou "uma mancha de fumo, altamente tóxica, e com grande carga de monóxido de carbono", que terá levado muitas pessoas a ter dificuldades respiratórias, a perder o sentido de orientação e a ficar com "graves queimaduras nas zonas expostas" e nas vias respiratórias.
As consequências do fumo "poderão ter comprometido a forma como ocorreu a descida para o piso inferior", considerou o autarca, lembrando que "decorria um torneio de sueca, que se realiza há mais de uma dezena e meia de anos", e que "a generalidade dos participantes conhecia de forma detalhada os circuitos de entrada e saída".
José António Jesus explicou que "a escada que conduzia ao rés-do-chão apresentava duas possibilidades". Havia "uma saída para o lado esquerdo, que se encontrava desimpedida e cuja porta abria para o exterior dessa escada", por onde "saíram algumas das pessoas que estavam no piso superior", referiu. "As primeiras quedas na escada terão originado uma situação de pânico e de bloqueio do acesso ao exterior", frisou.