Quando o jardim do Reid’s Palace se transforma em palco de orquestra

Exceptional Music in Exceptional Locations é o nome do programa que o grupo Belmond inaugurou no hotel do Funchal. O Belmond Reid’s Palace, em processo de renovação, acolheu um concerto irrepetível com vista para o mar.

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Kevin Lin está num dos extremos do palco, de violino na mão, olhar concentrado. Prepara-se para tocar uma peça composta por Johannes Brahms, mas o vento do final de tarde prega-lhe uma partida. A partitura solta-se do suporte, mas Lin parece imperturbável. Num dos jardins do Belmond Reid’s Palace, no Funchal, cinco solistas da Orquestra Filarmónica de Londres dão um concerto com vista para o Atlântico. É a estreia mundial de um programa Exceptional Music in Exceptional Locations, do grupo Belmond, que escolheu a Madeira para o arranque de uma série de concertos em cenários irrepetíveis.

À obra de Brahms, composta no mesmo ano em que o Reid’s abriu as portas (1891), juntou-se a de José Vianna da Motta, compositor e pianista português que passou pelo hotel centenário em 1895. A escolha não foi casual: fazer a ligação entre a música interpretada e a localização do concerto é um dos propósitos deste programa. Este hotel de fachadas cor-de-rosa voltadas para o mar é palco de concertos desde a década de 20 do século XX, quando uma orquestra animava as horas dos hóspedes banhistas.

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Agora, cem anos depois, no Inverno primaveril da ilha da Madeira, o quarteto de cordas e um clarinetista da Orquestra Filarmónica de Londres sobem ao pequeno palco de madeira construído propositadamente para a ocasião. Empoleirado entre a irregular calçada madeirense e o verde do jardim, o palco está de costas para o mar e enquadrado por palmeiras. O olhar de quem assiste ao concerto oscila entre os músicos e os barcos que circundam a ilha, lá em baixo. Não fossem as câmaras de filmar e os ocasionais smartphones apontados aos músicos e poderíamos ter viajado no tempo, até ao ano de abertura do Belmond Reid’s Palace e ao silêncio solene do momento.

E essa é uma sensação que se repete enquanto nos passeamos pelos muitos corredores do hotel, cheios de mobiliário vintage e muitas fotografias de hóspedes ilustres. Há árvores de Natal em cada recanto, muitas vezes aos pares, e sofás estrategicamente colocados ao lado das janelas envidraçadas — para ver o mar, claro. Já para não falar do chá da tarde, servido no terraço há mais anos do que aqueles que conseguimos contar, com direito a pratos de três andares recheados de sanduíches, scones e pastelaria.

Tal como o chá, também o pequeno-almoço do Belmond Reid’s Palace parece saído do melhor filme britânico de época. E, dizem-nos, o facto de ser servido no The Dining Room e não na sala habitual, sobre uma piscina que se prolonga mar adentro, retira-lhe algum impacto. A culpa é das obras de renovação que o hotel tem vindo a sofrer, nos últimos anos, e que provoca uma espécie de confronto de gerações entre espaços contíguos.

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Se a entrada para este hotel de cinco estrelas é feita através de uma sala saída das páginas de uma revista de decoração daquelas pensadas para deixar o leitor a suspirar — mosaico claro no chão, candeeiros grandes e marcantes, sofás colocados de forma simétrica, árvores de Natal até ao tecto —, a passagem para a área dos quartos, mais restrita, já “grita” uma outra década. A mudança está a ser feita, explica-nos Ciriaco Campus, o director geral, uma página de cada vez. Os números do hotel ajudam a explicar: são 158 quartos, 35 deles suítes, três piscinas e quatro restaurantes, servidos por 250 funcionários.

O concerto, ainda que único e irrepetível, funciona como recordação em tempo real dos tempos em que Winston Churchill, George Bernard Shaw ou a imperatriz Sissi da Áustria se passeavam pelas salas do Reid’s. O momento seguinte do Exceptional Music in Exceptional Locations vai acontecer, ainda em data a anunciar, no Belmond Hotel Rio Sagrado, no Peru.

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A Fugas esteve no Funchal a convite do Belmond Reid’s Palace

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