Donald Trump vai à Lua com os olhos em Marte

O presidente dos Estados Unidos assinou esta segunda-feira a primeira directiva sobre política espacial da sua Administração. O plano é levar astronautas norte-americanos à Lua.

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Donald Trump mostra um astronauta brinquedo esta segunda-feira na Casa Branca Carlos Barria/Reuters

Pode-se dizer que o regresso dos norte-americanos à Lua começou esta segunda-feira, de certa forma. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acabou de assinar a “Directiva de Política Espacial 1”, que tem o objectivo enviar os norte-americanos ao nosso satélite natural e criar aí os alicerces para um dia se chegar a Marte. Contudo, não foram avançadas quaisquer datas para a altura em que os norte-americanos vão pisar a Lua ou Marte.

O dia do anúncio de Donald Trump era simbólico: afinal, a última missão tripulada ao nosso satélite natural foi há precisamente 45 anos. A 11 de Dezembro de 1972, o módulo de aterragem da missão Apolo 17 alunou pela última vez. Agora, na sala Roosevelt, na Casa Branca, Trump rodeou-se de membros do Congresso e pelo seu braço-direito e vice-Presidente Mike Pence para assinar então a sua primeira directiva sobre política espacial, para que os astronautas norte-americanos voltem à Lua e um dia cheguem também a Marte.

Como tal, o habitual cenário na Casa Branca também estava composto pela astronauta Peggy Whitson, que Donald Trump fez questão de apresentar. “A Peggy veio recentemente da Estação Espacial Internacional e que já passou [no total] uns incríveis 665 dias no espaço”, disse sobre a astronauta, acrescentando que esteve mais dias no espaço do que qualquer outro norte-americano ou mulher. Naquela sala, esteve ainda Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar a Lua, em 1969, e ainda Harrison Schmitt, ou “Jack” Schmitt, o último norte-americano na Lua. “Jack foi o último norte-americano na Lua. Hoje tenho o prazer de anunciar que não será o último. Suspeito que teremos outros sítios para aterrar além da Lua. O que pensas disto, Jack? Onde está o Jack?” O Presidente dos Estados Unidos virou-se para trás, lá estava “Jack” e cumprimentaram-se.

Depois, falou do documento que iria assinar: “Isto marca um passo importante para o retorno dos astronautas norte-americanos à Lua pela primeira vez desde 1972, para uma exploração de longa duração e usaremos este tempo para estabelecer os alicerces de uma missão a Marte, que vai acabar por acontecer.” E ainda fez notar: “Esta directiva irá garantir um programa espacial para os Estados Unidos, mais uma vez, liderem e inspirem toda a humanidade.”

E referiu o que pode surgir deste tipo de missões, como aplicações militares. “O espírito pioneiro sempre inspirou a América”, disse sobre os “pais fundadores da nação”. “Hoje o mesmo espírito pioneiro está de novo para começar novas viagens de exploração e descoberta, para que levantemos os nossos olhos para o céu e imaginemos, mais uma vez, as possibilidades que nos esperam nessas lindas estrelas grandes se nos atravessemos a sonhar, e nós sonhamos em grande. É isso que o nosso país está a fazer outra vez: sonhar em grande.” E rematou: “É uma forma de inspirar o futuro e deixar a América orgulhosa.”

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Donald Trump com a primeira directiva sobre política espacial da sua Administração REUTERS/Carlos Barria

A seguir Mike Pence teve a palavra. “Todos sabem que estabelecer a nossa presença na Lua é vital”, disse o vice-Presidente, referindo os benefícios dessa presença, desde a segurança nacional, passando pela defesa e a criação de emprego. “O que fizemos hoje tem uma visão clara do retorno da América à Lua, preparando-nos depois para Marte e mais além”, ambicionou. “ A América irá liderar uma vez mais no futuro e nas gerações que virão.”

Depois, a esperada assinatura. Tiraram-se fotografias a Donald Trump e à “famosa” directiva. Mas o final compôs-se com um presente que “Jack” Schmitt ofereceu a Donald Trump: brinquedo em forma de astronauta.

