Rússia e China acusam Trump de regressar aos tempos da Guerra Fria

Nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos refere-se aos dois países como "potências rivais". Moscovo fala em "carácter imperialista" e Pequim em "mentalidade da Guerra Fria".

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A relação entre Donald Trump e Xi Jinping tem-se baseado na questão da Coreia do Norte Reuters/CARLOS BARRIA

A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, revelada esta semana pelo Presidente Donald Trump, foi recebida com um coro de críticas nos governos da Rússia e da China, países que passaram a ser rotulados em Washington como potências rivais apostadas em "desgastar a segurança e a prosperidade da América" – uma definição que não é nova quando se fala da Rússia, mas que colide com a ideia de concorrência estratégica desenvolvida nas últimas décadas com a China.

Tanto num caso como noutro, as críticas centram-se na acusação de que os Estados Unidos não conseguem aceitar um mundo com mais do que uma potência – ela própria.

"O carácter imperialista deste documento é óbvio, tal como é óbvia a recusa da renúncia a um mundo unipolar", disse esta terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, numa conferência de imprensa em Moscovo.

Peskov respondeu assim ao anúncio feito na segunda-feira pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a nova estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos. Apesar de manter no novo documento o desejo de que as relações bilaterais com a China e a Rússia sejam cada vez melhores, a Casa Branca refere-se agora aos dois países em termos  mais duros do que aquilo que acontecia, pelo menos em público, durante a Administração Obama.

Este novo posicionamento é mais assinalável no caso da China, já que as relações entre os Estados Unidos e a Rússia agravaram-se muito logo após o início da revolução na Ucrânia, no início de 2014 – seguida da guerra no Leste da Ucrânia e da anexação da península da Crimeia pela Rússia.

Ainda assim, as palavras que o documento da Casa Branca reserva para a Rússia são particularmente duras, já que surgem no fim de um ano em que Donald Trump tem sido acusado de mostrar algum fascínio pela figura do Presidente russo, Vladimir Putin – e de estarem a ser investigadas suspeitas de conluio entre figuras próximas de Trump e o Governo russo durante a campanha eleitoral para atacar Hillary Clinton.

"A China e a Rússia desafiam o poder, a influência e os interesses americanos, e tentam desgastar a segurança e a prosperidade da América. Estão determinados a fazer com que as economias sejam menos livres e menos justas, a fazer crescer os seus exércitos e a controlar informação para reprimir as suas sociedades e expandir a sua influência", lê-se na nova estratégia de segurança nacional norte-americana, numa passagem que aponta para as acusações de ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 – acusações feitas pelas várias agências de serviços secretos dos Estados Unidos mas que nunca foram aceites sem reservas pelo Presidente Donald Trump.

Do lado da China a resposta foi igualmente crítica, com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, a incitar os Estados Unidos a abandonarem a "mentalidade da Guerra Fria".

"Pedimos aos Estados Unidos que deixem de distorcer os interesses estratégicos da China e que abandonem o 'jogo de soma zero' e a mentalidade da Guerra Fria", disse Hua Chunying, numa conferência de imprensa em Pequim. O responsável disse que os interesses chineses não justificam medidas mais agressivas por parte de Washington, já que a China "contribui e protege a ordem internacional" num caminho que diz ser de "desenvolvimento pacífico".

As palavras mas directas ficaram para o editorial desta terça-feira da edição em língua inglesa do diário chinês Global Times: "A recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional reflecte a relutância de Washington em aceitar a ascensão da China. Mas não pode exercer controlo sobre a China, devido ao seu colossal volume económico. A ansiedade de Washington tem raízes muito profundas no crescimento da China e no consequente extravasamento da sua influência."

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