“No DCIAP há documentos que desaparecem. Acontece tudo!”
Ex-procurador Orlando Figueira presta declarações pelo segundo dia no julgamento da Operação Fizz.
No seu segundo dia de declarações, o antigo procurador do Departamento de Investigação e Acção Penal (DCIAP) Orlando Figueira, que responde em tribunal por corrupção e branqueamento de capitais, deu uma explicação insólita para o facto de terem sido encontrados em sua casa cópias de documentos que faziam parte dos processos que teve em mãos quando trabalhava para o Ministério Público.
Durante as buscas que as autoridades fizeram na sua residência foram encontradas cópias de declarações de rendimentos de Manuel Vicente, o ex-presidente de Angola que segundo a acusação lhe pagou para o magistrado arquivar dois processos em que o governante era suspeito.
Orlando Figueira explica que quando saiu do DCIAP, em 2012, quis prevenir-se, uma vez que a sua saída da magistratura tinha dado azo a especulação sobre se iria passar a ter patrões angolanos. Daí ter feito cópias de vários processos que tinha tido em mãos, que guardou num cofre que alugou para o efeito. “Mas depois, à medida que o tempo passava, fui destruindo os documentos”, relatou.
Tantos cuidados para quê? Porque, segundo relatou esta terça-feira de manhã em tribunal, o departamento onde se investiga a alta criminalidade financeira em Portugal não é um local seguro: “Há documentos que desaparecem, que são desselados, há violações… No DCIAP acontece”, revelou, acrescentando que numa auditoria àquela repartição foi detectado o desaparecimento de escutas de suspeitos.
O arguido voltou a negar ter sido corrompido pelo ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente: “Vá lá, não dizerem que foi o Trump que me corrompeu…”