Museu Mercedes-Benz, onde o futuro tem raízes no passado
É um dos locais de visita obrigatória em Estugarda. Num futurístico edifício, estão condensados 125 anos da história da Mercedes-Benz e, logo, do automóvel. Sem esquecer visões do futuro, potentes máquinas e viaturas de celebridades.
Impressionante. É essa a primeira sensação que nos perpassa ainda no exterior do edifício do Museu da Mercedes-Benz, em Estugarda, cidade-sede do fabricante alemão. Inaugurado em Maio de 2006, o espaço, em pouco mais de uma década, foi visitado por mais de oito milhões de pessoas. Prova de que não é só uma simples mostra de carros. Aqui, tendo como pano de fundo os modelos da Mercedes-Benz, está documentada parte da história da humanidade desde a criação das “primeiras viaturas de propulsão própria”, em 1886, até hoje.
“O futuro tem as suas raízes no passado” é o lema deste museu, que, nos 16.500m2 dos seus nove níveis, apresenta 160 veículos e mais de 1500 peças, expostas numa viagem que nos convida a palmilhar entre 1,5 e 5 quilómetros, dependendo do percurso escolhido (Legend ou Collection, cujos caminhos se entrelaçam numa dupla hélice). Mas o melhor mesmo é não escolher e deixarmo-nos guiar primeiro pela "Lenda", depois pela "Colecção".
Arrancamos, assim, rumo ao primeiro espaço, onde se recordam as primeiras aceleradelas motorizadas com os Pioneiros e a Invenção do Automóvel (1886 a 1900). Aqui, para além dos primeiros veículos automóveis, há vitrinas com maquetas que reproduzem cenas do quotidiano, antes e imediatamente a seguir ao surgimento dos primeiros carros. Partimos a seguir para o espaço Mercedes – O Nascimento da Marca (1900 a 1914), para testemunhar a história que uniu Gottlieb Daimler e Karl Benz, dois inventores, que, antes disso, tinham criado em empresas diferentes os primeiros automóveis no longínquo ano de 1886.
O percursor foi Karl Benz, em Janeiro desse mesmo ano, com o lançamento do Patent-Motorwagen, um veículo com motor monocilíndrico de 954cc e 0,75cv que atingia uma “estonteante” velocidade de 16 km/h. Uma curiosidade que acabaria por entrar para os anais da história do automóvel, mas também do feminismo foi o facto de ter sido a mulher de Karl, Bertha Benz, a primeira pessoa a conduzir um carro numa distância longa. A 12 de Agosto de 1888, Bertha saiu às escondidas com o carro inventado por Karl para fazer um teste de resistência. Com ela levou os seus dois filhos adolescentes numa viagem de 180km entre Frankfurt am Main e Baden-Baden para visitar familiares. O combustível era ligroína (benzina) vendida nas farmácias e a aventura durou cerca de 12 horas.
Benz, Daimler e a Mercedes
Enquanto a marca Benz não sofreu alterações, para Daimler o caminho foi mais tortuoso, ainda que tenha dado frutos. Sobretudo depois de, em 1899, Emil Jellinek, um político e empresário, entusiasta dos novos automóveis, ter pedido à Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) que fabricasse bólides mais potentes, com 8cv e 40 km/h de velocidade máxima, tendo participado com estes em corridas com o pseudónimo “Mercedes”, o nome da sua filha, então com 10 anos. Ao desenvolvimento destes carros está ainda ligado Wilhelm Maybach, outro dos pioneiros da indústria automóvel, que, como director técnico da DMG, e juntamente com Daimler, criou o primeiro motor de quatro tempos. Em Abril de 1900, a DMG e Jellinek celebraram um acordo relativo à venda e distribuição de carros e motores Daimler e para o desenvolvimento de um novo motor Daimler-Mercedes. A marca foi registada em 1902 e produtos DMG apareceram com a nova marca Mercedes. A estrela de 3 pontas — simbolizando três dos quatro elementos primordiais: terra, água e ar (já que o fogo estaria dentro do capot) — foi criada em 1909.
