João Barradas: “Home é um lar musical que nos alberga a todos”
O multipremiado acordeonista apresenta-se esta sexta-feira na Culturgest com o seu sexteto radicado no jazz e na música de fusão.
Poucos músicos terão, aos 25 anos, um rol já tão extenso de primeiros prémios (32, ao todos, desde o ano 2000), coleccionando troféus em concursos nacionais ou mundiais de Portugal aos Estados Unidos, passando por Espanha, Itália, Croácia ou Rússia. É o caso de João Barradas, acordeonista e compositor influenciado pelo jazz e pela música de fusão. O seu mais recente projecto, Home, é apresentado esta sexta-feira no Pequeno Auditório da Culturgest, às 21h30.
Nascido em Porto Alto, Ribatejo, a 3 de Fevereiro de 1992, João Barradas começou a estudar acordeão aos seis anos, entrou aos sete num Instituto de Música em Lisboa (Vitorino Matono) e aos nove no Conservatório Nacional. Estudos, workshops e masterclasses com vários músicos de relevo na cena nacional e internacional levaram-no a vários festivais de jazz, um pouco pelo mundo. O primeiro disco que gravou, aos 19 anos, em parceria com o tubista Sérgio Carolino (Surrealistic Discussion, 2011), teve muito boa aceitação da crítica. Mas foi em 2017 que viu editados dois discos relativos a projectos seus, bem diferentes: Directions (com músicos como Greg Osby, Gil Goldstein, Sara Serpa, André Fernandes, João Paulo Esteves da Silva, André Rosinha e Bruno Pedroso) e An End As A New Beginning, gravado com Mané Fernandes, Gonçalo Neto (guitarras), Eduardo Cardinho (vibrafone), Ricardo Marques (contrabaixo) e Guilherme Melo (bateria).
É com esta última formação, um sexteto chamado Home, que agora toca na Culturgest. “O grupo”, diz ao PÚBLICO João Barradas, “é todo composto por jovens músicos. Na altura, uns estavam no Porto, outros em Lisboa e outros no Algarve. E nós achámos que seria bom encontrar uma palavra que desse coesão ao grupo, ainda antes da música. Foi essa a noção de Home, uma espécie de lar, um espaço comum musical que nos alberga a todos.”
Já a música que deu origem ao disco (um CD com DVD gravado ao vivo na Gulbenkian, com o selo da Inner Circle) foi composta nos últimos seis meses de 2016. “Foi toda escrita numa espécie de suite. O álbum tem início na peça que lhe dá nome, An end as a new beginning, e as restantes composições têm sempre uma referência a esse tema. Se o meu primeiro álbum, Directions, apontava para as várias direcções possíveis que tinham acontecido até aos meus 22 anos, este é precisamente o exercício contrário: partir de quatro, cinco referências, para fazer um álbum inteiro.” Mesmo que as músicas não tenham um título comum, diz João Barradas, “as pessoas sentem que vem tudo do mesmo sítio”.
Uma forma de renovação
Os Home começaram por tocar standards. “Aliás ganhámos o Prémio Jovens Músicos [organizado pela Antena 2 e pela Gulbenkian] a tocar jazz mainstream, todos os músicos do grupo têm um percurso no jazz tradicional. Mas quando em 2016 tivemos um concerto na Casa da Música eu já tinha a primeira música para este projecto, e era já uma música agressiva, com baixo eléctrico, uma bateria com uns pratos diferentes, as duas guitarras eléctricas a perfuraram mais o espectro sonoro, o vibrafone já com alguns efeitos e eu com acordeão-sintetizador. Percebemos que seria o som ideal para a banda e a partir daí foi fácil escrever.”
Influenciado por bandas como Weather Report, Editors ou The Mars Volta, a par de teclistas como Herbie Hancock, Joe Zawinul ou Chick Corea, João Barradas justifica o título do disco (que alude a um fim como um novo começo) com a sua maneira de olhar a vida e a música: “Sou uma pessoa positiva e vejo sempre num final uma forma de renovação. Acontece-me, muitas vezes, terminar um projecto musical e sentir que a minha ideia está a ir para um lado completamente diferente. E os Home são, para mim, um caso interessante, porque eu sempre os considerei uma espécie de side project, uma coisa menos visível, mas acabaram por ganhar uma dimensão bem maior.” Quanto ao concerto da Culturgest, diz, “é um concerto do disco, mas bastante improvisado": "Muito provavelmente, as composições vão ter versões bastante diferentes.”