Fernando Pinto deixa presidência da TAP a 31 de Janeiro. Antonoaldo Neves é o sucessor

Gestor brasileiro esteve à frente da companhia durante 17 anos e vai manter-se como assessor mais dois. Chinesa HNA deverá também indicar um administrador na Assembleia Geral de dia 31.

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Numa entrevista ao PÚBLICO, em 2010. MIGUEL MANSO
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Fernando Pinto e David Neeleman na assinatura dos contratos de venda entre o Estado e o consórcio Gateway de 61% da TAP, em Junho de 2015. RUI GAUDENCIO
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PAULO PIMENTA / PUBLICO

Fernando Pinto vai deixar a presidência executiva da TAP a 31 de Janeiro e o seu sucessor será Antonoaldo Neves, que foi presidente da companhia brasileira Azul e já integra a comissão executiva da transportadora aérea portuguesa como chief commercial officer (director executivo da área comercial).

A notícia foi avançada pelo Expresso e pela TVI24, que cita um email de despedida enviado por Fernando Pinto aos trabalhadores nesta quinta-feira, a que o PÚBLICO também teve acesso.

Num longo texto, Fernando Pinto fala dos 17 anos em que dirigiu a empresa, dos resultados que atingiu e do legado que deixa (uma empresa com o triplo do tamanho), e faz rasgados elogios ao seu sucessor, adiantando o seu nome aos trabalhadores.

"Os accionistas da Atlantic Gateway já propuseram o nome de Antonoaldo Neves para assumir a liderança, enquanto CEO da TAP, após a aprovação em AG no dia 31 de Janeiro. Não podia estar mais contente e entusiasmado com esta escolha para assumir os destinos da TAP. É a pessoa certa, e pela qual tenho grande admiração."

Estas alterações na administração terão que ser aprovadas numa Assembleia Geral, mas todos os nomes propostos terão que ser conhecidos até dia 16. Foi pela mão de Fernando Pinto que Antonoaldo Neves entrou na TAP há dois anos para conceber um plano de crescimento da empresa quando o actual Governo reverteu o processo de privatização da empresa.

Em simultâneo com a entrada de Antonoaldo Neves para o cargo de presidente-executivo, deverá ser também indicado um outro administrador pelos chineses da HNA, que detêm uma quota no consórcio entre a Atlantic Gateway e a Azul, dono de 45% da transportadora. Pelo lado estatal não deverá haver alterações, mantendo-se Diogo Lacerda Machado como administrador não-executivo.

Para além do chairman Miguel Frasquilho, o conselho de administração da TAP SGPS inclui o presidente-executivo, dois vogais executivos e um grupo de oito vogais. Neste último irá manter-se, por exemplo, Humberto Pedrosa, filho de David Pedrosa (que é vogal executivo).

Assessor durante dois anos: "Não é, nem jamais será, um adeus"

Embora deixe o cargo de presidente, Fernando Pinto não abandona a companhia, adiantando que se manterá, pelo menos nos próximos dois anos, como assessor. "Não é assim, nem jamais será, um adeus." Até porque, afirma, estes 17 anos foram a "experiência mais enriquecedora" da sua carreira. "O meu sentimento hoje é de absoluta realização profissional e pessoal. De missão cumprida. A empresa está no bom caminho e sinto-me plenamente realizado."

Sobre Antonoaldo Neves, Fernando Pinto desfia pontos importantes do seu currículo. "É um profissional com grande know how no sector, com experiência enquanto consultor da Mckinsey e membro do conselho de administração da empresa brasileira de aeroportos, a convite do Estado brasileiro." O gestor de 42 anos, de "perfil internacional", está ligado ao sector da aviação há cerca de 15 anos, e foi responsável pela colocação da Azul Linhas Aéreas na Bolsa de Nova Iorque e de São Paulo, "no que foi o primeiro IPO de uma empresa brasileira nos últimos três anos". Em comum, Pinto e Neves têm a dupla nacionalidade brasileira e portuguesa e também laços familiares a Portugal - Antonoaldo tem antepassados em Oliveira de Azeméis.

Empresa triplicou de dimensão

Notoriamente orgulhoso do seu legado, Fernando Pinto não se esquece de incluir vários elogios aos trabalhadores. "Só uma empresa feita de grandes profissionais nas várias áreas que a compõem consegue crescer como a TAP cresceu nestes últimos 17 anos. A TAP é hoje três vezes maior do que quando eu aqui cheguei e cresceu muito também neste dois anos de privatização."

"Acredito que devemos todos sentir-nos felizes ao ver aquilo em que a TAP se transformou: numa empresa notável que em 17 anos triplicou o seu tamanho. Três vezes mais receitas, três vezes mais passageiros, três vezes mais rotas e três vezes mais aviões", descreve ainda. A empresa voa para 85 destinos, em 35 países.

O ainda presidente lembra que em 2000, quando chegou à TAP, "tinha como missão privatizar a empresa", devido aos "constrangimentos de ordem financeira" que representava para o Estado – enormes e sucessivos prejuízos, uma dívida acumulada insustentável. "Foi, como todos sabemos, um processo difícil, feito de muitos obstáculos e dificuldades."

15 anos de "sobrevivência"

Porque enquanto a privatização não avançava, "a empresa tinha que sobreviver" - e esse foi "um dos maiores desafios" da sua gestão, admite Fernando Pinto. "Foram 15 anos de sobrevivência. Sobreviver à falta absoluta de capital, às imensas flutuações cambiais, à reestruturação da frota e por fim à chegada das low cost."

A solução foi, recorda Fernando Pinto, "tirar partido da posição geográfica do hub de Lisboa", aumentar as rotas para o Brasil, África e Europa, entrar na maior aliança de companhias aéreas, a Star Alliance. "O  balanço que faço desses anos é extremamente positivo. Todos souberam lidar com as adversidades e continuar a acreditar na empresa."

"A TAP é hoje uma companhia com uma estratégia clara e bem definida, bem posicionada numa estratégia de crescimento", afirma, acrescentando estar "absolutamente seguro de que "com a liderança de Antonoaldo, a TAP continuará neste incrível processo de crescimento". Há dias, a empresa anunciou que em 2017 transportou 14,2 milhões de passageiros, o que representa um aumento de 21,7% em relação a 2016.

Depois veio a privatização e o desenho da nova solução de gestão (45% privada, 5% dos trabalhadores e 50% estatal, através da Parpública). "A empresa tem atingido resultados históricos sucessivos e a sua saúde financeira é cada vez mais uma realidade", afirma o presidente, confiante no caminho. "Tem um quadro accionista estável, parcerias e alianças que lhe permitem voar mais alto num quadro global, com uma nova equipa de excelência, preparada e conhecedora da realidade da empresa."

"Os verdadeiros heróis destes resultados são todos vós" - é outro dos elogios que faz aos trabalhadores.

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