Segue-se o espaço Tempos de Mudança – Diesel e Sobrealimentação, num período que vai desde o início da I Guerra ao fim da II Guerra, no qual há um evento que se destaca: a fusão das duas fábricas mais antigas de motores, a DMG e a Benz & Cie, na Daimler Benz AG, em Junho de 1926. Uma nova marca nascia, na qual estava incorporada a estrela de três pontas ao centro de um círculo, debruado com o nome Mercedes-Benz cercado por uma grinalda de louros.
A história prossegue pel' O Milagre do Pós-Guerra (1945 a 1960), para nos espaços seguintes se descobrirem Visionários – Segurança e Ambiente (1960 a 1982) e o Novo Começo – A Via para uma Mobilidade sem Emissões, que se vive na actualidade. A viagem (esta, mas também a de quem percorre o traçado Collection, composta por cinco galerias: Viajantes, Transportadores,Veículos de Auxílio, Celebridades e My Mercedes-Benz/exposição especial) termina com Flechas de Prata – Corridas e Recordes.
Flechas de Prata
Nesta sétima ala, numa ampla e inclinada curva que se transforma gradualmente numa parede vertical, estão expostos alguns dos bólides mais marcantes dos anais da competição automóvel da Mercedes-Benz, como os monolugares de Juan Manuel Fangio e Stirling Moss, bem como o famoso Flecha de Prata de 1934, cuja história lhe deu direito a lugar de destaque neste museu.
No início da competição automóvel, antes ainda do aparecimento das escuderias, os carros de cada país tinham uma cor característica: vermelho para Itália; azul para França; branco para Alemanha... Em 1934, foi estabelecido um peso máximo de 750kg para os veículos que competiam nos Grand Prix. Na pesagem do novo Mercedes-Benz W25, antes da corrida no circuito alemão de Nürburgring, verificou-se que tinha 751kg. A solução foi remover a pintura branca para cumprir com o limite, ficando o veículo com um visual prateado. Ao volante desse monolugar de 350cv, o piloto Von Brauchitsch ganhou a corrida e o bólide foi baptizado Flecha de Prata, nome adoptado por versões subsequentes desse carro de corridas. Aqui, destaque ainda para o Mercedes W125 de 1938 que, numa estrada pública, atingiu 432,7 km/h – em 40 anos os progressos tinham sido vertiginosos!
Mas, pelo Museu Mercedes-Benz, há histórias a cada virar de esquina e que vão para lá dos carros apresentados. Como a invenção dos espelhos retrovisores, feito que se deve a Dorothy Lewitt, uma inglesa piloto de carros de corrida, que, num livro escrito em 1906, sugeria que os condutores deviam levar um espelho para poderem ver o que se passava atrás do veículo. Outra é a da invenção das portas com abertura em asas de gaivota que, ao contrário do que se poderá supor, não se deve a uma qualquer concepção estética. Trata-se apenas da solução encontrada para criar entradas sem comprometer a solidez do carro em causa que, sendo um desportivo, apresentava uma estrutura inteiriça — as portas a abrir para cima permitiram não afectar a construção do chassis.
Depois há, claro, os fait-divers, como aquele que recorda o curto período em que a então princesa Diana usava um Mercedes-Benz como veículo oficial. As críticas duras acabariam por obrigá-la a render-se a um modelo britânico. E, claro, há carros de celebridades para todos os gostos: desde um Papamóvel, o carro de Guilherme II, o último imperador alemão e rei da Prússia, o japonês Hirohito, entre muitos, muitos outros. Por isso, o ideal é ir com tempo e descobrir como estas histórias todas juntas começam a desenhar o futuro da mobilidade.
Museu Mercedes-Benz
http://www.mercedes-benz.com/museum
Informações: +49 711-1730000; classic@daimler.com
Morada: Mercedesstrasse 100 70372 Stuttgard, Alemanha
Horário: De 3.ª a dom., das 9h às 18h
Preços: Adultos 10€, jovens até 15 anos e pessoas com 60 e mais anos, 5€
O espaço dispõe de cafetaria, restaurante e loja de recordações. Os mais jovens também merecem atenção especial, existindo uma área para crianças, onde, aos sábados e domingos, se organizam eventos dedicados aos visitantes mais novos.