Que acontecerá aos 13 irmãos dos EUA que estiveram em cativeiro?

A falta de comida e os maus tratos provocaram danos nos nervos em alguns e afectaram o seu desenvolvimento cognitivo.

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O casal Turpin foi ontem ouvido em tribunal e alegou inocência. Caso se venham a provar as mais de vinte acusações de tortura, maus tratos de crianças, maus tratos de adultos dependentes e detenção ilegal, os Turpin podem vir a passar o resto da vida atrás das grades ANDREW GOMBERT/ Reuters
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Perris, Califórnia: Nem os vizinhos desconfiavam da "casa de horrores" Mike Blake/ REUTERS
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Na conferência de imprensa de quinta-feira, Mike Hestrin, procurador do condado de Riverside, deixou uma lista das provações que os Turpin infligiam aos 13 filhos

O casal norte-americano que nesta quinta-feira foi acusado de tortura, maus tratos de crianças, maus tratos de adultos dependentes e detenção ilegal enfrenta a possibilidade de passar o resto da vida atrás das grades. O que acontecerá aos 13 filhos, com idades compreendidas entre os dois e os 29 anos?

Começa a ser conhecido o modo de vida daquela família residente numa zona tranquila de Perris, na Califórnia. Em conferência de imprensa, Mike Hestrin, procurador do condado de Riverside, deixou uma lista das provações a que terão sido sujeitos: Tomavam banho uma vez por ano e comiam uma vez por dia; Não podiam brincar; Por qualquer coisa podiam ser castigados. Bastava, por exemplo, que ao lavar as mãos molhassem os antebraços; Os castigos eram severos e tanto podiam ser espancados como acorrentados à cama – podiam ficar assim dias, semanas ou mesmo meses a fio, mal alimentados e sem forma de irem à casa de banho.

Mike Hestrin acrescentou que se se vier a provar que David Turpin, de 57 anos, e a mulher, Louise Turpin, de 49, são culpados das mais de vinte acusações que sobre eles pendem, poderão enfrentar uma sentença de 94 anos na prisão.“Queremos que a justiça seja cumprida até às últimas consequências, de forma a garantirmos toda a protecção a estas vítimas”, declarou.

Não é claro o que poderá ser a vida destes 13 irmãos, que foram libertados pela polícia no passado domingo, depois de um deles, uma rapariga de 17 anos, ter conseguido fugir. Agarrou um telemóvel, saltou pela janela e ligou para a linha de emergência. Ela, um irmão e uma irmã estiveram dois anos a planear aquela fuga.

O que os investigadores estão a perceber é que as crianças não têm noção do que é o mundo.

Há anos que não viam um médico. Nunca terão ido a um dentista. Questionada, a rapariga de 17 anos revelou não saber o que eram comprimidos ou sequer medicamentos. Alguns nem sabiam o que era um polícia.

Sofrem de subnutrição severa. Apenas o bebé apresenta um peso adequado à idade. A filha mais velha, de 29 anos, pesa 37 quilos. A falta de comida e os maus tratos provocaram danos nos nervos de alguns e afectaram o seu desenvolvimento cognitivo.

Raparigas e rapazes estão hospitalizados, os menores de idade num hospital e os maiores de idade noutro. A pouco a pouco, poderão adquirir um peso saudável. Mais difícil será todo o resto.

Presume-se que os irmãos venham a precisar de apoio psicológico durante muito tempo. “As vítimas podem sofrer de transtorno de stresse pós-traumático complexo, em resultado do trauma que ocorreu durante um longo período ou em cativeiro", explicou Frank Ochberg, um psiquiatra e pioneiro em ciência do trauma, à CNN.

Uma equipa de especialistas está a tentar perceber se os adultos são capazes de tomar decisões e de gerir as suas próprias vidas. Os serviços sociais aguardam também orientações dos tribunais para saber qual poderá ser o futuro das crianças.

Há várias possibilidades em aberto. No curto prazo, as crianças deverão ser colocadas em famílias de acolhimento. Depois, as autoridades deverão encontrar soluções mais definitivas, que podem passar pela família alargada ou pela adopção. O ideal seria manter os irmãos juntos, mas isso será difícil. Os avós paternos já dizem que querem estar envolvidos neste processo de decisão.

Muitos perguntam-se onde estaria a família destes irmãos? Os avós, os tios, os primos. Os familiares ouvidos até agora pelos órgãos de comunicação norte-americanos dizem que foram postos de parte. Os vizinhos também nem suspeitavam que ali mesmo, na sua rua, havia uma verdadeira casa de terror.

Só muito raramente, os rapazes e as raparigas saíam de casa. Faziam a vida à noite. Por regra deitavam-se às quatro ou cinco da manhã e dormiam o dia todo.

Tudo terá começado quando a família morava ainda em Fort Worth, no Texas. Os pais viviam à parte e de vez em quando entregariam alimentos às crianças. A família mudou-se para a Califórnia em 2010. Primeiro viveu em Murrieta, também no condado de Riverside. Em 2014, instalou-se naquela casa, em Perris.

David Turpin figura no directório do Departamento de Educação da Califórnia como o director da Sandcastle Day School, uma escola privada que funcionava em sua casa. A escola tinha seis estudantes no ano lectivo 2016-2017, um em cada ano (quinto, sexto, oitavo, nono, décimo e décimo segundo grau). Eram os seus filhos ainda menores.

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