CDS não teme nenhum líder do PSD esmagador

Partido liderado por Assunção Cristas vê vantagem no fim do voto útil.

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Cristas disse não conhecer Rio ou Santana a ponto de preferir um Nuno Ferreira Santos

Então e os debates? “Por aqui não temos visto”, comenta um deputado democrata-cristão sobre os frente-a-frente televisivos entre os dois candidatos à liderança do PSD, Rui Rio e Pedro Santana Lopes. O desabafo serve para reflectir o espírito de algum distanciamento com que os centristas dizem acompanhar a campanha eleitoral no antigo parceiro de coligação no governo. É pelo menos assim na linha mais oficial do partido.

Com um cenário provável de concorrerem às próximas legislativas em separado, o CDS empenha-se em mostrar que tem um caminho próprio e que foi aberto sobretudo pelo resultado eleitoral de Assunção Cristas em Lisboa. “Temos o nosso plano em marcha e, por isso, há distanciamento” sobre o que se passa no PSD, afirma ao PÚBLICO um dirigente democrata-cristão. “O resultado de Lisboa dá-nos alguma tranquilidade e garante-nos a viabilidade de ter caminho próprio”, diz a mesma fonte, garantindo no entanto que a opção “não é hostilizar ou fechar portas” ao PSD.

Sintomático sobre a posição de neutralidade que o CDS quer manter sobre a escolha da liderança no PSD é o anonimato das declarações sobre o assunto. Outro alto dirigente centrista sublinha que o partido não espera ser esmagado nem por Rio nem por Santana. “Não vem aí quem nos reduza a 4%. Isso não existe”, afirma. Os centristas, que têm mais ligações ao Norte do país – de onde é natural Rui Rio –, acreditam que é o ex-autarca do Porto quem poderá roubar algum eleitorado do CDS. Mais a Sul, a convicção é que Santana Lopes, um assumido católico, poderá atrair mais eleitorado à direita do PSD.

O distanciamento do CDS é também alimentado por outra convicção: a de que a geringonça esvaziou o voto útil. “O voto tornou-se mais livre”, sublinha o director do gabinete de estudos, Diogo Feio, que tem defendido que os dois partidos deveriam trabalhar em pontos de convergência rumo às legislativas, numa concertação que seria independente de uma coligação pré-eleitoral.  

A própria líder do CDS-PP assume o efeito da geringonça no voto: “Hoje os portugueses estão libertos do voto útil e aqueles que gostam das ideias do CDS e me diziam ‘gosto de vocês, mas vocês não chegam lá’ que agora sintam que podemos chegar um bocadinho lá”. Em entrevista ao PÚBLICO/Rádio Renascença, em Dezembro passado, Assunção Cristas admitiu não conhecer o suficiente nenhum dos dois para “ter preferência” e sublinha o caminho próprio que o partido tem trilhado.

Aliás, nos últimos meses, a líder do CDS tentou capitalizar a seu favor a disputa interna no PSD. Desdobrou-se em deslocações às zonas afectadas pelos incêndios, arrancou com as conferências Ouvir Portugal que vão preparar as legislativas e jogou no protagonismo da oposição nos debates parlamentares com o primeiro-ministro, apresentando até uma moção de censura. E lembram os centristas Assunção Cristas está no Parlamento ao contrário do que os candidatos à liderança do PSD.

O caminho autónomo do CDS é tanto mais sublinhado quando um dos candidatos a líder do PSD, Rui Rio, admite o bloco central. Francisco Mendes da Silva, membro da comissão política do CDS, criticou abertamente esta posição do ex-autarca do Porto. Num artigo de opinião publicado esta semana no Jornal de Negócios, o centrista considerou que “a trágica importância das declarações de Rui Rio” é que “cristalizam a ideia, que se devia combater, de que o melhor que o PSD pode esperar em 2019 é ser um mordomo obediente e aplicado António Costa”. 

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