Há um novo memorando a agitar os EUA, e desta vez Trump está na defensiva

Depois de o Partido Republicano ter divulgado um memorando a sugerir que o FBI tem motivações políticas contra o Presidente, o Partido Democrata tenta agora provar que isso é mentira. E a decisão divulgar esse documento está nas mãos de Trump.

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Donald Trump reafirma que a investigação sobre a Rússia é uma "caça às bruxas" Reuters/YURI GRIPAS

Nove meses depois de a investigação do FBI sobre possíveis ligações entre a Rússia e a campanha eleitoral de Donald Trump ter ido parar às mãos do experiente procurador especial Robert Mueller, a situação em Washington está mais tensa do que nunca – e esta semana pode terminar com um dos confrontos mais agressivos entre o Partido Democrata e a Casa Branca desde a tomada de posse do Presidente Trump.

Na semana passada, a Casa Branca autorizou a divulgação de um memorando secreto a sugerir que a investigação sobre a Rússia e a campanha de Trump só existe porque o FBI e o Departamento de Justiça são controlados por altos funcionários fiéis ao Partido Democrata, e agora aguarda-se a divulgação de um outro memorando, desta vez a sugerir que a ideia de uma conspiração anti-Trump é apenas uma estratégia para descredibilizar toda a investigação – uma batalha que está a preocupar antigos chefes dos serviços secretos, do FBI e do Departamento de Justiça por afectar a imagem de independência dos órgãos de investigação nos Estados Unidos.

Mas vamos por partes. Na semana passada, o Presidente Trump não se opôs à divulgação de um memorando secreto elaborado pelo grupo do Partido Republicano na Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, liderada pelo congressista republicano Devin Nunes.

Dias antes, os congressistas republicanos nessa comissão (que estão em maioria) tinham votado a favor da divulgação desse memorando, e com isso chutaram a decisão final para o Presidente, que é o único que tem poder para barrar a divulgação de um documento secreto pelo Congresso.

Como já era esperado, no seguimento de declarações e tweets de Donald Trump ao longo da semana passada, a Casa Branca deixou passar os dias previstos na lei sem considerar que o memorando poderia prejudicar a segurança de fontes de informação e o documento foi finalmente conhecido quinta-feira.

Nesse memorando, feito com base em informação secreta que só um congressista do Partido Republicano teve autorização para consultar, os republicanos argumentam que o FBI e o Departamento de Justiça violaram os direitos do cidadão norte-americano Carter Page quando pediram a um tribunal especial um mandado de vigilância constante sobre ele – esse pedido foi feito em Outubro de 2016, numa altura em que Page tinha acabado de se afastar da campanha de Trump, onde tinha servido como conselheiro de política externa, e depois de ter viajado até à Rússia.

Só que essas actividades de Carter Page foram conhecidas pelo FBI através de um dossier sobre Donald Trump que tinha sido financiado, em parte, pela campanha de Hillary Clinton e pela direcção do Partido Democrata – e, ao não informarem o juiz sobre essa ligação, o FBI e o Departamento de Justiça (que estuda os pedidos do FBI antes de eles chegarem ao tribunal) podem ter obtido um mandado de vigilância ilegal, já que não puseram todas as cartas em cima da mesa do juiz.

O FBI, através dos seus responsáveis actuais, já nomeados pelo Presidente Trump, disseram que o memorando do Partido Republicano seria "extremamente prejudicial" por conter "omissões materiais de facto com impacto fundamental na sua precisão" e pediram ao Partido Republicano que não o divulgasse, mas nem esse raro apelo público da liderança da polícia federal fez recuar os republicanos e a Casa Branca.

"Caça às bruxas"

Apesar de o memorando questionar apenas a forma como um mandado foi obtido, e apesar de vários congressistas do Partido Republicano garantirem que isso não põe em causa a investigação sobre a Rússia, o Presidente norte-americano apressou-se a vendê-lo ao país como a prova de que tudo não passa de uma "caça às bruxas".

"Este memorando vem dar-me toda a razão na investigação. Mas a Caça às Bruxas Russa não pára. Não houve nenhum conluio e não houve nenhuma obstrução (a palavra usada agora porque, ao fim de um ano a investigarem tudo sem terem encontrado nada, o conluio morreu). Isto é uma vergonha americana!", escreveu o Presidente Trump no Twitter no sábado.

Um dia depois, o único congressista do Partido Republicano autorizado a consultar informação secreta para elaborar o memorando, Trey Gowdy, entrou em confronto com o seu próprio Presidente, dizendo que a divulgação do documento "não tem qualquer impacto na investigação da Rússia" – alguns congressistas republicanos consideram que a forma como o FBI e o Departamento de Justiça obtiveram o mandado sobre Carter Page é um assunto em si mesmo; mas a forma como Trump o tem aproveitado mostra que está em jogo um objectivo muito maior – enfraquecer a imagem de independência dos órgãos de investigação a tal ponto que se torne mais aceitável fazer mudanças no FBI e no Departamento de Justiça para que a Casa Branca volte a assumir o controlo da investigação sobre a Rússia.

E é aqui que entra o outro memorando desta história. No mesmo dia em que o Partido Republicano aprovou a divulgação do seu memorando, o Partido Democrata levou a votação o seu próprio documento – com uma versão que põe em causa a dos seus adversários políticos, dizendo que o mandado de vigilância foi pedido com base em mais informações do que apenas o tal dossier polémico.

Mas a maioria do Partido Republicano reprovou a divulgação desse documento de resposta na segunda-feira da semana passada, o que fez com que a discussão pública sobre este assunto tenha sido feita apenas com base na versão que mais convém ao Presidente Trump.

Agora, ao fim de sete dias, os republicanos autorizaram a divulgação do memorando do Partido Democrata, e a Casa Branca pode fazer uma de três coisas nos próximos dias: ou não se opõe e o memorando é divulgado (e Trump é confrontado com uma narrativa que não lhe interessa); ou não se opõe mas introduz alterações (o que provocará a fúria do Partido Democrata e acusações de manipulação); ou opõe-se e o Partido Democrata fica sem poder participar na discussão que o próprio Partido Republicano diz ser essencial – apresentar todos os factos e deixar que a população decida.

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