Santos Silva diz que "convém não exagerar" o facto "irritante" entre Portugal e Angola

Ministro português dos Negócios Estrangeiros recusa comentar encerramento de consulados por parte de Luanda e não teme bloqueio económico por causa do julgamento do ex-vice-presidente de Angola.

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Fernando Veludo / NFACTOS

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse hoje, em Paris, que as relações diplomáticas entre Portugal e Angola "são, neste momento, excelentes" e escusou-se a comentar a intenção de Luanda de fechar consulados em Lisboa e Faro.

"Não tenho nada a dizer. Essas comunicações são por via formal", disse o ministro, quando questionado sobre a proposta hoje conhecida que prevê que o Governo angolano encerre nove embaixadas e 18 consulados-gerais, nomeadamente os consulados de Lisboa e Faro.

"As relações diplomáticas entre os dois países são, neste momento, excelentes. Aliás, acabo mesmo agora de receber a confirmação da hora e do local do próximo encontro bilateral de alto nível entre Portugal e Angola em Davos, na Suíça entre o presidente da República de Angola e o primeiro-ministro da República portuguesa", afirmou Augusto Santos Silva.

Durante a visita à feira Maison & Objet, que arrancou esta sexta-feira e decorre até 23 de Janeiro no Parque de Exposição de Paris Nord Villepinte e em que participam mais de 100 empresas portuguesas, Santos Silva disse não temer um futuro bloqueio económico de Angola por causa da Operação Fizz, cujo julgamento envolvendo o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, está a gerar tensões entre os dois países.

"Não temo nada. Não ignoro que há aqui – como o primeiro-ministro disse, numa expressão que me pareceu feliz – um irritante. Há uma agravante que é: a solução desse irritante não está nas mãos, nem do presidente da República, nem da Assembleia da República, nem do governo. Não está nas mãos do poder político, mas com paciência, com sentido de Estado, com a responsabilidade de todos, superaremos esse irritante e convém não exagerá-lo", afirmou.

O chefe da diplomacia portuguesa insistiu que não fala sobre questões de justiça devido ao "princípio constitucional básico em Portugal – aliás, na generalidade das democracias" da independência do poder judicial face ao poder político e vice-versa.

Reiterando que "à justiça o que é da justiça, à política o que é da política", Santos Silva disse tratar apenas da política externa e, nesse sentido, o ministério dos Negócios Estrangeiros tem "tratado de forma a que o relacionamento entre Portugal e Angola se intensifique" porque é um "interesse recíproco".

"Nós temos muito densas relações históricas, partilhamos a mesma língua, pertencemos a várias organizações multilaterais e concertamos as nossas posições dentro dessas organizações e temos um relacionamento económico muito denso", declarou.

Na segunda-feira, tem início do julgamento do caso da Operação Fizz, em que o ex-vice-presidente angolano, Manuel Vicente, é acusado de corrupção activa em coautoria com o advogado Paulo Blanco e Armindo Pires, branqueamento de capitais, em coautoria com Paulo Blanco, Armindo Pires e Orlando Figueira e falsificação de documento, com os mesmos arguidos.

A Procuradoria-Geral da República recusou transferir o processo para Angola, ao abrigo de convenções judiciárias com a CPLP, o que levou o Presidente angolano, João Lourenço, a classificar como "uma ofensa" a atitude da justiça portuguesa, advertindo que as relações entre os dois países vão "depender muito" da resolução do caso.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, acompanhado pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, está em Paris, desde sexta, numa missão de diplomacia económica que descreveu como "muito importante porque a internacionalização da economia portuguesa é um dos motores do crescimento da economia e do emprego".

Esta sexta-feira, Santos Silva reuniu-se com empresários e investidores da comunidade portuguesa em França e o secretário de Estado visitou a Bijorhoca - Feira Internacional de Joalharia e a Who's Next - Feira Internacional de Moda, que ocorrem em simultâneo no centro de exposições da Porta de Versalhes e nas quais há cerca de duas dezenas de empresas portuguesas a participar.