Vaga de assaltos a turistas atinge a zona histórica de Lisboa
Registam-se mais furtos em alojamentos locais e roubos nas ruas históricas da capital. Associação do sector e PSP pretendem trabalhar em conjunto para alertar os turistas para a ameaça.
Os assaltos a turistas nos eléctricos 15 e 28 já se tornaram comuns e sobejamente conhecidos. Mas, ultimamente, há uma nova tendência: os furtos em alojamentos locais e também a estrangeiros que se passeiem no centro histórico. O aumento do número, tanto de uns, como de outros, está a atrair os gatunos e a fazer disparar os alarmes na polícia.
Segundo dados fornecidos pela PSP ao PÚBLICO, dos crimes contra turistas registados na esquadra da 1ª divisão (Rua da Palma), o número de furtos em alojamentos locais aumentou 70% de 2016 para 2017, ou seja, no ano passado houve mais 80 queixas dos que as 114 que tinham sido registadas no ano anterior. Em relação aos roubos (furtos violentos) na rua, registou-se igualmente um aumento: de 273 queixas em 2016 passou-se para as 323 no ano seguinte.
O problema, que também atinge a zona histórica do Porto, não é novidade para os moradores embora as principais vítimas sejam os turistas que, não conhecendo a vizinhança como aqueles que lá vivem há anos, acabam por sobrestimar a segurança dos locais.
O aumento de fogos de alojamento local tem potenciado a ocorrência destes crimes. Só no ano passado, deram entrada na plataforma de Registo Nacional de Alojamento Local (RNAL) um total de 4319 propriedades em Lisboa, o que perfaz um aumento de 997 registos relativamente às registadas em 2016 (números que não têm em conta as mais populares plataformas para o efeito, o Airbnb e o Booking).
Os contornos destas ocorrências, porém, não são iguais às que afectam os eléctricos 15 e 28, onde é notória a actividade de crime organizado. Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), considera que se está perante uma situação diferente: tratam-se se furtos de carácter oportunista, salientado que é um fenómeno que costuma acontecer por vagas. Mas confirma que o seu número está a aumentar e tanto atinge as casas ocupadas com turistas — que ao regressar se deparam com o desaparecimento dos seus bens — como as casas vazias, o que penaliza sobretudo os proprietários.
“Nesta época baixa, por exemplo, têm-se registado mais furtos nas casas já que os edifícios dos alojamentos estão menos ocupados”, afirma Miranda. “São indivíduos que aproveitam a ausência dos turistas para agir.”
Vitima deste tipo de furtos é Nuno (nome fictício), que explora um alojamento local em Alfama registada na plataforma Airbnb, e que diz que os últimos tempos não têm sido fáceis. “Há sempre alguém que se aproveita destas situações”, afirma. “Sabem que os turistas saem durante o dia e que se gera uma situação propícia.”
O proprietário, que há dois anos teve o seu alojamento invadido pelo telhado e pelas janelas, viu-se obrigado a colocar grades e diz ter tomado todas as medidas “possíveis e imaginárias” para manter a sua casa segura. No entanto, dá conta que por mais medidas que tome, parecem nunca ser suficientes.
“Foram instalados alarmes e portas blindadas para a protecção dos hóspedes”, conta ao PÚBLICO. “Ainda assim, em Outubro de 2017, conseguiram rebentar com as portas blindadas e levaram todos os pertences de uma família que tinha acabado de se instalar no alojamento”, diz, em tom exasperado. “Até o saco de brinquedos da filha do casal levaram”, acrescenta.
Após qualquer situação de furto, Nuno estabelece contacto imediato com a PSP e reporta também a situação à plataforma onde o seu alojamento está registado. Esta, por sua vez, presta aconselhamento aos proprietários sobre alguns procedimentos para lidar com este tipo de situações.
Face a este aumento, Eduardo Miranda dá conta que a ALEP está a desenvolver trabalho conjunto com a PSP com o objectivo de lançar algumas campanhas, como acções de sensibilização para a tomada de medidas preventivas direccionadas a proprietários mas principalmente a turistas.
“Queremos que os hóspedes estejam conscientes dos perigos”, adianta Eduardo Miranda. “Por vezes deixam janelas abertas que não sabem que dão para a rua ou não trancam bem as portas por considerarem Portugal um país seguro. Mas há que prevenir”, remata.
Texto editado por Ana Fernandes