Um best of do pop-rock português para os primeiros minutos de 2018

Em Lisboa, a entrada no novo ano vai ser celebrada na Praça do Comércio, com as vozes de Ana Bacalhau, Lena D'Água, Miguel Ângelo e Samuel Úria, entre outros. Luís Varatojo, o director artístico do espectáculo, conta como vai ser.

Passar de ano a cantar as músicas que todos sabem de cor Nuno Pacheco, Sibila Lind

No início do ano desafiaram-no a fazer um concerto para celebrar o 25 de Abril e ele apresentou Canções para Revoluções, com temas ligados a processos revolucionários ibero-americanos. Foi na Praça do Comércio e juntou dezenas de músicos e muitos milhares na assistência. Agora, a fechar o ano, ou melhor, a começar 2018, Luís Varatojo apresenta na mesma praça, e também a convite da EGEAC, um espectáculo destinado a celebrar grandes êxitos do pop-rock português.

Será depois do tradicional fogo-de-artifício, com as vozes de Ana Bacalhau, Ana Deus, Lena D’Água, Luís Portugal, Miguel Ângelo, Rui Pregal da Cunha, Samuel Úria, Viviane e Xana. E a banda de suporte tem também nomes fortes, como, entre outros, Francisco Rebelo, no baixo (Orelha Negra, Cool Hipnoise), Marco Nunes, na guitarra (Blind Zero, Pedro Abrunhosa) ou Diogo Santos, nas teclas (Miguel Araújo). Isto além de coros e secções de sopros e cordas.

Mas o programa musical que a EGEAC preparou para a Praça do Comércio inicia-se ainda na fase de contagem decrescente para 2018: Ana Moura actua a 29 de Dezembro; no dia 30, é a vez de Lura e Bonga entrarem em cena; e no dia 31, a partir das 22h, sobem ao palco Marta Ren & The Groovelvets e os Capitão Fausto. O fogo-de-artifício terá banda-sonora do duo Beatbombers (Stereossauro e DJ Ride).

Luís Varatojo (A Naifa, Peste & Sida), director artístico do espectáculo, explica o conceito: “A ideia foi juntar vozes que fazem parte da história da pop-rock nacional, sobretudo dos anos 80 e 90. Em Inglaterra isto faz-se bastante, sobretudo naquelas galas para a rainha, onde se juntam artistas novos e velhos, porque todos fazem parte da história da música inglesa. Aqui, a EGEAC achou que era uma boa ideia para comemorar a entrada em 2018, recordando um pouco da história da música pop portuguesa.”

Rui Pregal da Cunha, fundador e vocalista do Heróis do Mar, acrescenta: “Estamos a falar de músicas aglutinadoras da psique portuguesa. Não são só os lisboetas que conhecem estas canções, é toda a gente.” E o repertório é bastante variado, sublinha Luís: “Vai desde os Heróis do Mar e do Jáfumega aos Rádio Macau ou aos Três Tristes Tigres. A banda é bastante grande, é quase uma orquestra, para que as duas horas de concerto tenham dinâmica, uma série de cores e sonoridades.”

Canções com passado e futuro

Em Portugal há, historicamente, vários cancioneiros, do mais tradicional ao mais recente, e o seu relevo tem uma importância variável consoante as diferentes gerações de ouvintes. Rui Pregal da Cunha: “Não os ponho em sacos diferentes. Porque são tradições orais, cantadas, que vão testando até aos limites o passar do tempo. De certeza que nenhum dos autores do que nós vamos agora cantar fez aquilo com a ideia de que iria resistir este tempo todo. Fizeram-no porque lhes ia na alma.” Mas há sons que ficam, e apontam ao futuro. Luís Varatojo: “As canções que estão aqui são clássicos, acabam por passar as épocas. Às vezes o som parece um pouco datado, mas na sua maior parte são intemporais, mesmo em termos de assunto. Por isso continuam a fazer parte do dia-a-dia de muita gente. Há rádios que só passam estas músicas, e têm uma brutal audiência. E há bandas cuja música é herdeira desta tradição. Como os Capitão Fausto ou o Samuel Úria, por exemplo.”

Ambos olham para as novas gerações de músicos portugueses com optimismo. “Têm ferramentas que nós não tínhamos, conseguem ouvir tudo. Além disso, são muito bons músicos, grandes letristas. Gosto muito. E acho que há mais boa música neste momento do que havia no meu tempo”, considera Rui. O que, intervém Luís, também pode trazer dificuldades: “É mais difícil transformar uma canção num clássico porque a batalha é muito maior. Há muito mais concorrência do que havia nos anos 80. E se calhar também por aí as pessoas dispersam-se, ouvem muito mais coisas. E para estes artistas mais novos é mais difícil furar, apesar de terem mais ferramentas.”

Poderão as canções de hoje vir a integrar um repertório de novos clássicos daqui a 20 anos, por exemplo? Luís Varatojo hesita. “Não tenho a certeza de que isso vá acontecer. Aí não sou tão optimista. Esta coisa de termos acesso a tudo também tem um lado mau, que é a aculturação: somos tão bombardeados, tão bombardeados, que não sei se esta música de agora vai perdurar. É uma dúvida só, para alguém estudar o assunto.” 

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