Comandos dos Bombeiros estranham que apenas comandantes sejam chamados a tribunal

Um dos representantes da Associação dos Comandos dos Bombeiros disse que os bombeiros "estão a ser esquecidos e a ser colocados como se fossem um bode expiatório de todas estas situações".

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O comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande está a ser ouvido no DIAP Daniel Rocha

Um representante da Associação dos Comandos dos Bombeiros Portugueses, Jorge Mendes, disse esta terça-feira estranhar que apenas os comandantes estejam a ser chamados para responder em tribunal no âmbito do inquérito ao incêndio de Pedrógão Grande.

"O que acho muito estranho é começar-se pela estrutura de baixo. Os bombeiros têm uma estrutura de comando, estão inseridos na Protecção Civil e existe protecção civil local, municipal e nacional. Porquê os bombeiros? Porque não perguntar por que é que a protecção civil não tinha os planos municipais activos ou por que é que a protecção civil não planeou ou coordenou a situação convenientemente?", referiu Jorge Mendes, que está no Tribunal de Leiria a apoiar o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, que está a ser ouvido no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

O dirigente acrescentou que "os bombeiros vão responder e esclarecer todas essas situações", mas admitiu que a "ideia que transparece" é que as outras estruturas "estão a ser poupadas". Segundo Jorge Mendes, "nos últimos dias tem-se verificado um ataque aos bombeiros". Além disso, "quando corre muito bem, a Autoridade Nacional de Protecção Civil e a Proteção Civil local dizem que foram os operacionais que estiveram no terreno". Já "quando alguma coisa corre mal, são os bombeiros", mas que "são os mesmos".

"A minha associação sente que os bombeiros estão a ser atacados e muito calmamente. Isto vai ter um fim e já é visível. Quando olhamos para a estrutura de protecção civil e não vemos no comando nenhum bombeiro, alguma coisa está a falhar", referiu o dirigente. O fim, explicou, "é o ataque aos bombeiros para que percam a intervenção que tiveram nestes últimos 600 anos".

Jorge Mendes disse ainda que "o comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, esteve no início do incêndio" e estando a ser agora ouvido merece o "apoio" e a "solidariedade" da associação. Jorge Mendes lembrou que o incêndio de Pedrógão Grande "foi desagradável" para Augusto Arnaut, como para todos os bombeiros. "É uma tragédia, mas nós não podíamos abandonar um dos nossos. Sentimos que [bombeiros] estão a ser esquecidos e a ser colocados como se fossem um bode expiatório de todas estas situações".

Garantindo que o objectivo "não é branquear a verdade" e que "tem que se apurar as responsabilidades até por respeito aos que já partiram e aos que cá ficaram", Jorge Mendes salientou que "não se pode esquecer" que "os bombeiros fazem 365 dias por ano a trabalhar exaustivamente". "Têm os seus comandantes com as suas limitações, com a falta de material e neste momento está-se constantemente a atacar os bombeiros e os comandantes, o que para nós é estranho".

Sobre o facto de Mário Cerol, segundo comandante distrital de Leiria, ter sido constituído arguido, Jorge Mendes considera "normal", "até para as pessoas terem hipótese de se defenderem nos locais certos". Mário Cerol, que será o primeiro arguido deste inquérito, disse que foi ouvido na semana passada pelo Ministério Público. "Não posso falar mais nada", referiu à Lusa.

O incêndio que deflagrou em 17 de Junho em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, atingindo vários concelhos vizinhos, esteve activo uma semana e causou, segundo o balanço oficial, 64 mortos e mais de 200 feridos. Registou-se ainda o atropelamento mortal de uma mulher que fugia das chamas e, já em Novembro, morreu uma outra mulher que estava internada com ferimentos graves.