Sábados fazem subir produção da Autoeuropa em 10%
Fábrica da Volkswagen começa neste sábado modelo com mais dois turnos, o que permite produzir 3522 veículos T-Roc
A laboração ao sábado na Autoeuropa, que começa hoje, vai permitir aumentar em 10% o número de T-Roc produzidos na fábrica da Volkswagen (VW) em Palmela. De acordo com os dados da empresa, até aqui eram montados em média 3202 T-Roc por semana, valor que sobe agora para 3522 veículos.
A aceleração serve para a fábrica responder às encomendas do seu modelo mais recente, um veículo utilitário desportivo. Desde Agosto, e até á última quinta-feira, foram já produzidos 37.595 T-Roc na Autoeuropa (só a partir do início de Novembro é que se atingiu a velocidade de cruzeiro), não sem muita contestação pelo meio: houve dois pré-acordos negociados entre a gestão e a Comissão de Trabalhadores (CT) que foram depois rejeitados pelos funcionários em plenário – o que levou à queda, no Verão, da CT então em funções –, a que se soma uma greve em Agosto e mais outra no horizonte.
A administração acabou mesmo, no dia 12 de Dezembro, por avançar de forma unilateral e comunicar aos trabalhadores que ia haver um novo horário de produção com 17 turnos semanais, dois dos quais ao sábado (das 7 às 15h30 e das 16 à meia-noite, que agora se efectivam).
Os responsáveis da empresa afirmaram então que os sábados iriam ser pagos a 100%, equivalente ao pagamento como trabalho extraordinário, e que esse valor poderia ainda ser acrescido de mais 25%, caso sejam cumpridos os objectivos de produção trimestrais.
A estimativa da empresa aponta para 183.000 T-Roc este ano, de um total de cerca de 240.000 unidades (com o Sharan e Seat Alhambra), mais do que duplicando os valores do ano passado e levando a fábrica para um novo patamar. Neste momento, já há uma marca nas exportações portuguesas, com a venda de automóveis para o exterior a subir 39%, para 746 milhões de euros no mês de Novembro, devido essencialmente ao novo modelo da Autoeuropa.
Negociações em curso
Pelo caminho ficou a greve que estava prevista para acontecer a 2 e 3 de Fevereiro, já que, apesar de ter sido votada pelos trabalhadores nos plenários realizados a 21 de Dezembro, nenhum sindicato avançou com o pré-aviso de greve.
Esta quinta-feira, em novos plenários, a CT defendeu, segundo funcionários ouvidos pela Lusa, que não seria oportuno uma greve neste momento, sendo preferível manter o diálogo. Em processo de negociação estão questões ligadas ao caderno reivindicativo, como os aumentos salariais. A CT quer um aumento de 6,5% este ano, tendo a administração contraposto uma subida de 3%, e de 2% em 2019. Actualmente, a fábrica emprega cerca de 5700 funcionários.
No plenário, segundo disse um dos trabalhadores, a CT, que rejeitou a iniciativa da administração em avançar para os sábados sem consenso, “deixou transparecer a ideia de que é possível alcançar um pré-acordo laboral com a administração". Até aqui, a posição da gestão tem sido a de que a questão está fechada até Agosto, e que estas negociações estarão apenas ligadas ao fim do período de transição (ou seja, a partir de Agosto para a frente).
Falta perceber, por exemplo, como ficam os pagamentos aos sábados, e se será introduzido o trabalho aos domingos, com laboração contínua. Neste momento, desconhece-se também se os trabalhadores terão ou não apoios para deixar os filhos em creches de IPSS ao sábado.
Governo apoia, CGTP condena
O PÚBLICO enviou várias perguntas ao Ministério do Trabalho da Segurança Social e ao Instituto de Segurança Social, que se remeteram ao silêncio. Uma das questões é o facto de o apoio em causa, o complemento de horário de creche, ter sido pensado para o prolongamento de horário aos dias de semana. E, embora o ministério tenha dito no início do processo que este complemento “não é novo, nem é exclusivo aos trabalhadores da Autoeuropa”, o facto é que está neste momento em processo de alteração para ser aplicado também aos sábados, impulsionado pela fábrica da VW em Palmela.
“Não estamos a falar de um apoio exclusivo para os trabalhadores da Autoeuropa, [o que] estamos a falar é de uma necessidade que é pública, concentrada no distrito de Setúbal”, afirmou à TSF a secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim.
A CGTP já veio condenar esta medida, afirmando que “pretender que a conciliação entre vida profissional e vida familiar é possível mediante o alargamento do horário das creches que permite aos pais trabalhar mais horas e mais dias por semana e, consequentemente, dedicar aos seus filhos muito menos tempo do que lhes é devido, corresponde a uma perversão do próprio princípio da conciliação, que o Governo jamais deveria assumir”.