OMS: A luta contra a malária perdeu força

Aumentaram os casos entre 2015 e 2016, diminui o investimento. A Organização Mundial da Saúde, no seu relatório anual sobre a doença, espera que os novos dados sirvam de “despertar” o mundo.

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Mosquito que transmite a malária James Gathany

O progresso na luta mundial contra a malária estagnou. O financiamento, que se mantém praticamente inalterado desde 2010, e a ideia de que a doença transmitida pelos mosquitos seja uma ameaça menor, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta quarta-feira. Para 2016, o relatório anual indica que cerca de 216 milhões de pessoas foram infectadas, mais cinco milhões do que em 2015.

O Relatório Anual sobre a Malária, da responsabilidade da OMS, mostra ainda que o número de mortes causadas pela doença não sofreu grandes alterações. A malária matou 445 mil pessoas, sendo a grande maioria das mortes registadas em crianças com menos de cinco anos, nas regiões mais pobres da África subsariana.

Em relação ao financiamento, também praticamente estagnado desde 2010, houve um decréscimo em relação a 2015. O esforço económico no controlo e na erradicação da doença atingiu os 2300 milhões de euros em todo o mundo, algo que a OMS crê ser insuficiente para atingir as metas previstas para 2030. A OMS adianta que, até 2020, será necessário um investimento mínimo anual de mais de 5000 milhões de euros, por forma a reduzir a mortalidade em 75% e o número de casos registados em 60%, de acordo com a proposta de controlo que estabelece os objectivos para 2030.

A preocupação cresce quando analisamos os países onde o risco de ser infectado é maior. O relatório sublinha que há uma quebra nas despesas destes países, com apenas 1,69 euros investidos por cada pessoa em risco.

Abdisalan Noor, especialista da OMS em malária e um dos autores do relatório, apresentou uma visão pessimista do progresso no combate à doença, afirmando à agência Reuters, que “depois de um período de sucesso sem precedentes, não estamos a fazer progressos”. À preocupação com a complacência face à doença, Pedro Alonso, director do programa mundial da OMS para a malária, espera que estes dados sirvam para um novo despertar. “Não estamos no caminho certo, precisamos de voltar a colocar-nos em rota”, disse Pedro Alonso.

Apesar de tudo, em 2016, houve 44 países a reportar menos de dez mil casos de malária, continuando a Europa a ser uma região livre da doença. Em Portugal, que desde 1959 não tem malária autóctone, registou-se um aumento do número de casos em 2015 – como tinha sido anunciado em Maio –, com cerca de 194 pessoas infectadas com malária oriunda de outros países.

Fora da Europa, houve dois novos países “consagrados” como livres da doença: o Quirguistão e o Sri Lanka. Registaram-se ainda 21 países com possibilidades de erradicar a malária até 2020, bem como cinco países que tiveram cada um deles uma diminuição de mais de 150 mil casos – como Madagáscar, com menos 856 mil casos registados. Os problemas nos países com maior incidência da doença continuam a ser as insuficientes redes mosquiteiras e a falta de acesso aos cuidados de saúde (cerca de um terço das crianças africanas com febre não têm acesso a um serviço público de saúde).

Texto editado por Teresa Firmino

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