Associação diz que Portugal tem um terço dos vigilantes da natureza que deveria ter
Organização acredita que muitas tragédias do último Verão poderiam ter sido evitadas caso existissem mais operacionais a vigiar o terreno.
O presidente da associação dos vigilantes da natureza defendeu nesta quinta-feira que o número destes profissionais devia ser 800 e são menos de 250 o que, aliado à falta de meios, dificulta o seu trabalho de prevenção e conservação.
"Os vigilantes da natureza deviam ser muito mais e não este número irrisório. Em Portugal são 241, no total, nos Açores, Madeira, ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas], APA [Agência Portuguesa do Ambiente], CCDR [Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, enquanto um parque qualquer em Espanha tem mais de 200 elementos", afirmou Francisco Correia.
Questionado acerca do número ideal de vigilantes da natureza, o presidente da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza respondeu que "seria cerca de 600, pelo menos, no continente, mais 100 nos Açores, mais 100 na Madeira, [totalizando] uns 800 no país".
A falta de profissionais e de meios, assim como a formação são temas em debate no XXI Encontro Nacional de Vigilantes da Natureza e nas XV Jornadas Técnicas que se iniciam nesta quinta-feira, ao final do dia, e decorrem até domingo, em Cascais, distrito de Lisboa, com a sessão de sexta-feira a marcar o Dia Nacional do Vigilante da Natureza. Os organizadores esperam que estas iniciativas contribuam para a análise dos problemas destes profissionais e consigam alertar para a urgência de os resolver.
Vão contar com a participação de representantes de oito países da Europa, além da International Ranger Federation, que reúne todas as associações de vigilantes da natureza do mundo, e da European Ranger Federation (federação europeia dos vigilantes da natureza).
"Um dos problemas mais graves é o número de efectivos que é muito diminuto comparado com os outros países e com as outras forças de fiscalização em Portugal", resume Francisco Correia, acrescentando que "a formação é escassa e os meios ao dispor para cumprir as missões são poucos".
O representante destes profissionais apontou que, "quando se fala de novos vigilantes da natureza é sempre duas dezenas ou duas dezenas e meia de 10 em 10 anos, enquanto para as outras forças de fiscalização é às centenas todos os anos".
Para Francisco Correia esta situação reflecte "uma falta de aposta dos governos na conservação da natureza e depois vê-se o que acontece, por exemplo, no rio Tejo, com a poluição, porque não há fiscalização como devia nem há meios para pôr em prática a fiscalização eficaz".
Além da acção relacionada com florestas, nomeadamente na prevenção de incêndios, muito falada nos últimos meses, devido aos grandes fogos de Junho e Outubro de 2017, os vigilantes da natureza têm outras tarefas, como a recolha de animais feridos e a fiscalização da natureza.
A associação volta a referir, em comunicado, que "muitos dos incêndios que deflagraram durante o ano de 2017 e que resultaram numa enorme tragédia humana e ambiental poderiam ter sido evitados se existisse um número suficiente de vigilantes da natureza no terreno".
Em meados de Janeiro, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse que o Governo espera duplicar o número de vigilantes da natureza durante a actual legislatura, com um novo concurso ainda este ano para a contratação de mais 25 e a intenção de, em 2019, contratar mais 25. Portugal continental tem um parque nacional (Peneda-Gerês), 13 parques naturais e nove reservas naturais, de âmbito nacional.