Jornalista morto na festa de Natal da escola do filho

Gumaro Anguilando, que tinha 34 anos, acompanhava o tema do crime organizado e fazia parte de um programa governamental de protecção de jornalistas desde 2015.

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Apesar do registo de 65 mortes em 2017, os Repórteres Sem Fronteiras indicam que este foi o ano menos mortífero para a profissão desde 2003 LUSA/KIM LUDBROOK

Gumaro Pérez Aguilando, um jornalista mexicano de 34 anos, foi morto a tiro nesta terça-feira na festa de Natal da escola do filho, no estado de Veracruz, no México. Pérez é o 12.º jornalista morto naquele país este ano.

O homicídio ocorreu na mesma semana em que a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou o número de jornalistas mortos em trabalho, ou por causa destas. Apesar de 65 jornalistas terem sido assassinados ou terem morrido em reportagem, o ano de 2017 é o menos mortífero dos últimos 14 anos.

O homicídio de terça-feira teve lugar na cidade de Acayucan, quando um grupo de homens entrou na escola e matou o jornalista à frente de uma sala cheia de alunos, de acordo com o jornal The Guardian.

A morte de Pérez deixa o México no topo da lista de países mais perigosos para os jornalistas, a par com a Síria, de acordo com os Repórteres Sem Fronteiras (RSF). No total, e com o homicídio de Pérez, 12 jornalistas morreram em cada um destes países em 2017. No caso da Síria, o número é explicado com um conflito armado desde 2011; no México é a luta entre cartéis rivais do tráfico de droga que se revela fatal para os jornalistas. 

“O pesadelo continua”, disse o jornalista Miguel Ángel Díaz ao The Guardian. “Ninguém nos protege. Os criminosos têm permissão para fazer o que quiserem”.

Pérez, que acompanhava notícias sobre crime organizado e que fundou o site de notícias La Voz del Sur, numa das cidades onde um cartel de drogas é particularmente activo, fazia parte de um programa governamental de protecção de jornalistas desde 2015, segundo o The Telegraph. No entanto, “nunca tinha denunciado qualquer tipo de ameaça contra ele”, explicou uma responsável daquele programa.

Veracruz, um estado que se estende ao longo da costa do golfo do México, tornou-se um dos lugares mais perigosos do mundo para se ser jornalista. Gumaro Pérez Aguilando foi o quarto repórter a ser morto naquele estado em 2017.

O The Guardian lista outros casos ocorridos este ano no México, como o de Cándido Ríos Vázquez, que também estava ao abrigo de um programa de protecção do Governo federal e que foi morto em Agosto depois de ter recebido ameaças de um autarca na região. Um mês antes, o fotojornalista Edwin Rivera Paz foi baleado e morto por homens armados em Acayucan. Miroslava Breach, outra jornalista que cobria actividades criminosas no Norte do estado de Chihuahua, foi morta a tiro em Março, quando levava o filho à escola.

Apesar do balanço dos RSF, que regista essa redução do número de jornalistas vítimas de homicídio devido à sua actividade, os ataques à liberdade de imprensa prosseguem em vários pontos do globo, incluindo na União Europeia. Recentemente, uma jornalista que liderava a investigação aos Panama Papers em Malta foi assassinada através da detonação de uma bomba no seu carro.

A morte da referida jornalista maltesa, Daphne Caruana Galizia, é também exemplo de uma tendência que se destacou este ano: a perda de vidas entre repórteres do sexo feminino. Em 2017 morreram dez mulheres jornalistas no exercício da sua profissão, ou por causa desta. É o dobro do número registado em 2016.

Para além das mortes, multiplicam-se ainda as detenções. Este mês, dois jornalistas da Reuters foram detidos na Birmânia, acusados de aceder a documentos confidenciais. Os dois repórteres cobriam o conflito no estado de Rakhine, que levou centenas de milhares de civis rohingyas a fugir das suas casas e a comunidade internacional a acusar as autoridades da Birmânia de actos de limpeza étnica.

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