Guitarrista Pedro de Castro antecipa ao vivo o seu primeiro disco a solo

O guitarrista Pedro de Castro abre o ciclo Há Fado no Cais deste ano com um concerto que antecipa o seu primeiro disco a solo. Esta sexta-feira no CCB, em Lisboa, às 21h.

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Pedro de Castro na Mesa de Frades NUNO FERREIRA SANTOS
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Pedro de Castro em Alfama, na escadaria junto à Mesa de Frades NUNO FERREIRA SANTOS

Um dia perguntaram a Amália qual o segredo do seu sucesso. E ela respondeu: “Fui estando à altura das coisas que me foram acontecendo.” Pedro de Castro, guitarrista, invoca essa resposta para justificar a ausência de informações pormenorizadas sobre o seu percurso e a sua carreira. “Apesar de levar muito a sério o que faço”, diz ele ao PÚBLICO, “não me levo muito a sério. Tudo tem sido um feliz acaso. Tenho tido a sorte de acompanhar pessoas que gosto de ouvir, de ter convites para projectos interessantes, tem sido assim. Nunca houve da minha parte uma espécie de currículo.”

Nunca pensou, sequer, em inventariar os muitos discos em que participou. Mas agora, desafiado pelo Museu do Fado a gravar um disco a solo, e cabendo-lhe a abertura do ciclo Há Fado no Cais, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa (esta sexta-feira, num Pequeno Auditório já esgotado, às 21h), Pedro aceita fazer uma curta viagem ao seu passado musical.

O primeiro dado é que nasceu em São Paulo, em 29 de Agosto de 1977, porque os pais estavam no Brasil na altura. Mas a infância viveu-a em Cascais, onde os pais passaram a deles e onde ainda hoje mora. “O meu pai foi, até perto dos 30 anos, músico profissional. Tocava baixo, piano, esteve na banda da Marinha e naquelas bandas dos anos 60. E havia uma proximidade muito grande com a comunidade fadista: os amigos dos meus pais eram os fadistas, os músicos, os tocadores, que eram visitas lá de casa.” Isso levou-o, desde muito novo, às casas de fado de Cascais. “As crianças não podiam lá ir, mas eu podia porque todos me conheciam. Punham-me duas cadeirinhas e eu ficava lá a dormir.”

“Atirado às feras”

Com 5 anos, começou a aprender piano, num enquadramento clássico. A guitarra veio mais tarde, quando, tinha ele 14 anos, por influência do guitarrista José Luís Nobre Costa (que viria a ser o seu mestre): “Ele tinha recebido uma guitarra nova do mestre Grácio e, na euforia de ver qual era a que tinha melhor som, passou-me uma das guitarras para a mão e disse: ‘toca aí nessa corda.’ E deu-me uma sequência para fazer.” E ele aprendeu depressa: “Até à hora do jantar já sabia fazer a sequência.” À conclusão “o puto tem jeito” seguiu-se uma decisão: dar-lhe uma guitarra como prenda de aniversário.

Começava aí uma “fase de encantamento” com a guitarra, que dura até hoje. Nas casas de fado, José Luís Nobre Costa dizia-lhe para estar ao lado dele, a ver os acordes. Começou no Arreda, ainda incipiente, e passou depois ao Amália Clube de Fado, onde “já sabia umas notas.” E viu-se empurrado a acompanhar fadistas com repertórios muito diversos. “Isso deu-me uma certa responsabilidade de ensaio e de preparação. Fui atirado às feras.”

Três vozes-surpresa

Pedro de Castro, que há anos dirige a casa de fados Mesa de Frades (em Alfama), já tocou em muitos discos, mas há um de que particularmente se orgulha: Há Guitarra, de José Luís Nobre Costa, ao lado do qual ele participa, também na guitarra, com Francisco Gonçalves à viola e o decano Joel Pina no baixo. Infelizmente, Nobre Costa (1948-2014) não sobreviveu para ver o disco editado (em 2017), apesar de ter ouvido a gravação.

Agora, no CCB, vai apresentar aquilo que será um esboço do seu primeiro disco a solo, a editar ainda este ano. Na guitarra estará sempre ele, tal como na viola baixo estará sempre Francisco Gaspar, mas haverá três violas de fado distintas: “Começo o concerto com o Jaime Santos Jr., depois com o Artur Caldeira e por fim com o André Ramos. No final tocamos todos ao mesmo tempo.” Serão, assim, três partes distintas: com Jaime Santos Jr. será tocado um repertório que integra vários temas do seu pai, Jaime Santos; com Artur Caldeira será “uma coisa muito mais Coimbra, com um conceito mais erudito”; e com André Ramos ouvir-se-á “aquele repertório mais tradicional de guitarra portuguesa.”

Autores? Armandinho, Jaime Santos, Carvalhinho, Raul Nery, Fontes Rocha, José Luís Nobre Costa, Pedro Caldeira Cabral, Zé Camarinha, Manuel Marques, José Nunes, entre outros. E há ainda três fadistas convidadas. Que Pedro não revela, para ser surpresa.

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