Este novo passo da Casa Branca não é uma surpresa e a ideia já remota a 2016, em plena campanha eleitoral de Donald Trump para a Presidência dos EUA. Tanto o actual Presidente dos Estados Unidos como o vice-Presidente Mike Pence tinham deixado bem claro que queriam que os astronautas norte-americanos voltassem à Lua. No Centro Espacial Kennedy, da NASA, na Florida, Donald Trump tinha prometido mesmo mudar as restrições da agência espacial norte-americana para que não fosse apenas uma agência logística para actividades em baixa órbita da Terra. “Com a Administração Trump, a Florida e os Estados Unidos vão liderar o caminho para as estrelas”, disse na altura.

A iniciativa desta segunda-feira é já baseada nas recomendações do Conselho Nacional do Espaço, que se realizou em Outubro último. Criado em 1989, este conselho faz parte do gabinete do Presidente dos Estados Unidos e tinha sido dissolvido em 1993. O conselho foi agora reactivado e a reunião de Outubro foi presidida por Mike Pence, vice-Presidente dos EUA. Logo nessa altura, Mike Pence voltou a mostrar o interesse da Administração de Donald Trump pelo regresso à Lua: “Iremos fazer com que os astronautas norte-americanos regressem à Lua, não apenas para deixarem pegadas e bandeiras atrás de si, mas para construir os alicerces que precisamos para enviar norte-americanos para Marte e mais além.”

Na altura do conselho, o vice-Presidente não apontou datas, apenas pediu à NASA para fornecer um relatório em 45 dias com planos para levar a cabo as missões. “O conselho vai precisar de toda a equipa da NASA para trabalhar com o Gabinete de Gestão e do Orçamento [da Casa Branca] para recomendar ao Presidente um plano para cumprir essa política”, afirmou. Robert Lightfoot, administrador interino da NASA, disse que já tinha havido uma versão preliminar do relatório, mas que iriam continuar a trabalhar nele.

Obama tinha outros planos

Já em Março, Donald Trump tinha assinado legislação bastante abrangente relativa à NASA, aprovada antes no Congresso dos Estados Unidos, para que o país permanecesse “na vanguarda da exploração e da descoberta”, como se lê num comunicado da Casa Branca. O financiamento aprovado foi de cerca de 19.000 milhões de dólares (cerca de 16.000 milhões de euros) e tinha como objectivo a exploração humana do espaço e o investimento em projectos científicos. 

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Amostra de rocha lunar trazida pela missão Apolo 17 NASA

Ainda no Conselho Nacional do Espaço, Mike Pence descreveu o programa espacial dos Estados Unidos como estando “em declínio” e lançou críticas à Administração de Barack Obama. “Em vez de competir com as outras nações para criar uma melhor tecnologia espacial, a Administração anterior escolheu a capitulação”, afirmou.

O antecessor de Barack Obama, George W. Bush, tinha anunciado em 2003 a reforma antecipada dos vaivéns espaciais (em 2010, em vez de 2020) para libertar dinheiro para um regresso de astronautas à Lua até 2020. Barack Obama recuou nesses planos concretos, mas apoiou – e foi isso que a NASA tem vindo a fazer – de que o sector privado, em conjunto com a agência espacial norte-americana, desenvolvesse um foguetão e uma cápsula que fossem capazes de transportar astronautas para lá da órbita da Terra (talvez até à Lua e a Marte), bem como missões robóticas. 

A primeira vez que pisámos (quer dizer, os norte-americanos) o solo da Lua foi 21 de Julho de 1969, quando o astronauta Neil Armstrong (1930-2012), seguido por Buzz Aldrin, desceu as escadas do módulo de aterragem da missão Apolo 11 e pisou a Lua. E depois das palavras mais do que famosas de Neil Armstrong assim que descia do módulo lunar (“é um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a humanidade”), Buzz Aldrin descreveu a paisagem lunar como “uma desolação magnífica”. Ao todo, as seis missões Apolo levaram 12 homens à Lua, entre 1969 e 1972. Será que é mesmo desta vez que os norte-americanos voltam a pôr os pés na Lua que nos ilumina as noites, agora com os olhos em Marte?

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