Descoberto no Egipto um dinossauro que liga África e a Europa
É um dos esqueletos de dinossauro mais completos encontrados nos últimos anos em África. Também foi possível perceber que está mais próximo dos dinossauros da Europa e de Ásia do que os do Sul de África e da América do Sul.
Há (quase) um vazio nos últimos anos de vida dos dinossauros em África. Os fósseis do período do Cretácico Superior (entre há 100 milhões e 66 milhões de anos) são escassos e torna-se difícil imaginar como seriam estes habitantes de África. Mas, agora, foi encontrado no deserto do Sara, no Egipto, um fóssil que corresponde a um dinossauro deste período. Esta nova espécie, a Mansourasaurus shahinae, teria um pescoço comprido e algumas placas ósseas dispostas na pele, como descreve um artigo científico na revista Nature Ecology and Evolution desta semana.
O continente africano guarda um segredo com milhões de anos que tem intrigado os paleontólogos. “África continua a ser um grande ponto de interrogação relativamente aos animais terrestres no final da idade dos dinossauros”, aponta Eric Gorscak, da Universidade do Ohio (Estados Unidos) e um dos autores do trabalho, num comunicado da sua instituição. Tudo porque os fósseis de dinossauro do Cretácico Superior – último período em que os dinossauros viveram na Terra, pois extinguiram-se há cerca de 65 milhões de anos – são difíceis de encontrar lá. Algo que causa frustração nos paleontólogos, até porque os continentes neste período estavam a enfrentar grandes mudanças geológicas e geográficas.
Há cerca de 200 milhões de anos, entre o Triásico e o Jurássico, períodos anteriores ao Cretácico, o supercontinente Pangeia começou a fragmentar-se e o mundo ficou com as configurações que temos hoje. Mas não é bem claro se os animais em África tinham evoluído como os animais do continente europeu ou como os outros continentes do Hemisfério Sul ou se se tinham desenvolvido com as suas próprias características.
Como a curiosidade nunca ficou saciada, os paleontólogos não desistiram de encontrar fósseis de dinossauro deste período. A descoberta acabou por acontecer numa área do deserto do Sara perto do rio Nilo numa expedição organizada pelo Centro de Paleontologia de Vertebrados da Universidade de Mansoura, no Egipto. Esta expedição foi feita com vários estudantes e liderada por Hesham Sallam, do Departamento de Geologia dessa universidade e principal autor do artigo. “Foi estimulante para os meus estudantes encontrarem osso atrás de osso, porque cada novo elemento que recuperámos ajudou-nos a revelar quem era este dinossauro gigante”, diz Hesham Sallam no comunicado.
A designação desta nova espécie de dinossauro, a Mansourasaurus shahinae, vem do nome da universidade dos cientistas que encontraram o fóssil. Pertence à titanossauria, um grupo de saurópodes – dinossauros herbívoros e com um longo pescoço – que era comum durante o Cretácico. Teria entre oito a dez metros de comprimento e o peso de um elefante-africano.
Santo Graal dos dinossauros
“O esqueleto do Mansourasaurus shahinae é o mais completo que se conhece de uma espécie de vertebrado do final do Cretácico”, lê-se no artigo científico. Foram encontradas partes bem preservadas do seu crânio, do maxilar inferior, do pescoço, das vértebras lombares, das costelas, da maior parte da omoplata e ossos do antebraço, parte do pé posterior e pedaços de placas dérmicas.
Através do estudo dos ossos deste dinossauro, a equipa conseguiu perceber que esta espécie está mais próxima dos dinossauros da Europa e da Ásia do que de outros exemplares descobertos no Sul de África ou na América do Sul. Isto mostra então que, pelo menos, alguns dinossauros ter-se-ão deslocado entre África e a Europa quando estavam perto da sua extinção. “Os últimos dinossauros africanos não estavam completamente isolados, contrariamente ao que alguém já tinha proposto no passado”, salienta Eric Gorscak.
“Quando vi pela primeira vez as fotografias destes fósseis, fiquei de queixo caído. Era o Santo Graal – um dinossauro muito bem preservado do final da idade dos dinossauros em África – que, nós, paleontólogos, temos procurado há muito, muito tempo”, considera o paleontólogo Matt Lamanna, do Museu Carnegie de História Natural, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, que não esteve envolvido no estudo. Este é então mais um elemento para conseguirmos viajar a uma África com milhões de anos.