Banco de Portugal mais optimista, mas preocupado com potencial de crescimento
Banco central revê previsões de crescimento em alta, com exportações e investimento como principais dinamizadores. No entanto, tendência será de abrandamento, à medida que a economia atinge o seu produto potencial
O Banco de Portugal está cada vez mais confiante na capacidade da economia portuguesa de continuar, durante os próximos anos, a registar taxas de crescimento ligeiramente acima da média europeia sem voltar a agravar os níveis de endividamento e, esta sexta-feira, reviu em alta as suas estimativas de crescimento para este ano. Ainda assim, o banco liderado por Carlos Costa aponta para que a tendência entre 2018 e 2020 seja de abrandamento, com a economia portuguesa a ser limitada pelo nível relativamente baixo do seu crescimento potencial.
No boletim económico agora divulgado, o Banco de Portugal estima que a economia portuguesa registe um crescimento de 2,6% durante este ano, uma ligeira revisão em alta face aos 2,5% antecipados pela autoridade monetária no passado mês de Outubro. Este resultado fica assim em linha com o valor projectado para este ano, tanto pelo Governo, como por instituições como a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em relação aos anos seguintes, o banco central aponta agora para um crescimento de 2,3% em 2018 e de 1,9% em 2019, quando no boletim económico de Junho tinha projectado variações do PIB para esses anos de 2% e 1,8% respectivamente. Para 2020, o Banco de Portugal apresenta pela primeira vez uma previsão, apontando para um crescimento de 1,7%.
A confirmarem-se estas taxas de crescimento, Portugal concretiza uma recuperação do produto perdido durante a crise. De acordo com as contas do Banco de Portugal, a economia atingiria, em 2020, um nível 4% superior ao registado antes da crise financeira internacional iniciada em 2007/2008.
E, muito importante, fá-lo conseguindo manter uma posição equilibrada face ao exterior. O Banco de Portugal aponta para que o país registe, durante todo o horizonte de previsão, saldos da balança com o exterior positivos, não se verificando assim a tendência registada em anteriores episódios de recuperação da economia de agravamento do endividamento externo.
Desta vez, acredita o Banco de Portugal, o crescimento será conseguido sempre com contributos significativos das exportações, que apresentarão taxas de crescimento elevadas e próximas das importações. O Banco de Portugal assume que a conjuntura externa irá manter-se positiva e que Portugal será capaz de aproveitá-la, registando mesmo um aumento da quota de mercado das suas exportações. A este nível, as receitas com o turismo continuarão, diz o banco, a desempenhar um papel importante.
De acordo com os cálculos apresentados no boletim económico, "as exportações deverão atingir um nível 68% superior ao registado em 2008". Com o consumo privado a crescer abaixo da taxa de variação do PIB, o outro grande motor do crescimento em Portugal será o investimento. O banco central aponta para que, depois de um crescimento de 8,3% este ano, o investimento suba a um ritmo anual próximo dos 6% nos anos seguintes, confirmando-se como a "componente mais dinâmica" da recuperação da economia. Ainda assim, assinala o Banco de Portugal, este indicador chegará a 2020 com valores ainda 11% abaixo dos registados em 2008, antes da crise financeira internacional.
A par do crescimento da economia, espera-se que continue a ocorrer uma melhoria das condições no mercado de trabalho. As projecções do Banco de Portugal apontam para que o emprego continue a crescer nos próximos três anos, a taxas ligeiramente mais baixas do que as da economia, e antecipa que a taxa de desemprego prolongue a sua trajectória decrescente. Depois de 8,9% em 2017, este indicador deverá cair para 7,8% em 2018, para 6,7% em 2019 e para 6,1% em 2020.
Abrandamento progressivo
Ainda assim, neste cenário em que se projecta a manutenção de um padrão saudável de crescimento na economia portuguesa, baseado no bom desempenho de exportações e investimento, não deixa de ser significativo o facto de o Banco de Portugal estar a antecipar que a variação do PIB de 2,6% estimada para este ano acabe por ser o pico do actual ciclo de crescimento. Para os anos seguintes, o que se projecta é um progressivo abrandamento.
Isto acontece porque o Banco de Portugal continua a apontar para um valor do crescimento potencial da economia que fica abaixo do crescimento efectivamente registado este ano. Numa análise em que assinala as dificuldades de efectuar cálculos precisos do produto potencial, o Banco de Portugal regista ainda assim que, de acordo com as diferentes metodologias que se podem utilizar, "a economia portuguesa estará a crescer acima do seu crescimento potencial em 2017" e que se regista "uma aproximação do nível do PIB face ao nível do produto potencial, esvaziando-se progressivamente o hiato negativo verificado nos últimos anos".
Com um crescimento potencial, de acordo com as diferentes metodologias, num intervalo situado entre 0% e 2% (contra um intervalo entre 2% e 4% no início do século), torna-se difícil à economia portuguesa repetir ou superar taxas de crescimento de 2,6% como as registadas este ano.
Para o banco, a solução terá de passar necessariamente por aplicar políticas que conduzam a um aumento do crescimento potencial, nomeadamente as que permitam reforçar as qualificações da população ou que incentivem um processo de "destruição criativa" na economia em que as empresas e sectores menos produtivos são substituídos.
Aumentar o produto potencial, no entanto, não será fácil tendo em conta as tendências negativas a nível demográfico (como o envelhecimento da população) e o impacto negativo que a mais recente crise económica teve em factores decisivos como a população activa ou o investimento, com efeitos de longo prazo negativo no potencial de crescimento da economia portuguesa.