Michael Flynn pronto a testemunhar contra Trump
O ex-conselheiro de Segurança Nacional deu-se como culpado de mentir ao FBI sobre contactos com o embaixador da Rússia em Washington e está a colaborar com o investigador especial sobre a interferência de Moscovo nas eleições dos EUA.
Michael Flynn, o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, declarou-se culpado em tribunal de ter mentido ao FBI acerca dos seus contactos com o embaixador russo em Washington para discutir as sanções impostas pelos Estados Unidos a Moscovo. E está disposto a testemunhar que foi o Presidente que o mandatou para fazer estes contactos, dizem procuradores que trabalham com Robert Mueller.
O Gabinete de Robert Mueller, investigador especial nomeado pelo Departamento de Justiça para apurar se houve interferência da Rússia nas presidenciais de 2016, acusou Flynn de ter feito “declarações falsas e fraudulentas” ao FBI “de forma intencional e consciente”, lê-se na acusação. Mentir ao FBI é um crime punível com uma pena que pode ir até cinco anos de prisão, diz o New York Times.
Flynn é o primeiro elemento ou ex-responsável da Casa Branca - da Administração de Trump - a ser acusado na investigação de Mueller, e esta é a quarta acusação a pessoas relacionadas com a campanha que levou o empresário nova-iorquino à presidência dos Estados Unidos.
"É muito mais grave que Flynn se dê como culpado do que as acusações formuladas contra Paul Manafort, que durante algum tempo geriu a campanha de Trump, ou o facto de George Papadopoulos ter-se dado como culpado de ter tido interacções com agentes estrangeiros", analisa o editor da CNN Chris Cillizza. Ao contrário destas figuras, já acusadas por Mueller, "Flynn estava no epicentro absoluto do mundo Trump".
A ABC News está a avançar que Michael Flynn se comprometeu a colaborar com Mueller e a testemunhar contra Donald Trump, declarando que foi o Presidente que lhe deu a ordem para contactar com os russos.
Quem é o alvo?
Mas o alvo talvez não seja directamente o Presidente. Mueller pode estar a querer chegar a Jared Kushner, por exemplo, genro de Donald Trump, cujos contactos com o embaixador russo estão ainda envoltos em mistério, assim como o papel que terá desempenhado no despedimento do director do FBI James Comey, comenta ainda Chris Cillizza. Ou então Donald Trump Jr., o filho mais velho do Presidente, que participou com Kushner num encontro na Trump Tower com vários russos.
O facto de estar a dar-se como culpado, colaborando com Mueller, poderá ter a ver com o facto de o seu filho, Michael Flynn Jr., ter começado também a ser alvo da atenção do investigador especial, diz a CNN. O filho do ex-general era seu chefe de gabinete e assessor principal na empresa de serviços de informação e segurança que montou após ter-se reformado, com vastos negócios em vários países.
O general Michael Flynn teve uma passagem polémica pelo serviço de informações militares, que dirigiu entre 2012 e 2014 – foi nomeado pelo Presidente Barack Obama e por ele afastado. Reformou-se em 2014 e, na sua vida civil, com a empresa Intel Group, tinha contactos e negócios com a Rússia, a Turquia e outros países.
Tornou-se um importante conselheiro de Donald Trump durante a campanha para as eleições presidenciais, defendendo ideias polémicas sobre os muçulmanos – considerava o “islão radical uma ameaça existencial contra os EUA” e o islão em geral como “um cancro”. Sobre a candidata democrata Hillary Clinton, não hesitou em juntar-se aos cânticos de “prendam-na, prendam-na”, num comício.
"Só se implica a si"
A Casa Branca reagiu, num comunicado do advogado Ty Cobb, em que diz que "nada na declaração de culpa implica mais ninguém além do sr. Flynn". E mais, a confissão de culpa de Flynn "abre caminho para uma rápida e razoável conclusão" do trabalho do investigador especial Robert Mueller. Algo muito desejado por Donald Trump, que feito intenso lobbying junto de congressistas para acabar com a missão de Mueller, e pressionado intensamente o seu Attorney General (uma mistura de ministro da Justiça com Procurador Geral), Jeff Sessions, no mesmo sentido.
Michael Flynn só foi conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump durante cerca de um mês, de 20 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 2017, quando foi forçado a demitir-se depois de ter surgido a informação que enganou o vice-presidente Mike Pence sobre a natureza e conteúdo dos seus contactos com o ex-embaixador russo nos EUA, Sergei Kisliak.
As sanções à Rússia foram impostas pelo Presidente Barack Obama, no final de Dezembro, como resposta às alegações dos serviços secretos de que o Kremlin orquestrou uma campanha para interferir nas eleições presidenciais, de forma a favorecer a candidatura de Trump.
O Presidente eleito dos EUA foi então muito crítico da decisão de Obama aplicar sanções à Rússia – que incluíram a expulsão de 35 agentes dos serviços de informação. A repercussão chegou mais tarde, já este ano, com a expulsão de pessoal da embaixada norte-americana em Moscovo.
Trump fez várias referências ao papel que Moscovo poderia ter na "luta contra o terrorismo" ao lado dos EUA, ecoando posições do Presidente russo, Vladimir Putin, que enquadrou da mesma forma a intervenção russa na Síria.
Mueller investigou também o eventual envolvimento de Flynn num plano para raptar o líder religioso muçulmano turco Fethullah Gülen, que há muitos anos vive na Pensilvânia, nos EUA, e que se tornou num inimigo para o Presidente turco Recep Erdogan, quando anteriormente era um aliado. Agora é considerado um terrorista, e acusado de estar por trás da tentativa de golpe de Estado de Julho de 2016. Em troca, avançou o Wall Street Journal, receberia milhões de dólares.
A acusação diz também que Flynn fez "omissões e declarações materialmente falsas" sobre os trabalho da sua empresa com o Governo turco, relata a Reuters.