Os "Zuptas" tomaram a África do Sul

Os anos da presidência de Zuma ficaram marcados por níveis de corrupção sem precedentes. As relações entre o Presidente e uma família de empresários estão agora sob escrutínio intenso.

A expressão “captura do Estado” tornou-se num dos principais temas de discussão entre os sul-africanos no último ano,e ao mesmo tempo tem alimentado os pesadelos do Presidente Jacob Zuma. Este foi o título de um controverso relatório publicado no ano passado, elaborado pela defensora pública, Thuli Madonsela, uma figura semelhante ao provedor de justiça, mas que na África do Sul goza de uma elevada protecção constitucional.

A investigação trouxe a público as relações entre Zuma e os Gupta – três irmãos empresários de origem indiana radicados na África do Sul. Os Gupta acreditaram em Zuma desde o início, quando este lançou uma improvável candidatura à liderança do Congresso Nacional Africano em 2007, ganhando ao Presidente em funções, Thabo Mbeki.

Desde então, empresas ligadas aos Gupta desenvolveram uma ligação umbilical com o Estado, sobretudo através da concessão de contratos públicos, sobretudo no poderoso sector mineiro – a África do Sul é o principal produtor de ouro, platina e crómio. Os laços entre as duas famílias são tão próximos que na África do Sul são conhecidos como os “Zuptas”.

Os empresários deram trabalho à mulher e a uma filha de Zuma e suspeita-se que terão financiado o casamento de Duduzane Zuma, um dos filhos do Presidente que também é membro do conselho de administração de várias empresas do grupo Gupta.

Segundo os cálculos do ex-ministro das Finanças, Pravin Gordhan, a “captura do Estado” pelos Gupta terá custado entre 150 e 200 mil milhões de rands (nove e 12 mil milhões de euros) aos cofres públicos. “Eles compraram um país para si próprios e um Presidente que janta com eles e segue as suas instruções”, disse à BBC Julius Malema, líder do partido da oposição Combatentes pela Liberdade Económica.

Para além dos benefícios na concessão de contratos, os Gupta passaram também a exercer uma influência inédita na orientação política dos governos de Zuma. O ex-ministro-adjunto das Finanças, Mcebisi Jonas, veio a público testemunhar que, numa reunião em que estavam presentes Duduzane Zuma e um dos irmãos Gupta, lhe foi oferecido o cargo de ministro e uma pasta com 600 mil rands (37 mil euros).

No seu relatório, cuja publicação Zuma tentou evitar, a defensora pública recomendou a abertura de uma investigação judicial às relações entre o Presidente e os Gupta. Zuma tenta travá-la, mas o Supremo Tribunal ordenou esta semana que seja formada uma comissão para iniciar o inquérito. O Presidente ainda recorreu da sentença.

Mas as contas de Zuma com a justiça não se resumem aos Gupta. O Presidente é acusado em 783 casos de corrupção, que acompanham praticamente toda a sua vida pública. Um dos casos que mais chocou os sul-africanos foi a alegada utilização de dinheiro público para financiar obras na casa particular de Zuma.

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