Presença insólita de juiz marca julgamento da Operação Fizz
Magistrado sem relação com o processo passa dez minutos na sala de audiências para “ouvir um bocadinho”. Advogado diz que juiz o tentou incomodar e questionou o tribunal por este se ter sentado na bancada dos defensores dos arguidos.
O segundo dia de julgamento da Operação Fizz ficou marcado por um episódio insólito: a entrada intempestiva pela sala de audiências do Campus da Justiça, em Lisboa, de um juiz que nada tem a ver com o caso.
“Lembrei-me de lá passar para ouvir um bocadinho do julgamento”, explicou ao PÚBLICO o magistrado Pedro Cunha Lopes, pelas mãos de quem já passaram processos como o Homeland, em que condenou Duarte Lima a dez anos de cadeia por burla e branqueamento de capitais. Depois de ter trabalhado vários anos no Campus da Justiça, o juiz está agora colocado no Tribunal da Relação de Guimarães.
O arguido e ex-procurador Orlando Figueira estava, pelo segundo dia consecutivo, a explicar aos juízes por que razão não é razoável acusá-lo de ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente quando Cunha Lopes entrou na sala e se instalou na bancada dos advogados, perante o espanto dos presentes. Antes disso tinha chocado contra um computador portátil de uma jornalista que se encontrava a cobrir o julgamento.
“Quem é o cavalheiro que acabou de se sentar?”, não se conteve o defensor de um dos arguidos, João Correia, interrompendo as explicações de Orlando Figueira. Antigo colega de Cunha Lopes, o presidente do colectivo que está a julgar este caso respondeu-lhe que era um juiz que se sentara ali por já não haver lugares livres nas bancadas destinadas à assistência. “Tentou incomodar-me com um olhar violento, mas não me intimidei”, havia de descrever mais tarde João Correia, que achou mal que tivesse sido permitido ao magistrado sentar-se junto aos advogados. Por que razão lhe teria lançado um olhar violento não disse. Dez minutos depois de se ter sentado, o juiz levantou-se e saiu.