Os sete planetas irmãos da Terra serão muito ricos em água

Novos resultados sobre o sistema solar a 40 anos-luz de distância de nós, revelado ao mundo no início do ano passado.

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Imagem artística dos sete planetas comparados com a Terra ESO/M. Kornmesser

Quase um ano depois do anúncio da descoberta de sete planetas à distância “certa” da sua estrela para poderem ter água líquida, aqui na nossa vizinhança cósmica, a equipa de cientistas que os detectou regressa agora com mais novidades: confirma que são todos rochosos, como a Terra, e que alguns poderão mesmo ter mais água do que o nosso planeta.

“As densidades dos planetas, agora conhecidas com muito mais precisão do que antes, sugerem que alguns destes corpos podem ter até 5% da sua massa sob a forma de água – cerca de 250 vezes mais do que os oceanos da Terra”, refere um comunicado de imprensa do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização intergovernamental de astronomia (à qual Portugal pertence) que tem vários telescópios no Chile, onde estes planetas começaram por ser detectados.

Os sete planetas orbitam uma estrela pequena (com apenas 8% da massa do Sol) e pouco quente, uma anã fria, chamada Trappist-1, localizada a “apenas” 40 anos-luz de distância da Terra. Usando um telescópio robótico no Chile chamado Trappist-Sul (acrónimo de Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope), a equipa começou por anunciar, em 2016, que à volta da estrela Trappist-1 tinham sido descobertos três planetas do tamanho da Terra.

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Imagem artística de um dos planetas em órbita da estrela Trappist-1 ESO/M. Kornmesser

Muitos telescópicos viraram-se então para Trappist-1 – desde o Large Telescope Telescope (VLT), do ESO no Chile, e outros telescópios no solo espalhados pelo planeta, até ao telescópio no espaço Spitzer, da NASA. O que descobriram foi que a Trappist-1 tinha, afinal, sete planetas de tamanho semelhante ao da Terra à sua volta. Conhecidos como Trappist-1b, c, d, e, f, g, h, por ordem crescente de distância à sua estrela, esses planetas foram anunciados ao mundo em Fevereiro de 2017 como sete irmãs da Terra e despertaram muito interesse.

Agora, em artigos científicos publicados nas revistas Nature Astronomy e Astronomy & Astrophysics, a equipa coordenada por Michaël Gillon, da Universidade de Liège (Bélgica), relata os resultados tanto de mais observações em telescópios em terra e no espaço como de modelos computacionais complexos para determinar com mais precisão as densidades dos planetas.

“Descobrimos que os Trappist-1c e Trappist-1e têm provavelmente grandes interiores rochosos, enquanto os planetas b, d, f, g, h têm envelopes voláteis na forma de atmosferas espessas, de oceanos ou de gelo, na maior parte dos casos numa fracção de massa de água inferior a 5%”, lê-se no artigo científico na Astronomy & Astrophysics.

“Em termos de tamanho, de densidade e radiação recebida da estrela, o quarto planeta a contar do interior é o mais semelhante à Terra”, refere por sua vez um comunicado de imprensa do ESO em relação ao Trappist-1e: “Parece ser o mais rochoso dos sete e tem potencial para ter água líquida à sua superfície.” O facto de a sua composição parecer mais rochosa do que a dos outros é ainda um mistério. Mas, ainda que com semelhanças, o Trappist-1e não é bem igual à Terra: na realidade, é ligeiramente mais denso, o que sugere que pode ter também um núcleo de ferro ainda mais denso do que o nosso planeta. E ter capacidade para ter água também não significa, esclarece o ESO, que tenha necessariamente algo com a dimensão de um oceano.

Combinando as medições das densidades dos planetas com os modelos computacionais das suas composições, os cientistas concluíram que os sete planetas em redor da estrela Trappist-1 têm assim muito para nos fascinar: “Parecem conter quantidades significativas de materiais voláteis, provavelmente água, correspondente, nalguns casos, a 5% da massa do planeta – uma quantidade enorme quando comparada com a Terra, que tem apenas cerca de 0,02% de água relativamente à sua massa.”

Mesmo estando à distância “certa” da estrela para poder ter água líquida (situando-se na zona de habitabilidade), mesmo confirmando que são rochosos e que alguns deles são provavelmente ricos em água, continua sem se saber se na superfície destes sete mundos haverá alguma forma de vida. “Apesar disso, o nosso estudo constitui um importante passo no sentido de determinarmos se estes planetas poderão suportar vida”, sublinha um dos autores do trabalho, Brice-Olivier Demory, da Universidade de Berna (Suíça), citado no comunicado.

Entre as outras novidades, os cientistas revelam que os planetas Trappist-1b e Trappist-1c (os dois mais perto da estrela) têm provavelmente núcleos rochosos (tal como o já mencionado Trappist-1e) e, além disso, atmosferas muito mais espessas do que a da Terra. Já o planeta Trappist-1d é mais “leve” do que o nosso planeta, tendo cerca de 30% da sua massa.

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Imagem artística de um dos planetas ESO/M. Kornmesser

Por fim, os três planetas mais distantes da estrela – os Trappist-1f, g, h – já estão suficientemente longe, pelo que a água poderá encontrar-se congelada à sua superfície. E se tiverem atmosferas finas, é provável que não contenham as moléculas pesadas da atmosfera terrestre, como dióxido de carbono.

“É interessante notar que os planetas mais densos não são aqueles que estão mais próximos da estrela e que os planetas mais frios não podem conter atmosferas densas”, resume Caroline Dorn, na Universidade de Zurique (Suíça), também entre os autores do trabalho.

Aguardam-se agora as próximas notícias vindas de Trappist-1, em particular quando estiverem em acção o Telescópio Extremamente Grande, do ESO no Chile, e o Telescópio Espacial James Webb, da NASA, ambos em construção. Ou já quando começarem a funcionar os novos telescópios de rastreio Speculoos (o acrónimo de Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars), que estão quase prontos no Observatório do Paranal do ESO, no Chile.

“Este resultado destaca o enorme interesse em explorar estrelas anãs ultrafrias próximas – como a Trappist-1 – para procurar planetas terrestres em trânsito”, diz Michaël Gillon, referindo-se à detecção de planetas quando passam à frente do disco da sua estrela, provocando-lhe pequenas reduções no brilho. “É exactamente este o objectivo do Speculoos, o nosso novo caçador de exoplanetas que está prestes a começar as operações no Observatório do Paranal.”

Talvez então se descubram ainda mais planetas à volta destas estrelas anãs e frias e, em relação às sete irmãs da Terra, saibamos se têm de facto atmosferas e de que são compostas. 

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