Desde 2011 que não se ia tanto ao cinema em Portugal

Velocidade Furiosa, Gru e A Bela e o Monstro dominaram os rankings num ano em que se venderam mais de 15 milhões de bilhetes. Joaquim Leitão e os filmes sobre Fátima foram os mais vistos da produção nacional.

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Velocidade Furiosa 8 DR
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A Bela e o Monstro,A Bela e o Monstro ,
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Os Últimos Jedi DR
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As Cinquenta Sombras mais Negras
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Gru
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O Fim da Inocência dr

2017 foi o melhor dos últimos cinco anos para a exibição de cinema em Portugal. A fasquia dos 15 milhões de espectadores em sala, um número que já não era visto desde 2011, voltou a ser ultrapassada — e as receitas foram as mais elevadas desde 2010, alimentadas pelos fãs de Velocidade Furiosa 8, Gru – O Maldisposto 3, A Bela e o Monstro e por um Dezembro dominado por Star Wars. No cinema português, 2017 tem duas marcas: Joaquim Leitão e os filmes sobre Fátima.

Os dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) — compilados pelo PÚBLICO a partir dos números até 31 de Dezembro já tornados públicos, que devem ainda ser revistos nas próximas semanas com os acertos de alguns exibidores – confirmam a curva ascendente desde 2015, quando dos 12 milhões de espectadores de 2014 se passou para 14,6 milhões, subindo depois para os 14,9 de 2016 e agora para os cerca de 15,4 milhões de pessoas que foram ao cinema em Portugal em 2017. No início deste século XXI, cerca de 18 milhões de espectadores viam cinema em sala, mas os números foram caindo para a casa dos 16 milhões e, depois, dos 15 milhões (15,7 em 2011) até ao pior ano, 2014, para depois começar a recuperação que agora se consolida.

No que toca às receitas brutas de bilheteira, as mesmas contas mostram que terão ultrapassado os 81 milhões de euros em 2017, também um crescendo regular nos últimos três anos – a par dos 82,2 milhões de euros de 2010, são os melhores resultados da década. Recorde-se que os bilhetes estão mais caros nos últimos anos e que existem cada vez mais opções premium como as das salas VIP ou Imax, que tendem a inflacionar, sobretudo em anos como este, marcado pelos blockbusters e pelos filmes-espectáculo, o valor global dos ingressos.

Imune a quaisquer guerras nas estrelas e às animações, o filme mais visto do ano foi Velocidade Furiosa 8 – em parte, aliás, 2017 espelha 2015, o ano da recuperação, que já tinha sido dominado pela mesma série que mistura street racing heist movies e pelos bonecos amarelos saídos de Gru – O Maldisposto. O terceiro capítulo de Gru foi o segundo filme mais visto de 2017, numa lista dominada pela habitual mistura de animação e sequelas. Um único título quebra a tendência: o musical La La Land.

Ora se mais uma aventura motorizada de Dominic Toretto e amigos encaixou 4,3 milhões de euros e levou às salas mais de 787 mil espectadores, Gru foi visto por 589 mil pessoas (2,8 milhões de euros) e A Bela e o Monstro, versão acção real, completa o pódio com 535 mil espectadores e 2,8 milhões de receitas. Os restantes filmes do ano são mais sequelas — As Cinquenta Sombras mais Negras (2,3 milhões de euros e 436 mil espectadores), Piratas das Caraíbas: Homens Mortos não Contam Histórias (2,2 milhões, 410 mil espectadores), Star Wars: Os Últimos Jedi (2,1 milhões de euros e 341 mil espectadores) —, seguidas por The Boss Baby (1,7 milhões, 356 mil euros), Emoji: o Filme (1,5 milhões, 314 mil pessoas), o reboot Baywatch: Marés Vivas (1,4 milhões, 289 mil espectadores) e, por fim, o fenómeno dos Óscares La La Land: Melodia de Amor (1,4 milhões, 274 mil pessoas em sala).

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La la land: Melodia do Amor DR

Fátima e a inocência

Não houve filmes nacionais entre os 40 mais vistos e mais rentáveis de 2017, lista o ICA. Mas Joaquim Leitão e o fenómeno (também cinematográfico) de Fátima dominaram o ano em português, com O Fim da Inocência, o mais recente filme do autor de Tentação, a ser o filme português mais visto, com 76,8 mil espectadores e 414 mil euros de receita bruta de bilheteira. Estreado no último dia de Novembro, destronou Jacinta, o biopic de uma das três videntes do chamado milagre de Fátima, realizado por Jorge Paixão da Costa: visto por 45 mil pessoas, rendeu 240 mil euros.

Jacinta é um dos três filmes estreados em 2017 sob o signo das aparições, cujo centenário se assinalou este ano; em quinto lugar no ranking da produção nacional compilado pelo ICA está outro, Fátima, de João Canijo (24.379 espectadores e 118 mil euros de receitas). Depois, no sétimo surge Peregrinação, de João Botelho, que foi visto em sala por 20 mil pessoas e obteve 106 mil euros de receitas. Joaquim Leitão volta a surgir no top ten de 2017 com o décimo filme português mais visto do ano — Índice Médio de Felicidade (8967 espectadores em sala e 43,4 mil euros em vendas de bilhetes).

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O elenco de "Fátima", de João Canijo Paulo Pimenta

Os restantes dez filmes portugueses mais vistos do ano são Perdidos, de Sérgio Graciano (terceiro lugar, 43.600 espectadores), São Jorge, de Marco Martins (quarta posição e 41.970 espectadores), Alguém Como Eu, de Leonel Vieira (sexto lugar, 24.172 espectadores), Malapata, de Diogo Morgado (oitavo lugar, 18 mil espectadores) e 100 Metros, de Marcel Barrena, na nona posição, com 16.633 espectadores. São Jorge foi o filme escolhido como candidato português a uma nomeação para o Óscar de Filme Estrangeiro, bem como aos prémios espanhóis Goya, tendo o protagonista Nuno Lopes recebido o prémio de Melhor Actor na secção Horizontes do Festival de Veneza. A Fábrica de Nada, filme do ano para o Ípsilon, e vem recolhendo um número crescente de prémios no circuito dos festivais, entre os quais o prémio da crítica em Cannes, foi visto por 7489 pessoas em Portugal, fixando-se assim como o 12.º filme português mais popular em 2017.

Em comparação com o ano anterior, o cinema português teve uma fatia menor do bolo das idas totais ao cinema – A Canção de Lisboa, o último remake do trio encetado com O Pátio das Cantigas e O Leão da Estrela, foi então só por si responsável por um encaixe de 944 mil euros e 187,5 mil espectadores nas salas.

O retrato do ano de 2017, que parece continuar a ser dominado pela Nos na distribuição e na exibição, completa-se com a confirmação de que Dezembro terá sido o segundo grande mês do ano para o box office. Em Abril, segundo dados já consolidados do ICA revelados em Novembro, venderam-se 1,8 milhões de bilhetes; em Dezembro, terão sido mais de 1,6 milhões. Os mesmos dados mostram que Setembro, Outubro e Novembro foram os meses menos positivos do ano, com vendas abaixo de um milhão de espectadores.

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