Rio admite que parte das pensões varie em função da economia
Candidato à liderança do PSD lança uma ideia nova: definir um tecto mínimo para as pensões, mas com componente variável associada ao PIB e desemprego. Um dia depois da derrota no debate, Rui Rio acusa Santana de usar “truques” e “mentiras”, prejudicando a imagem do partido.
E se uma parte das pensões passasse a estar dependente do crescimento da economia e do desemprego? Um dia depois do debate com Santana Lopes, que não correu bem, Rui Rio dá um passo em frente e arrisca lançar uma ideia para a campanha. Numa entrevista concedida ao PÚBLICO e Renascença na manhã seguinte ao duelo (que será publicada na segunda-feira), o candidato a líder do PSD aponta um novo caminho para dar maior sustentabilidade à Segurança Social.
“Uma parte pequena da reforma - mas com efeito no total — pode estar indexada, por exemplo, a uma taxa de desemprego, a uma taxa de crescimento do PIB — pode estar indexada a três ou quatro factores. E, portanto, [o pensionista] sabe que a sua pensão abaixo de ‘x’ nunca desce, mas depois pode ser um bocadinho mais ou um bocadinho menos”, defende Rui Rio. Mas ainda vai mais longe na concretização: “Imagine que a sua pensão é de mil euros — ninguém mexe aí — mas num ano pode ser de 1100, noutro ano de 1200, noutro de 1150 em função de indicadores económicos”.
A ideia é nova — e nem é aflorada na moção de estratégia que Rui Rui entregou na sede do PSD, para ir a votos. Nesse texto, aliás, Rio chega a dizer que este “não é o momento para apresentar propostas sectoriais de um programa”, porque essas terão que ser trabalhadas cuidadosamente até às legislativas. Mas agora, com a campanha mais dura e a chegar ao fim, põe uma ideia em cima da mesa. Sempre com uma reticência: “Atenção: não estou a propor, estou a dizer que é um dos temas que se pode pôr em cima da mesa para, abertamente, debatermos todos”.
A verdade é que o primeiro duelo com Santana deixou marcas no candidato. Na entrevista ao PÚBLICO/RR, o ex-autarca do Porto admite que “não gostou” do debate, afirma que foi alvo de ataques com “truques”, com “mentiras e meias verdades” — e que já o tinham “avisado” sobre a estratégia do antigo primeiro-ministro.
“Eu não gostei do debate. E se eu tenho entrado na mesma táctica que entrou o meu adversário, qual seria a imagem que o PSD tinha dado ao país?”, diz agora Rui Rio, admitindo ter sentido que estava num duelo semelhante ao que aconteceu entre António Costa e António José Seguro na disputa interna do PS em Setembro de 2014. “Isso entristece-me porque eu fui para ali debater os problemas do país, do PSD”, lamentou.
Questionado sobre se o frente-a-frente confirmou a as reticências que tinha sobre debates, Rio negou ter essas objecções, mas admitiu que “têm muito de fait-divers”. “Os debates, seja onde for, na América ou na Europa, têm truques. Eu também sei fazer esses truques”, afirmou, justificando a sua posição com a necessidade de “não abrir feridas” que não possam ser “saráveis”, depois das eleições directas do próximo sábado.
Depois do primeiro embate televisivo, o que ficou a pensar de Santana Lopes? “Já me tinham avisado, apesar de eu o conhecer bem, que ele poderia ir por um caminho deste género”, revelou, embora admita surpresa. “Pensei que não iria tão longe. Pensei que só jogasse com verdades e não com meias verdades”, disse, referindo-se à acusação de ter falado numa iniciativa da Associação 25 de Abril, em 2013. Essa acusação — considerou — “é grave do ponto de vista democrático”.
O ex-autarca do Porto teme pela imagem “degradante” que o PSD poderia dar, se entrasse “no mesmo jogo” do seu adversário. E deixa um aviso sobre a sua postura nos próximos debates televisivos: “Não colaboro”.
Santana Lopes, reagiu a estas declarações durante a tarde: "Ninguém usa truques. Se há algo que, julgo, passe a presunção, me caracteriza é falar com espontaneidade, dizer o que me vai na alma e na mente. Para o bem e para o mal", afirmou aos jornalistas, à margem da visita a uma dependência da Misericórdia de Cascais.
A ideia de que o debate de quinta-feira, na RTP, correu melhor a Santana Lopes do que a Rui Rio é assumida, mesmo que implicitamente, até por apoiantes do ex-autarca do Porto, que sentem necessidade de sublinhar — em declarações ao PÚBLICO — que as hipóteses de Rui Rio não saíram beliscadas.
Para o antigo líder da concelhia portuense do PSD, Miguel Seabra, “de forma geral, [o debate] correu bem” a Rio. Pelo menos naquilo que “é substantivo e mais relevante”, ou seja, nas ideias para o partido e para o país.
Se Rui Rio “tentou falar do país”, considera Paulo Rios de Oliveira, deputado do PSD eleito pelo círculo do Porto e também apoiante do antigo autarca, Santana adoptou “um discurso mais auto-explicativo”. Essa abordagem “empobreceu o debate e tirou-lhe interesse”, lamenta.
O deputado social-democrata avisa que tanto os militantes como os portugueses estão mais interessados nos projectos que cada candidato à lifderança do PSD tem para o país do que no que se passou na década anterior.
A parte das “trapalhadas” de 2004, que se esperaria que fragilizasse Santana, acabou por ser um round que este não só ganhou como até tornou penoso para Rio. Miguel Seabra acredita que Rui Rio poderia ter sido mais “eficaz” no contra-ataque e “enumerado um sem número de trapalhadas que existiram”, como Santana desafiou o adversário a fazer. Para o ex-líder da concelhia, o que aconteceu, mais do que um bloqueio, foi que o antigo presidente da Câmara do Porto “não quis baixar o nível do debate”, e “só por isso não respondeu”.
Paulo Rios Oliveira afirma que o confronto “ficou um bocadinho aquém das expectativas”. Mas mais por “influência de Santana Lopes do que por influência de Rui Rio”. Segundo o deputado, o antigo primeiro-ministro direccionou o debate “para a trica, para a história e para o pequeno ataque”. Para Rios Oliveira, a questão principal é saber qual dos dois candidatos à sucessão de Passos Coelho “tem um discurso, um comportamento e uma postura de primeiro-ministro?”
Miguel Seabra acredita que os dois debates que restam já não vão passar tanto pela questão do passado de cada um. “Santana Lopes gastou a artilharia toda em relação ao passado. Os próximos debates obrigarão os candidatos a falarem mais do que pretendem para o país e dos seus projectos”.
Outro destacado apoiante de Rio, Alberto Machado, o actual presidente da concelhia social-democrata do Porto, disse ao PÚBLICO não poder fazer comentários por não ter assistido ao debate. com Camilo Soldado e David Dinis
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