Coreia do Norte pode estar a usar criptomoeda para contornar sanções

Empresa de cibersegurança descobriu software que permite a criação e envio de criptomoeda para um servidor de uma universidade norte-coreana.

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Thomas White/REUTERS

Uma empresa de cibersegurança disse ter descoberto um software que instala códigos para gerar criptomoedas e enviar as moedas geradas para um servidor numa universidade norte-coreana, o mais recente sinal de que a Coreia do Norte pode estar a tentar novos modos de fazer chegar dinheiro à sua economia.

A aplicação, que foi criada a 24 de Dezembro, usa os computadores em que é instalada para gerar uma criptomoeda chamada Monero. A empresa de cibersegurança AlienVault, que examinou a aplicação, diz que as moedas são enviadas para a Universidade Kim Il Sung em Pyongyang.

As criptomoedas podem ser um salva-vidas para um país atingido por sanções económicas, e por isso as universidades de Pyongyang têm mostrado um grande interesse nelas”, disse a empresa californiana.

O servidor a que está ligado fica na Universidade Kim Il-sung, onde há estudantes e professores estrangeiros. A Alien Vault sublinha que o facto de remeter para este servidor pode ser um truque, ou uma piada, destinada a despistar quem investigue esta criptomoeda.

Mas não é a primeira vez que surgem indícios do interesse crescente da Coreia do Norte em criptomoedas e na tecnologia blockchain associada (uma base de dados que foi inventada com as bitcoins há nove anos, e que pode ser usada para outros fins que não pagamentos digitais). “Com sanções económicas em vigor, as criptomoedas são hoje o melhor modo de obter moeda estrangeira na situação da Coreia do Norte. É difícil de seguir-lhe o rasto e pode ser lavada várias vezes”, disse Mun Chong-hyun, analista senior na empresa de cibersegurança sul coreana ESTsecurity.

Observadores do mercado de criptomoedas dizem que os detalhes técnicos da Monero, a 13.ª maior criptomoeda do mundo, segundo a www.coinmarketcap.com, com um valor total de mais de 7000 milhões de dólares, a torna mais apelativa do que a bitcoin para quem dá valor ao sigilo.

As criptomoedas são guardadas em carteiras digitais, que têm um endereço específico. No caso da Monero, o endereço é gerado com números aleatórios, de cada vez que é feito um pagamento. Isso faz com que seja mais difícil de seguir os fundos do que na bitcoin.

A empresa de cibersegurança FireEye mencionava ainda actividades norte-coreanas contra alvos de criptomoedas da Coreia do Sul. O analista Luke McNamara escreveu em Novembro que “não deveria ser surpresa se as criptomoedas, como uma classe de activos emergentes, se estejam a tornar um alvo de interesse de um regime que opera como uma empresa criminosa”.

Em Novembro, o co-fundador da startup Chainside, Federico Tenga, deu uma série de aulas na Universidade de Pyongyang sobre a tecnologia de blockchain.

“Estes ensinamentos podem dar à próxima geração de profissionais norte-coreanos conceitos valiosos para o desenvolvimento do país”, disse um porta-voz da universidade, acrescentando: “Estamos profundamente conscientes das questões ligadas às sanções e esforçamo-nos por evitar áreas sensíveis ou proibidas.”

Tenga disse que a ideia foi explicar a tecnologia “e não sugerir como a usar”.

O relatório da AlienVault indicava que um endereço de IP norte-coreano activo em sites de comércio e troca de bitcoins é o mesmo usado para controlar servidores comprometidos num ciberataque em instituições de energia, tráfego, telecomunicações, finanças e política da Coreia do Sul em 2014-15, de acordo com a empresa AhnLab.

O relatório também notou que este endereço tinha feito download de vários episódios da série televisiva britânica Top Gear e documentários do antigo apresentador do programa de automóveis, James May