O dinheiro não chega para levar médicos para Portalegre, é preciso casas e carreira
Hospital também tem doentes em macas nos corredores das urgências. Faltam camas, médicos, enfermeiros e assistentes operacionais. Unidade espera autorização para abrir concursos.
A Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) tem de recorrer à contratação de empresas de prestação de serviços para garantir quatro em cada dez médicos de que precisa, em especial para as especialidades de anestesia, oftalmologia, otorrino e pediatria. Há mesmo algumas especialidades em que a totalidade dos médicos é contratada por avença. Os incentivos económicos e financeiros dados aos médicos que queiram trabalhar em zonas do Interior, como é o caso do distrito de Portalegre, já não chegam para os manter na região.
Quarenta por cento dos médicos em serviço no hospital são contratados por prestação de serviço, um valor que o presidente da ULSNA admite ser “significativo” mas é a “única maneira de conseguir formar equipas, de manter as urgências e ter certas especialidades” que não se encontram em mais nenhuma unidade da região.
No caso dos médicos que pertenciam ao hospital e tinham recebido contrapartidas para se instalarem ali, houve mesmo uma dezena de casos em que os profissionais preferiram devolver os incentivos que haviam recebido para poderem sair e ir trabalhar para outras regiões. Para contrariar essa saída de profissionais, João Moura Reis defende que são precisos outros incentivos que se destinem às famílias – porque são essas que é preciso fixar como um todo e não apenas o profissional de saúde. Já tem um compromisso com a Câmara de Portalegre, que está a recuperar casas para as colocar à disposição de médicos que queiram mudar-se para a cidade. Serão pelo menos dez T2 e há conversas também com outros municípios da região.
Numa visita ao Hospital de Portalegre integrada nas jornadas parlamentares que o PCP está a fazer até hoje no distrito, João Oliveira e Carla Cruz tomaram nota das indicações de João Moura Reis sobre os “incentivos sociais” aos médicos além da habitação, como remuneração extra ou mecanismos de progressão mais rápida na carreira. Moura Reis deu como exemplo o único cardiologista do hospital, de 28 anos, que está agora a montar o serviço hospitalar de cardiologia. O PCP tem no Parlamento, há quase dois anos um projecto de lei sobre a criação de incentivos para a fixação de médicos em zonas carenciadas do Serviço Nacional de Saúde, que ainda não foi discutido.
O Hospital de Portalegre tem, aliás, um outro serviço inédito, o Follow Up Saúde Mais, que reencaminha para o enfermeiro de família todos os dados dos doentes que passam pela urgência e têm alta, de modo a serem seguidos na sua unidade de saúde e diminuir a necessidade de voltarem ao hospital.
Mas a unidade hospitalar tem nítidos problemas de falta de recursos humanos além da área médica. Está à espera de autorização da tutela para fazer dois concursos para admissão de 25 enfermeiros e de 25 assistentes operacionais, há projectos aprovados para renovar equipamento de imagiologia. Apesar de dispor de 227 camas nas diversas valências, nesta altura do ano as macas acumulam-se nos corredores das urgências. Nesta terça-feira, quando a comitiva do PCP visitou as instalações, o PÚBLICO contou dez macas ali encostadas, na sua larga maioria com pessoas idosas que recebiam ventilação. O enfermeiro director Artur Lopes reconheceu que podem estar ali mais do que um dia.
Pouco antes, o presidente Moura dos Reis realçara que os serviços não foram afectados pelo aumento da gripe porque a “taxa de vacinação nos grupos de risco ultrapassou os 85%, mas são muito comuns os problemas de infecções respiratórias dado o nível de envelhecimento da população”.